Info pagina 4_bala perdida_06 dezembro - Arte Paulo Márcio
Info pagina 4_bala perdida_06 dezembroArte Paulo Márcio
Por Beatriz Perez
Rio - Uma pessoa foi vítima de bala perdida a cada três dias, em média, na Região Metropolitana do Rio em 2020. Os dados são da plataforma Fogo Cruzado. Das 123 pessoas vitimadas no ano passado, 26 morreram. Em 80,76% destas mortes, em 21 dos 26 casos, agentes de segurança estiveram envolvidos na ação. Em 87 das 123 vezes em que pessoas foram atingidas por bala perdida em 2020, houve a presença de agentes de segurança na ação, o número representa 70,73 % dos casos.
Apesar de expressivo, o número de vítimas de bala perdida em 2020 caiu 34,57% em comparação com 2019, quando 188 pessoas foram baleadas no Grande Rio por disparo de origem desconhecida. Foram 53 mortes deste tipo naquele ano.
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O município com mais vítimas de bala perdida em 2020 foi o Rio de Janeiro, com 14 mortos e 53 feridos; em seguida vêm São Gonçalo com 35 feridos e 4 mortos; e Duque de Caxias com 2 feridos e 2 mortos.
A primeira vítima de bala perdida de 2021 fez-se no primeiro minuto do ano: uma criança de cinco anos foi atingida no pescoço enquanto assistia à queima de fogos de artifício no quintal da casa da prima, no Morro do Turano, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio.
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Na última segunda-feira (4) o marmorista Marcelo Guimarães foi morto na Rua Edgard Werneck, na Cidade de Deus, enquanto passava de moto para buscar o celular que havia esquecido em casa. Testemunhas dizem que o tiro partiu de um policial que estava em um blindado na via abaixo do viaduto da Linha Amarela. Já a polícia afirma que houve uma troca de tiros entre PMs e bandidos no local.
O porta-voz da Polícia Militar, Ivan Blaz, disse que o inquérito policial militar aberto na sede do 18º BPM (Jacarepaguá) para apuração do caso tem caráter sigiloso. O major diz que o blindado ocupava aquela região há duas semanas e que criminosos efetuaram disparos diariamente na viatura. Segundo o militar, o baseamento é importante para a segurança daquela área, já que há uma disputa entre a milícia que atua na Gardênia Azul e em Curicica e a facção que domina a Cidade de Deus.
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Para o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, a redução no número de baleados passa pelo combate à cultura armamentista no país. "É necessário combater a cultura do 'atire primeiro para saber quem é depois', que é fomentada pelo presidente da República, passando pelas mais diversas autoridades públicas e chegando à grande parcela da sociedade. Em um país no qual a dignidade humana é respeitada, o policial pensaria dez vezes antes de atirar. Não há prisão de bandido que justifique a morte de um cidadão", resume.
Antônio Carlos também destaca as condições precárias de trabalho dos agentes na cidade na qual a atividade policial é a mais difícil do mundo, segundo ele. "A mesma sociedade que estimula o confronto, ignora quando os policiais são presos ou trata com indiferença quando são mortos. Os agentes estão matando e morrendo sem razão", critica ao cobrar uma reforma e valorização da Polícia Militar.