Neguinho não foi ouvido. O intérprete da Beija-Flor acompanhou o filho Paulo Cesar Marcondes que é pai de Gabriel, e Paulo, irmão mais velho do jovem baleado e morto em um baile funk na madrugada do último domingo no bairro Ambaí, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Questionado se Gabriel havia participado de uma montagem de tenda no baile, Paulo Cesar Marcondes disse apenas que o filho foi participar de uma festa, quando foi alvejado. Gabriel costumava montar este tipo de estrutura e durante o enterro na última segunda-feira, familiares disseram que o jovem estava no baile para montar uma tenda.
"Ele foi participar de uma festa. O que aconteceu no decorrer, ali, a gente não sabe exatamente. Mas vai dar tudo certo. A Polícia está fazendo o trabalho dela. A gente acredita no trabalho da equipe. Acreditamos que o caso vai ser solucionado o mais rápido possível", disse Paulo Cesar Marcondes.
O advogado da família, Márcio Fonseca, disse que Gabriel não estava junto com os demais baleados no baile. "Ele não era amigo e nunca teve envolvimento com o tráfico de drogas", afirmou a defesa.
Questionado se a defesa estaria tentando provar a inocência do jovem, Fonseca disse que a própria polícia está tendo este entendimento. "A própria polícia, acho, está entendendo que ele não tinha envolvimento com o crime. Está investigando", acrescentou.
A Polícia ainda investiga de onde partiu o tiro que matou Gabriel e outros dois jovens. Um quarto homem ficou ferido, mas sobreviveu.
No dia do crime, a PM informou que equipes do 20º BPM (Mesquita) estavam em patrulhamento na localidade quando receberam denúncia sobre um baile funk não autorizado que estaria começando a bloquear via pública.
"Durante deslocamento, os policiais tentaram abordar ocupantes de uma moto na Avenida Henrique Duque Estrada Meyer. Eles fugiram em direção ao evento citado. No local indicado, as equipes foram recebidas por disparos de arma de fogo e ocorreu reação. Após cessar a situação, quatro indivíduos foram encontrados feridos", disse a PM à época.
O delegado responsável pela investigação, Willian Batista, começou a ouvir outro parente de baleado na ocorrência, após o depoimento do pai de Gabriel, nesta quarta-feira.
Antes do depoimento, Neguinho havia se dito descrente com as investigações. Ele temia que a morte do neto não fosse investigada e que Gabriel fosse tido por suspeito por ser negro e estar em um baile funk.
"Eu estou mal. Até agora a ficha não caiu. O garoto foi criado comigo. Não estou com tanta esperança do caso ser resolvido. Vão dizer que estava na hora errada no lugar errado", disse o intérprete.
"Queriam que ele tivesse onde, no Barra Shopping, em Ipanema? Lá ele seria também seria suspeito. 'O que esse criolo da Baixada está fazendo no shopping?', diriam. Qual o lazer de um garoto criado na Baixada, pobre. Nem todo mundo é obrigado a estar na igreja", criticou Neguinho na manhã desta quarta.
Título: Neguinho da Beija-Flor deixa a 58ª DP após filho e neto prestarem depoimento sobre morte de Gabriel Marcondes.#ODia
— Jornal O Dia (@jornalodia) October 21, 2020
Crédito: Beatriz Perez pic.twitter.com/CAEQCUofuV