Ana Clara, de 5 anos, morreu após ser baleada na porta de casa - Arquivo pessoal
Ana Clara, de 5 anos, morreu após ser baleada na porta de casaArquivo pessoal
Por Thuany Dossares
Rio - Preso em flagrante suspeito de ter efetuado o disparo que causou a morte da pequena Ana Clara, de apenas 5 anos, o Cabo da Polícia Militar, Bruno Dias Delarolli, caiu em contradição diversas vezes, segundo a Polícia Civil.
De acordo com agentes da Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG), em depoimento, os três PMs do Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) Largo da Batalha, do 12º BPM (Niterói), narraram que entraram na localidade do Monan Pequeno após ouvirem tiros disparados contra a viatura e, ao incursionarem, foram recebidos a tiros de pistola por traficantes locais.
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Entretanto, a perícia técnica não constatou índices de confronto armado e diversos moradores relataram aos agentes da especializada que os policiais militares já entraram atirando.
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"Não tinha nenhum disparo na viatura. Além disso, os policiais disseram que atiraram de determinado ponto e que houve confronto. Mas se realmente fosse verdade, não teria como atingir a menina da posição que eles alegam que estavam. Já a posição que as testemunhas falam que eles estavam, condiz com o tiro. A perícia apontou um laser e condiz com a trajetória do projétil para acertar a menina", explicou o delegado Bruno Cleuder, titular da DHNISG e responsável pelo caso.
Na posição apontada pelas testemunhas, os agentes da DH encontraram estojos de fuzil calibre 7.62 no chão. Segundo o delegado, o calibre da arma condiz com o armamento utilizado pelos PMs. "Os estojos da arma usada pelo policial militar também foram arrecadadas em um lugar que não condiz com o apontado por ele em suas declarações", complementou o delegado.
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Bruno Cleuder afirmou que, em contrapartida, os peritos não encontraram nenhum projétil ou estojo de pistola no local.
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Fuzis dos policiais encaminhados para perícia
Ana Clara foi atingida por um tiro de fuzil 7.62, que atravessou seu corpo. De acordo com os peritos da DH, o disparo teria sido feito a uma distância de cerca de 30 metros.
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O delegado Bruno Cleuder explicou que como o tiro transfixou, não é possível fazer confronto balístico, apenas uma perícia de constatação de eficácia.
"A eficácia é para mostrar que essa arma é eficaz, é capaz de atirar. É um procedimento de praxe de toda arma que apreendemos. Como não foi possível arrecadar o projétil que atingiu a menina, a gente não tem como fazer a balística", esclareceu o delegado.
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As armas foram encaminhadas nesta quarta-feira para o exame de eficácia e o laudo deverá ser concluído em 10 dias.

PMs já tinham ido ao local e prometido voltar usando violência
Os moradores relataram em depoimento que os PMs tinham ido no Monan Pequeno na semana anterior e ameaçado dois jovens que estavam sentados na rua.
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"Uma testemunha fala que os policiais tinham ido lá na semana passada e reclamado que dois garotos estavam na rua e que teriam dito que se voltassem e vissem mais alguém sentado naquele local atirariam em todo mundo", contou Cleuder.
A equipe do Patamo Largo da Batalha estava composta por três militares, mas segundo a polícia, apenas Bruno Delarolli efetuou disparos. "Uma testemunha também fala que um colega dele chegou a falar 'olha a besteira que você fez'", disse o delegado.
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Ainda de acordo com o relato dos moradores do Monan Pequeno aos agentes da DH, outros PMs foram até a comunidade em uma outra viatura para tentar recolher os estojos do fuzil do colega de farda, enquanto Ana Clara era socorrida. Essa tentativa, inclusive, teria gerado um protesto por parte dos moradores.
A reportagem tenta contato com a defesa do militar. O espaço está aberto para manifestações.