Motoristas de aplicativo pediram segurança num ato realizado no local onde morreu Gabriel (no detalhe)  - Estefan Radovicz e arquivo pessoal
Motoristas de aplicativo pediram segurança num ato realizado no local onde morreu Gabriel (no detalhe) Estefan Radovicz e arquivo pessoal
Por Bernardo Costa
Rio - Motoristas de aplicativo realizam uma manifestação, na tarde desta quinta-feira, em frente ao número 300 da Avenida Marechal Rondon, em São Francisco Xavier, onde o colega de trabalho Gabriel Augusto Paes, de 32 anos, foi assassinado nesta madrugada enquanto aguardava um passageiro.

Eles cobram mais segurança para trabalhar e regras mais claras por parte das empresas que possam proteger os trabalhadores.

"Nossas vidas importam sim. Queremos trabalhar com tranquilidade. Estamos circulando com medo hoje nas ruas. A qualquer hora podemos sofrer violência", disse o motorista de aplicativo Carlos Magno, de 45 anos.

Os motoristas se organizaram por grupos de mensagens para a manifestação após tomarem conhecimento da morte de Gabriel Paes.

Eles portavam cartazes com dizeres como "Quantas vidas mais vamos perder para termos mais segurança? Precisamos de ajuda já!" e "Vida de motorista de app também importa!".

Os carros dos trabalhadores, estacionados na pista lateral, também trazem inscrições no vidro traseiro. "Luto!" e "App sem segurança" eram algumas delas.
Dentre as reivindicações dos motoristas, a redução do tempo mínimo de espera pelo passageiro, sinalização de áreas com alto risco de assalto e fim da obrigatoriedade de ter que viajar com as janelas abertas, o que deixaria os motoristas mais vulneráveis.
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"O tempo mínimo de espera tinha que ser reduzido de cinco para dois minutos. Enquanto esperamos passageiros é o momento em que sofremos assaltos e podemos perder nossas vidas", disse José Luiz dos Santos, de 45 anos.
"Quem anda com vidro fechado com ar-condicionado tem medo de ser expulso do aplicativo. Mas, com janelas abertas, estamos inseguros. Eu pergunto pelo aplicativo à empresa e não há uma posição clara, aponta Magno.

Relatos de violência nas ruas do Rio não faltam entre os presentes na manifestação. Florêncio Bispo, de 58 anos, relata assalto à mão armada em Madureira. "Estava na Rua João Ribeiro e os assaltantes mostraram a arma e mandaram descer. Os passageiros ainda pediram para arrancar com o carro. Se eu fizesse isso poderia ter sido morto. Eles levaram o veículo".

Carlos Magno relatou um assalto relâmpago em Realengo: "Um miliciano entrou no carro armado com fuzil e ordenou que eu o levasse até uma comunidade próxima.
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João Eduardo, de 39 anos, um assalto em Belford Roxo: "Homens armados apontaram em minha direção. Levaram meu celular, mas poderia ter sido muito pior".
MORADORES DENUNCIAM ASSALTOS CONSTANTES

Moradores da região em que Gabriel Paes foi morto contam que o local registra grande número de assaltos, todos à mão armada.

"São cerca de quatro assaltos por semana", diz Marcelo Crisóstomo, de 49 anos, síndico de um condomínio da região: "Colocamos câmeras de segurança na portaria do prédio, no ano passado, para ajudar a polícia na identificação dos bandidos e para expor essa violência, para que não fique apenas nos relatos".

Também moradora do local, Sandra Siqueira, de 50 anos, conta que já fez abaixo-assinado entre moradores e enviou o documento ao 3º BPM (Méier) cobrando mais policiamento na região, sem efeito:

"As pessoas já nem acreditam mais. Mas vamos começar a acolher mais assinaturas para um novo abaixo-assinado. Esperamos que tenhamos atenção das autoridades desta vez".
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Procurada, a Polícia Militar afirmou que o 3ºBPM (Méier) "desenvolve ações de ostensividade nestes bairros através de roteiros de patrulhamento e com viaturas focadas em pontos indicados pela mancha criminal, com atenção nos locais com grande movimento de pessoas e fluxo de veículos".

Ainda conforme a corporação, o batalhão "também tem uma atuação intensificada através de equipes policiais empenhadas no programa Percurso Seguro, que visa coibir delitos onde a mancha criminal é mais acentuada e colaborar com a sensação de segurança da população".

A PM assinalou que houve redução de 36% nos crimes de roubo de veículo na circunscrição que compreende os bairros Riachuelo, Rocha e São Francisco Xavier quando comparados o ano de 2020 e o ano de 2019 segundo os dados compilados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). No mesmo período, os crimes de roubo de rua apresentaram o mesmo índice de queda na área do 3º BPM.
O DIA também procurou as empresas Uber e 99 Táxi, para as quais os motoristas envolvidos no protesto trabalham, para que comentem as reivindicações dos moradores e motoristas. A Uber disse lamentar o caso e informou que a empresta está à disposição para colaborar com as investigação.
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"A Uber lamenta que cidadãos que desejam apenas trabalhar ou se deslocar sejam vítimas da violência que permeia nossa sociedade. Ao que tudo indica pelas informações apresentadas, o caso não teria ocorrido durante viagem com o aplicativo. De qualquer forma, a Uber permanece à disposição dos órgãos de segurança para colaborar com as investigações, na forma da lei."
A 99 Táxis lamentou a morte de Gabriel e apura se o crime ocorreu durante corrida pelo aplicativo. "Nos solidarizamos com a dor dos familiares e mobilizamos uma equipe para buscar contato com seus parentes para oferecer o acolhimento e todo o suporte necessário. A plataforma se coloca à disposição da polícia para compartilhar informações que possam ajudar a esclarecer os fatos e a punir os responsáveis."