Pacientes aguardam consulta no Hospital Federal de Bonsucesso - Reginaldo Pimenta / Agência O DIA
Pacientes aguardam consulta no Hospital Federal de BonsucessoReginaldo Pimenta / Agência O DIA
Por Luísa Bertola*
Rio - O Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio, começou a reabrir para atendimento aos pacientes que já estavam com consultas agendadas, nesta quarta-feira, após oito dias fechado, por conta do incêndio que atingiu o prédio 1, no último dia 27. Christiane Gerardo, dirigente do Sindisprev relatou que a retomada e a reabertura do Hospital Federal de Bonsucesso é uma "grande incógnita" e que ainda não há uma política definida.
Ela informou que alguns funcionários da RioSaúde que trabalham na unidade federal estão recebendo emails de transferência para atuarem no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, Zona Norte do Rio. Além disso, segundo ela, ainda circulam informações que funcionários terceirizados estariam sendo demitidos.
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"Essa retomada ainda é uma incógnita, visto que o governo fala uma coisa, enquanto a gente vê um esvaziamento da unidade", falou.
Procurada pelo DIA, s Secretaria Municipal de Saúde informou que determinou à RioSaúde o remanejamento de 186 profissionais do Hospital Federal de Bonsucesso para o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, sob gestão da RioSaúde, onde continuarão a atuar em CTI covid-19 adulto, serviço para o qual foram contratados pela empresa pública de Saúde.
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"Com o remanejamento desses profissionais, serão ativados na semana que vem 30 novos leitos de CTI no Hospital Ronaldo Gazolla, para suprir os do HFB que precisaram fechar devido ao incêndio. Esses funcionários atuavam no atendimento no CTI adulto para covid-19 no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), serviço que era realizado no prédio 1 da unidade e que, devido ao incêndio, teve o funcionamento paralisado, sem previsão de retorno até o momento", disse a pasta.
Christiane ainda alertou para um possível esvaziamento e abandono do hospital, além da transferências dos funcionários da RioSaúde, alguns trabalhadores do grupo de risco que foram demandados para o retorno do trabalho acabaram pedindo a aposentadoria, contratos com terceirizados se encerram em dezembro e há possibilidade de não serem renovados, com isso, ela considera que pode haver uma "destruição" do local.
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"O Hospital Federal de Bonsucesso foi referência no combate ao coronavírus, é um complexo, como uma estrutura dessa fecha?", questionou ela.
Nesta terça-feira também aconteceu uma reunião com o diretor-geral da unidade, na qual foi informado que o prédio 2 da unidade deve voltar a funcionar daqui 15 a 20 dias, onde serão abertas quatro enfermarias para o serviço de cirurgia geral, para a realização de pequenos procedimentos cirúrgicos.
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Christiane ainda ressaltou que o Sindsprev entrará com uma notícia-crime junto ao Ministério Público para responsabilizar o Ministério da Saúde pelas primeiras três mortes que aconteceram decorrentes do incêndio que atingiu o prédio 1 do hospital, no último dia 27. Segundo ela, o Ministério da Saúde tinha ciência desde 2019 sobre a precariedade da instalação elétrica e do sistema de incêndio e nada foi feito em relação, por isso é necessário a responsabilidade pelas mortes.
A integrante do Sindsprev também alertou que foi repassado um total de R$ 1,8 milhão para a unidade, logo, é necessário cobrar explicações do diretor do HFB do que foi feito com todo esse dinheiro.
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Pacientes relatam atendimento
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O morador de Tomás Coelho, na Zona Norte, Luciano Pereira levou a filha de 10 anos para realizar uma consulta de neuropediatria no Hospital Federal de Bonsucesso nesta quarta-feira. A unidade reabriu para atendimento aos pacientes que já estavam com consultas agendadas. Nessa fase, quatro prédios, as unidades 3,4,5 e 6 ficam reabertas para exames, consultas e outros serviços. O prédio atingido pelas chamas deve ser reaberto somente em 2021, após reformas. 
De acordo com ele, a consulta estava marcada para às 12h e chegou com a menina no local por volta das 10h. Ao chegar na unidade, que segundo ele, estava com um movimento fraco, entregou os documentos e o cartão e 20 minutos depois foram chamados para o atendimento.

Luciano relatou que a filha já faz tratamento na unidade há um ano e que a consulta com a médica foi boa e que esse primeiro atendimento após o incêndio foi rápido. Segundo ele, o hospital ficava bem mais cheio antes da pandemia. Apesar do bom atendimento, ele se queixou por não conseguir marcar uma ressonância para a filha, que a neuropediatra pediu.

De acordo com Luciano, antes mesmo do incêndio não era possível marcar. Há mais ou menos dois meses que ele tenta e não consegue marcar porque o hospital informa que "não foi fechado o contrato" com a empresa para a realização dos exames. A marcação só é feita por telefone e não há previsão da unidade federal para iniciar os atendimentos.
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Ele relatou que é necessário ligar uma ou duas vezes por semana para se atualizar sobre a situação e toda vez a resposta é a mesma: "retorna semana que vem".

O morador da Zona Norte contou que "na rede particular é difícil, essa ressonância custa em torno de R$ 2, 3 mil reais" e que a menina não foi encaminhada para realizar o exame em outra unidade pública.

"O exame ia ser feito no prédio que pegou fogo, então acho que esse ano não vai acontecer", lamentou ele. 
*Estagiária sob supervisão de Gustavo Ribeiro