Maria do Carmo Palhete Carvalho durante transferência do Hospital Barata Ribeiro para o CER Leblon
Maria do Carmo Palhete Carvalho durante transferência do Hospital Barata Ribeiro para o CER LeblonFoto de leitor
Por Bernardo Costa
Rio - Acometida em uma das pernas com erisipela, uma infecção na pele causada por bactéria, Maria do Carmo Palhete Carvalho, de 59 anos, resistia à internação para tratamento da doença com medo de contrair covid-19 na rede pública. Ela permanecia em casa, no Centro do Rio, cumprindo quarentena desde o início da pandemia. Porém, o problema na perna se agravou e agentes de saúde, em visita domiciliar, orientaram a internação. Ela deu entrada no CER Leblon, no último dia 11. Segundo parentes, o receio de dona Maria do Carmo se concretizou, e ela morreu nesta segunda-feira após nove dias intubada em leito de UTI. A causa da morte, de acordo com a família, foi parada cardiorrespiratória motivada pela covid-19.
"Ela não queria ter sido internada. Falava que tinha medo de pegar covid, e foi o que aconteceu", disse a sobrinha Larissa Cabral, de 23 anos, na porta do CER Leblon, após ter tido a notícia da morte da tia, às 15h10 desta segunda-feira.
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Ao lado de Larissa, a irmã de Maria do Carmo, Maria José, de 50 anos, conta que, assim que Maria do Carmo deu entrada no CER Leblon, passou por teste de covid-19, que deu negativo. A confirmação de que ela havia sido infectada pelo coronavírus, segundo os parentes, se deu na última sexta-feira, por telefone.
"Uma enfermeira ligou e disse que ela havia sido testada novamente, e que o diagnóstico tinha dado positivo para covid-19. Acreditamos que ela tenha sido infectada pelo vírus em algum desses hospitais", disse a sobrinha Larissa, que faz uma denúncia:
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"Ela ficou internada em uma enfermaria (no CER Leblon) onde havia pacientes com suspeita de covid junto com outros com a doença confirmada. Ela chegou a mandar um áudio para nós relatando que estava ao lado de uma senhora que tinha diagnóstico de covid confirmado e se recusava a usar máscara e, mesmo assim, não era obrigada pelos profissionais a colocar o equipamento de proteção. Ela estava apavorada em pegar o vírus, o que acabou acontecendo".
Maria do Carmo Palhete Carvalho na varanda do Hospital Municipal Barata Ribeiro, na Mangueira - Foto de leitor
Maria do Carmo Palhete Carvalho na varanda do Hospital Municipal Barata Ribeiro, na MangueiraFoto de leitor
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A passagem de Maria do Carmo pela enfermaria se deu, segundo a família, após ela ter retornado do Hospital Municipal Barata Ribeiro, na Mangueira, para onde foi transferida para receber medicação intravenosa para o tratamento da erisipela. Da unidade, ela foi transferida novamente para o CER Leblon após profissionais suspeitarem que ela estava infectada com a covid-19.
"Quando chegamos para visitá-la no Barata Ribeiro ela estava sendo levada de volta para o CER Leblon. Tinha febre e dor de garganta. No CER Leblon ficou um dia na enfermaria e depois nove dias intubada na UTI. Hoje (segunda-feira, 29), nos ligaram às 7 da manhã pedindo que levássemos os documentos dela ao hospital, pois ela poderia morrer a qualquer momento. Quando chegamos, fomos informado da morte", conta Larissa.
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Maria do Carmo Palhete Carvalho tinha obesidade e hipertensão, fatores de risco para a covid-19. Ela trabalhou boa parte da vida como balconista em uma padaria, e estava aposentada. Não deixa filhos. Durante a pandemia, passou os dias em isolamento, em casa, seguindo à risca as normas de segurança. Os familiares evitavam visitá-la devido ao seu histórico de comorbidades.
"Ela se cuidou o tempo todo para não pegar a covid. Até mesmo nós, da família, evitávamos o contato com ela. Mas a erisipela foi se agravando e havia risco de que ela perdesse a perna. Ainda assim, ela resistiu muito para ir ao hospital", diz a irmã Maria José, que reclama da falta de informações no CER Leblon:
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"Eles não passavam o boletim diário do estado de saúde dela como deveriam ter feito. Ligavam raramente e não passavam as informações completas. Uma vez chegaram a desligar na minha cara. Sempre quando a gente tentava ligar, dava ocupado. Só conseguíamos informação quando íamos ao hospital e, ainda assim, com muita insistência". 
De acordo com Larissa, a família vai estudar a possibilidade de entrar com uma ação na Justiça contra a Prefeitura do Rio devido à suposta infecção de Maria do Carmo em alguma das unidades de saúde do município por que passou.
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Resposta da Secretaria municipal de Saúde
Segundo a Secretaria municipal de Saúde (SMS), não consta no prontuário de Maria do Carmo Palhete Carvalho que ela havia passado por exame de covid-19 no momento em que foi transferida do CER Leblon para o Hospital Municipal Barata Ribeiro, onde os sintomas compatíveis com a doença foram verificados. Após a suspeita, Maria do Carmo foi transferida novamente para o CER Leblon, onde o diagnóstico de coronavírus foi confirmado. 
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A secretaria afirma que a paciente recebeu todos os cuidados indicados em leito de UTI covid-19 no CER Leblon. Porém, não resistiu à doença. 
Veja a nota da SMS na íntegra:
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A Sra. Maria do Carmo Palhete Carvalho deu entrada no CER Leblon em 11 de março, com quadro de erisipela, e foi transferida no dia 12 para o Hospital Municipal Barata Ribeiro. Não consta em prontuário que tenha realizado exame para covid-19 nesta ocasião.

A paciente retornou ao CER Leblon, unidade com setor de referência ao tratamento de covid-19, no dia 18, após apresentar, enquanto estava no Barata Ribeiro, sintomas clínicos compatíveis à doença, além de imagem de tomografia característica à infecção pelo coronavírus. Foi internada em leito destinado a síndrome respiratória aguda grave (SRAG), suspeito ou confirmado de covid-19. Exame coletado nesta segunda internação foi positivo para a doença.

A Sra. Maria do Carmo recebeu todos os cuidados indicados em leito de UTI covid-19 no CER Leblon, porém, infelizmente, não resistiu.