Alexandre Chieppe
Alexandre ChieppeDivulgação
Por Jorge Costa*
Rio - O Estado do Rio de Janeiro enfrenta uma terceira onda de disseminação da covid-19 e a principal causa para o surgimento do fenômeno pode ser a influência direta da variante de Manaus, a P1. A consideração é do médico da Subsecretaria de Vigilância em Saúde do Estado, Alexandre Chieppe, que concedeu uma entrevista ao DIA na manhã desta quarta-feira (31).

“Durante a segunda onda, de novembro a dezembro do ano passado, predominava a P2 (da Inglaterra). A partir de janeiro deste ano, começamos a verificar a predominância da variante de Manaus. Então a hipótese que levantamos é que provavelmente essa nova onda no estado ocorreu em função da P1”, afirmou o médico.

A terceira onda que atinge o estado provocou um forte aumento no número de internações e na fila de espera por pessoas que precisam de um leito de UTI. O médico menciona que não há uma previsão definida para a redução das lotações nos hospitais e diminuição dos casos.

“É difícil prever, o que fazemos é algumas simulações com a base no que aconteceu com outros estados, em que o número de casos subiu, se manteve em platô e diminuiu. Essa fase costuma durar em torno de oito semanas, estamos num platô neste momento e a gente espera até alguma queda, mas é difícil afirmar isso”, ponderou.

Chieppe afirmou que Secretaria de Estado de Saúde (SES) começou a realizar um trabalho de sequenciamento genético da nova variante para fazer uma melhor identificação do vírus que está circulando no estado. Segundo o médico, o estudo permite ao governo se preparar preventivamente para detectar e combater as novas variantes.

“Quanto maior o número de amostras que tivermos, maior a capacidade de detecção das novas mutações adaptáveis ao ser humano. Temos outras variantes no mundo, e existe a possibilidade do surgimento de novas mutações, por isso precisamos nos antecipar a esse risco”, disse.

Questionado pelo DIA se a nova variante teria uma influência direta no aumento do número de pessoas mais jovens internadas, Chieppe afirmou que não é possível fazer uma relação direta, mas mencionou que houve um aumento de casos de internações do grupo.

“Isso provavelmente está relacionado a nova cepa, como ela tem uma capacidade de disseminação maior, essas pessoas [mais jovens] que eventualmente não pegaram o vírus no ano passado ou nas duas ondas anteriores, agora estão se contaminando por conta da capacidade de transmissão das novas variantes”, afirmou.

Sobre a volta à normalidade
Mesmo com a vacinação, a tendência é que a covid-19 permaneça na sociedade com pequenos picos endêmicos e menores ocorrências. O médico da Secretaria Estadual de Saúde avalia que o vírus não vai desaparecer. Por isso, a volta à normalidade talvez não aconteça em um prazo tão cedo.

O DIA questionou Chieppe sobre o risco da comemoração do feriado da Sexta-feira Santa influenciar no aumento do número de casos. O médico descarta a possibilidade, desde que o decreto e as recomendações do estado e prefeituras sejam cumpridos pela população.

“A expectativa na semana Santa é a de prevalecer o que está previsto no decreto estadual em conjunto com as orientações municipais, de que não haja aglomeração em função do feriado. O decreto é claro, alguns setores podem funcionar com controle, esperamos que não haja aglomeração no estado e consequentemente não haverá repique”, disse.

Sobre a volta de grandes eventos, como a comemoração do ano novo e do carnaval, Chieppe afirmou ser difícil fazer uma previsão se até o final do ano os eventos voltariam a acontecer.

“Eu acho que só o dia a dia vai mostrar o quanto a vacinação está sendo eficaz para poder permitir uma volta à normalidade. Estamos estudando alguns países na Europa que começam a simular eventos com pessoas vacinadas, exatamente para podermos ter uma ideia de como essa dinâmica de transmissão do vírus vai ocorrer após a vacinação. Mas ainda há poucas evidências e é cedo para confirmar o retorno de grandes eventos”, concluiu.
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*Estagiário sob supervisão de Beatriz Perez