Anielle Franco
Anielle Franco Bleia Campos / Divulgação
Por Leonardo Rocha
São três anos de uma saudade que ainda aperta no peito, dá um nó na garganta e desafia as interfaces da Justiça brasileira. Exatos 1067 dias de um crime político que tirou a vida da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, assassinados no dia 14 de março de 2018, na Zona Norte. Fato que chocou a opinião pública e segue sem resposta, mas com uma pergunta: afinal, quem mandou matar Marielle Franco?
De lá para cá, o nome da parlamentar, mulher negra, ativista, LGBTQIA+, nascida no Complexo da Maré, se tornou cada vez mais presente. Incansável na luta em prol das minorias, ela, que foi a quinta vereadora mais votada do Rio, tem a memória viva através de seus ideais e pela luta da irmã, Anielle Franco, que toca o Instituto Marielle Franco e, após três anos de sua partida, segue esperançosa pelo desfecho.
Publicidade
"É um feminicídio político, sim, mas vou além: eu acho que, de fato, é a necropolítica que existe no Brasil e mundo a fora com os corpos negros e de mulheres. Tem pessoas que vêm esses corpos vulneráveis e que podem descartar, matar e abater a hora que for", avalia Anielle, que não tem dúvidas quanto o viés político do assassinato. "A falta dela é imensurável. A gente não consegue colocar em palavras a falta que a Mari faz. Tem alguém muito grande por trás disso, a gente, obviamente, não sabe quem mandou matar, mas segue mantendo a esperança. A galera que nasceu pobre favelada nunca fica desesperançosa", revela. 
Apesar do crime bárbaro, a semente da parlamentar germinou. Entre os projetos de Marielle, estavam o #AssédioNãoÉPassageiro, sobre denúncias de abuso à mulheres no transporte público, ampliação das casas de parto na rede Municipal e a legalização do aborto. "A mulher que a Mari representava, chegar onde chegou, é uma ameaça, uma afronta a galera heteronormativa branca", define Anielle, observando que as manifestações com placa e gritos de "Marielle Presente" legitima a luta da irmã até hoje. "Que bom que tem tantas outras mulheres se inspirando nela. Qualquer tipo de homenagem dá um certo alento e nos demonstra que ela se tornou gigante", avalia. 
Publicidade
E no meio disso tudo nasce a instituição que carrega o nome da parlamentar, onde Anielle atua como diretora executiva. Recentemente, um projeto em defesa à vida de parlamentares negras, LGBT e periféricas entrou em pauta. "A ideia surge da família, em uma conversa com minha mãe. Existe a vontade de fazer muita coisa, o desejo da defesa da memória e entender que Mari virou semente. Isso virou nossa missão". 
'A Maré me ensinou muito'
Publicidade
l Nascida e criada no Complexo da Maré, a família Franco sempre prezou pela educação como fonte transformadora. Conhecimento que Anielle faz questão de compartilhar. Não é à toa que ela atua como educadora, jornalista e escritora. "Minha mãe sempre nos ensinou que o conhecimento ninguém pode tirar da gente. Estudar é o caminho onde tudo pode ser transformado. Pena que tenhamos líderes que acreditam na ignorância", diz ela, relembrando a infância na comunidade. "Me fez a mulher que eu sou. Faltam políticas públicas de segurança e cultura. Porém, a Maré me ensinou muito. É meu lugar."