Hospital Federal de Bonsucesso
Hospital Federal de BonsucessoLuciano Belford / Agência O DIA
Por Bernardo Costa
Houve nova compra por dispensa de licitação de testes RT-PCR para o diagnóstico de covid-19 por hospital federal do Rio, mesmo com testes disponíveis em depósito do Ministério da Saúde, em Guarulhos, em São Paulo, onde, até o dia 9 de dezembro, havia cerca de sete milhões de unidades estocadas. Desta vez, a compra foi feita pelo Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), no valor total de R$ 997.200 para aquisição de 3.600 testes. No dia 27 de dezembro, o DIA revelou que outra compra havia sido feita pelo Hospital Federal dos Servidores (HFSE): 4.500 testes ao preço de R$ 1,2 milhão. 
O DIA apurou que as compras estão acontecendo devido a uma incompatibilidade entre os testes armazenados no depósito do Ministério da Saúde, da marca coreana Seegene, com os equipamentos disponíveis nos hospitais para a análise das amostras colhidas dos pacientes. Além disso, os kits do Ministério da Saúde estariam incompletos.
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A compra dos testes pelo governo federal aconteceu em abril, e teria custado R$ 290 milhões aos cofres públicos, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), que abriu investigação para apurar supostas irregularidades na compra, armazenamento e distribuição dos testes. A investigação está em andamento e sob sigilo.
A nota de empenho da compra feita pelo HFB é do dia 11 de dezembro. O hospital funciona parcialmente, pois permanece com o Prédio 1 interditado após o incêndio que atingiu a edificação em 27 de outubro. No local, funcionavam os setores de emergência, cirurgias de alta complexidade, enfermarias, hemodiálise e exames de imagens. A Polícia Federal apura as causas do incêndio. Segundo a PF, o inquérito ainda não tem previsão para ser concluído. 

"Essas compras mesmo tendo estoque de testes no Ministério da Saúde é desperdício de dinheiro público e também falta de operacionalização da logística, o que fez com que houvesse uma compra central e várias outras descentralizadas. No final das contas, nenhuma dessas chega à população, que é quem deveria ter acesso a esses kits", critica o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Alexandre Telles.
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Os testes RT-PCR em estoque em depósito do Ministério da Saúde foram adquiridos, em abril do ano passado, junto à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Em novembro, reportagem do Estadão revelou que 6,86 milhões de unidades tinham data de vencimento entre dezembro e janeiro. Outros 283.700 venciam entre fevereiro e março.
Após a denúncia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, em 7 dezembro, no Diário Oficial da União, norma que estendia o prazo de vencimento dos testes em quatro meses.
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TESTES DO MINISTÉRIO SÃO INCOMPATÍVEIS
Os 3.600 testes comprados pelo HFB custaram R$ 277 cada. Segundo a empresa que comercializou os testes, todos já foram entregues ao hospital, acompanhados das respectivas notas fiscais. 
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O Ministério da Saúde confirmou que os testes foram entregues ao HFB e estão sendo usados, de acordo com o protocolo de segurança, para o diagnóstico da covid-19. A nota informa, ainda, que os testes adquiridos pelo hospital são compatíveis com o equipamento que a unidade já possuía. E que os testes comprados pelo Ministério da Saúde são de fabricante diferente, e dependem de outro equipamento para o processamento dos resultados.