Levantamento foi divulgado nesta quarta-feira, 24, pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde de São Paulo
Levantamento foi divulgado nesta quarta-feira, 24, pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde de São PauloReprodução/IG Minas Gerais
Por Jenifer Alves
Rio - Uma pesquisa divulgada pela Fundação Oswaldo Cruz, na última sexta-feira (26), apontou um rejuvenescimento na pandemia de covid-19. De acordo com o estudo, neste momento, as faixas etárias mais afetadas pelo coronavírus são indivíduos entre 30 e 59 anos. O aumento desses casos é devido à baixa adesão do público não só ao isolamento social como pela necessidade de uso do transporte público lotado durante os dias de trabalho e à procura por emprego.
O pesquisador Raphael Mendonça Guimarães explica que a intervenção do Estado é determinante para baixar essas estatísticas. Segundo ele, o comportamento social de pessoas entre 20 e 29 anos se dá pelo fato de frequentarem aglomerações como festas e bares. Já um público mais velho, atualmente o mais afetado, tem se contaminado por conta da necessidade de buscar emprego, utilizar transportes públicos lotados para trabalhar e não poder aderir a um lockdown por conta da inexistência de uma renda fixa.
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"O número mais destacado é de um grupo de 30 a 59 anos e tem relação com os trabalhadores que precisam voltar para a rua por perder os auxílios emergenciais, ficar sem recurso de um emprego formal e ter de se expor principalmente em transporte público, que são meios caóticos. A superlotação coloca as pessoas em contato intenso, que é justamente o que a gente precisa evitar", disse.
Raphael também falou sobre a grande quantidade de pessoas jovens infectadas e internadas com casos graves da doença desde dezembro. O pesquisador destaca que não há comprovação de que a nova variante P1 seja mais agressiva em pessoas mais novas e, sim, que as pessoas têm se colocado mais em risco.
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"Não há evidências de que a variante seja mais sensível em pessoas mais jovens. Mas sabemos que a introdução de uma variante nova significa que pessoas que já tiveram a doença podem voltar a ter então, é como se todo mundo estivesse suscetível de novo", explica.
Para resolver o problema, o pesquisador destaca que é preciso acolher pessoas que não tem meios de subsistência por meio de auxílios que permitam que este público possa ficar em casa sem se expor à doença.
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"As medidas de restrição precisam ter respaldo. Não adianta baixar normas e decretos impedindo as pessoas de sair às ruas se elas precisam buscar meios para trabalhar, procurar emprego. É preciso reforçar essas, restituir o auxílio social pra minimizar o esforço dessas pessoas irem para a rua".
O DIA mostrou o caso de Alexsandro Lacerda Monteiro, de 44 anos, que foi internado junto com a mãe, Marli Maria de Lacerda Monteiro, de 78 anos, no Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Alexsandro conseguiu uma vaga em UTI após uma decisão judicial. Ele e a mãe desenvolveram uma bactéria no pulmão, Marli segue internada e Alexsandro não resistiu, falecendo na noite deste domingo por colapso pulmonar.
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Alexsandro era motorista de ônibus e deixa três filhos  - Arquivo pessoal
Alexsandro era motorista de ônibus e deixa três filhos Arquivo pessoal
"É muito difícil, mas infelizmente aconteceu. Ele lutou, lutou e não conseguiu vencer essa doença. Agora estamos na fé de dona Marli que é uma paciente muito delicada e que estás em estado grave", disse Adriano, cunhado de Alexsandro.
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Colapso na saúde
Atualmente, a fila para vagas em UTIs na rede Estadual do Rio de Janeiro chega a 710 pacientes. Para vagas de enfermaria, o número chega a 279, somando uma fila de espera de 989 pessoas. A falta de leitos e de insumos para internação também são um fatores determinante na crescente do número de mortes. Raphael explica que além disso, é preciso de qualificação para atendimento de pacientes em estado grave dentro dos hospitais.
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"Uma das medidas adotadas para tratamento destes pacientes em CTI é a pronação, ou seja, virar o paciente de barriga para baixo que não é uma posição usual e requer atenção da equipe para não haver problemas colaterais, como desposicionamento de tubos, formação de úlceras de pressão, entre outros. Então é preciso qualificar a equipe de saúde que está lidando com estes casos, e não conseguimos fazer isso adequadamente lá no início", destacou.
Recesso de dez dias
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No Estado do Rio, o Governador interino Cláudio Castro, instituiu um recesso de dez dias para conter a disseminação do coronavírus no Rio de Janeiro com a antecipação de dois e a criação de três novos feriados para emendar até o domingo de Páscoa. O recesso teve início nesta sexta-feira (26) e vai até o dia 4 de abril. A recomendação das autoridades estaduais e municipais é de que a população busque ficar em casa e siga as medidas de restrição divulgadas.
As Prefeituras do Rio e de Niterói, em conjunto, elaboraram restrições próprias para as cidades mais severas do que as determinadas pelo governo estadual. As decisões mais rígidas das administrações municipais deverão prevalecer sobre as regras do governo estadual.