Moradores acusam PM de matar trabalhador na Cidade de Deus. Vítima trabalhava em uma marmoraria e voltava em casa para pegar o celular.  Na foto a mãe (vestido preto e branco) e o Pai (camisa verde) do rapa que morreu. - Daniel Castelo Branco
Moradores acusam PM de matar trabalhador na Cidade de Deus. Vítima trabalhava em uma marmoraria e voltava em casa para pegar o celular. Na foto a mãe (vestido preto e branco) e o Pai (camisa verde) do rapa que morreu.Daniel Castelo Branco
Por Beatriz Perez
Rio - A mãe do marmorista Marcelo Guimarães, Angélica Francisco Guimarães, 59, cobra indignada Justiça pela morte do mais velho dos quatro filhos nesta segunda-feira na Rua Edgard Werneck. O homem de 38 anos foi baleado e morto enquanto passava de moto para buscar o celular que havia esquecido em casa. Testemunhas dizem que o tiro partiu de um policial que estava em um blindado na via abaixo do viaduto da Linha Amarela.
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A mulher confrontou os policiais militares que estavam reunidos no local e cobrou respeito diante da morte do filho. Ao dirigir-se aos militares ela ressaltou que o filho não morreu por bala perdida, mas por "bala achada". Angélica contesta a versão da PM de que houve confronto no local.
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"Os policiais ficam debochando e conversando entre eles. Matam as pessoas sem abordagem", criticou. "Quero Justiça porque um policial despreparado matou meu filho", disse. 
Parentes e testemunhas também denunciam que os militares não socorreram a vítima. O blindado deixou o local após a morte. Um vídeo gravado por moradores registra esse momento.
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Testemunhas dizem que um policial militar que estava no blindado mirava um olheiro do tráfico e efetuou o disparo, que atingiu o marmorista no peito.
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Marcelo Guimarães deixa mulher e dois filhos, Arthur Miguel, de 5 anos, e Vitória, de 19. A sobrinha do marmorista conta que Marcelo chegou a enviar uma foto do filho para parentes às 8h16, após deixá-lo no futebol. "Foi o primeiro dia de aula dele na escolinha e ele mandou foto pra família", conta a sobrinha.
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O marmorista, que morava na Gardênia Azul, saiu de casa para levar o filho ao futebol e em seguida foi ao trabalho, na Rua Edgard Werneck. Ele retornava para casa para pegar o celular que havia esquecido quando foi baleado. " Parecia que ele estava se despedindo, abraçou os colegas de trabalho e combinou de tomar um café da tarde com a irmã dele", conta a sobrinha Kaylane. 
No local do crime, moradores pediam paz na favela e refutavam a versão da polícia de que houve confronto no momento do disparo.
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A irmã de Marcelo, Andressa Guimarães, de 23 anos, disse que acordou com a notícia de que Marcelo havia sido morto. "O que estão falando por aí de que foi tiroteio ou bala perdida, não é verdade. Meu irmão foi baleado, sem motivo nenhum. Só a polícia atirou e os policiais que ficaram aqui ainda ficaram rindo. Uma falta de amor", disse. A irmã também destacou que o irmão não foi socorrido pelos policiais.
"A família está toda desesperada. O pessoal da Cidade de Deus veio aqui e os policiais de descaso. Não socorreram meu irmão. Uma moça que passou aqui que pediu socorro. Meu irmão era o mais brincalhão possível. Eu não tenho nem resposta pra dar aos meus sobrinhos. Meu irmão é trabalhador e simplesmente mataram ele", criticou Andressa.
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A filha mais velha de Marcelo usou as redes sociais para se pronunciar sobre a morte do pai. "Te mataram pai, na crueldade. O senhor era trabalhador, estava indo trabalhar e te mataram. Tão novo, 38 anos, cheio de vida, coração bom!!!! Eu, minha mãe, meu irmão(que tem apenas 5 anos) famílias e amigos não estamos aguentando tanta dor", escreveu Vitória Guimarães, com uma foto com o pai e a hashtag Justiça por Marcelo.
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Em protesto, moradores fecharam a Linha Amarela nos dois sentidos, no início da tarde desta segunda-feira. A via ficou fechada nos dois sentidos por cerca de 20 minutos.
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Agentes da Delegacia de Homicídios da Capital estiveram no local e realizaram a perícia. A mulher e a irmã de Marcelo foram à delegacia, assim como uma testemunha do crime que trabalha no local. Os policiais também foram prestar dpeoimento.
Em nota a PM nega que tenha realizado operação naquela região. Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria Estadual da PM, “equipes do 18º BPM (Jacarepaguá), que reforçam o policiamento nas imediações da comunidade, foram atacadas por disparos de arma de fogo realizados por criminosos de dentro da Cidade de Deus. Os policiais reagiram à injusta agressão e cessaram o ataque. No momento da ação, um motociclista que passava pelo local foi atingido. Infelizmente, a vítima não resistiu aos ferimentos”.

A PM ressalta que desde a semana passada o policiamento, com emprego de um veículo blindado, foi reforçado na região. De acordo com a corporação, PMs são constantemente atacados por criminosos naquele ponto.

“Um Inquérito Policial Militar (IPM) será aberto para apurar as circunstâncias do fato. Paralelamente, a Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso”.
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Já a Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) instaurou inquérito para apurar a morte de Marcelo Guimarães.
Confira a nota na íntegra:
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Segundo depoimento dos policiais militares que participaram da ação, dois agentes estavam no local com o blindado. Criminosos dispararam contra o blindado e um dos PMs efetuou apenas um disparo de dentro do blindado para que seu colega de farda pudesse entrar. Após o fato, testemunhas foram ouvidas e os policiais militares que participaram da ação também prestaram esclarecimentos na Delegacia. A perícia foi realizada no local do crime, um cartucho foi apreendido e a Polícia Civil vai analisar se o projétil confere com as armas dos PMs.