A jornalista Patricia Almeida, criadora do projeto Eu Me Protejo
A jornalista Patricia Almeida, criadora do projeto Eu Me ProtejoDivulgação
Por RICARDO SCHOTT
Rio - Carioca vivendo em Brasília, a jornalista Patricia Almeida lamenta que, só depois que acontecem tragédias como a do menino Henry Borel, "as pessoas pensem no que poderiam ter feito para combater a violência doméstica". Ela é criadora do Eu Me Protejo, que se iniciou a partir de uma cartilha em 2019, e trabalha com prevenção à violência contra as crianças, em conversas tanto com os pequenos (sobre os seus corpos e como protegê-los) quanto com seus pais educadores. A ideia é ensinar a criança a reconhecer um abuso e a se proteger.
O projeto, que não tem patrocínios e é voluntário, faz uma live amanhã, às 20 (nas contas do Instagram @eumeprotejobrasil e @pat_lucas1) sobre o tema "Educação para prevenção contra a violência na infância". E Patricia afirma que a palavra "prevenção", no Brasil, é sinônimo de muito trabalho. "Nunca se faz isso aqui, as pessoas preferem correr atrás do prejuízo depois", conta ela, que teve a ideia do projeto quando viveu na Suíça com a filha, que tem Síndrome de Down.
Publicidade
"Incrivelmente, não há escola inclusiva lá. Minha filha basicamente convivia com adultos, tutores, e precisava aprender a conviver com jovens da idade dela. Fiz primeiramente um livrinho com frases para que ela aprendesse como reagir caso alguém tocasse nela. Ensinamos quais são as partes íntimas, onde alguém pode tocar. Muitas vezes a criança nem se dá conta de que sofre abusos", conta, deixando claro que o apoio de adultos é fundamental.
"Se o pai e a mãe falam antes, a criança consegue se defender. Tem o caso do adulto que mexe aqui e ali e fala: 'Não conta nada pra ninguém'. No caso da criança com deficiência, ela precisa ainda por cima de ajuda para ir ao banheiro. Mas se você ensina para uma criança que o corpo é dela, previne bullying, agressão, feminicídio", explica ela, lamentando que a agenda de prevenção contra violência tenha se confundido com a questão sexual nos últimos dois anos. 
Publicidade
"Tivemos que ter cuidado para tratar esse tipo de assunto, porque foi muito polêmico nas eleições. Foi usado politicamente, falavam que educação sexual era para ensinar a criança a fazer sexo, quando a gente sabe que não tem nada a ver. Nosso foco é na proteção ao corpo", conta.
O Eu Me Protejo tem o apoio da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência da Prefeitura do Rio de Janeiro, comandada por Helena Werneck. Ela lamenta que temas como a violência contra a criança deficiente fiquem obscurecidos.
Publicidade
"Acontece muito quando a criança está institucionalizada, internada em hospitais. Não são casos midiáticos como o que aconteceu com o Henry", conta Helena, que já informou aos pais que são atendidos pela secretaria a respeito do projeto. "Precisávamos dar um reforço, com tudo isso que vem acontecendo. Pensamos num atendimento mais forte aos os pais, com nossa equipe técnica"