Fernando Iggnácio - REPRODUÇÃO DE VÍDEO
Fernando IggnácioREPRODUÇÃO DE VÍDEO
Por O Dia
Rio - O assassinato do contraventor Fernando Iggnácio, genro de Castor de Andrade, nesta terça-feira, mostra que a guerra pelo controle de pontos de jogo de bicho e máquinas de caça-níqueis no Rio parece não ter fim. Ao longo de décadas, a contravenção deixou um rastro de crimes sem solução.
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O assassinato de Paulinho de Andrade, em 1998 — um ano após a morte do pai, Castor de Andrade —, deu início a uma série de execuções pelo controle de pontos do bicho. Na época, apenas o atirador foi condenado, sem revelar a autoria intelectual do crime.
Fernando Ignácio travou uma luta durante décadas pela herança de Castor de Andrade. Desde a morte de Castor, o filho Paulo Roberto, o sobrinho Rogério de Andrade e o genro travaram uma sangrenta batalha pelo espólio da contravenção, principalmente o das máquinas de caça-níquel.
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O filho de Castor, Paulo Roberto, foi assassinado em 1998, e Rogério de Andrade sofreu três atentados nos últimos anos: em 2017, 2010, e 2001. No atentado de 2010, seu filho Diogo Andrade, de 17 anos, e um segurança morreram. Também por conta de um atentado, teve que passar por uma cirurgia de reconstituição da face.
Já a guerra na família Garcia começou após o assassinato de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, em 2004. Desde então, se iniciou uma disputa pelo controle dos pontos de jogo do bicho no estado do Rio.
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Sete anos depois, a vítima foi seu genro José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal. Na época marido de Shanna, ele era suspeito de ser o responsável pelo controle de máquinas de caça-níqueis na Zona Sul.
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Em 2017, o filho de Maninho e irmão de Shanna, Myro Garcia, foi assassinado ao tentar fugir de sequestradores, após o seu resgate ser pago. O jovem ficou em cárcere privado por dois dias e os criminosos exigiam uma recompensa de R$ 100 mil para libertá-lo.
Em outubro de 2019, a filha do bicheiro Maninho, Shanna Harrouche Garcia, foi baleada na Avenida das Américas, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Segundo a polícia, a vítima foi atingida quando chegava a um centro comercial. O atirador estava em um carro e vinha seguindo Shanna. Quando ela estacionou e saiu do carro no centro comercial, o atirador deu a ré e disparou contra ela.
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Na época, sem apresentar provas, Shanna Garcia disse em entrevista que os homicídios no coração do jogo do bicho, nunca desvendados, expõem uma “polícia corrompida”.
Herdeiros da contravenção
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Waldemir Paes Garcia, conhecido como Maninho, pai de Myro e Shanna, virou um dos bicheiros mais importantes do Rio quando tinha apenas 26 anos. Myro, o filho dele, se acostumou a ir ao colégio e a uma escolinha de futebol acompanhado por seguranças armados.
Mas esse tipo de precaução não foi o suficiente para evitar o assassinato do próprio pai. Maninho foi assassinado a tiros em 2004, quando deixava a academia, em Jacarepaguá. Myro, que estava com o pai, também foi baleado, mas conseguiu sobreviver.
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Na época, Maninho tinha 42 anos e extensa ficha criminal, com condenação por formação de quadrilha, indiciamento por contrabando e um desentendimento em 1986 envolvendo o ator Tarcísio Meira Filho, que acabou com perseguição, tiros e um homem baleado.
A confusão começou porque Maninho teria se irritado por desconfiar de supostos olhares da mesa onde o ator estava com outros dois amigos em direção de sua mulher e decidiu acertar as contas na saída. José Carlos Reis, o Josef, que acompanhava Marinho, deu três tiros contra o carro ocupado pelo ator.
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Um deles atingiu Carlos Gustavo Pinto Moreira, o Grelha, que ficou paraplégico. No processo, Josef disse que agiu por conta própria. São histórias de um legado da contravenção que já corria nas veias da família.
O pai, Waldemir Garcia, o Miro, e o padrinho Angelo Maria Longa, o Tio Patinhas, já eram chefões do jogo do bicho nos anos 80. A família também tinha fortes ligações com a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, onde Miro era presidente de honra e Maninho atuava como presidente do Conselho Fiscal.