Por Jorge Costa*
Rio - A Região Metropolitana do Estado do Rio enfrenta um momento crítico na campanha de vacinação da população contra a covid-19. Um levantamento feito pelo DIA mostrou que três municípios já suspenderam a vacinação e outros dois podem paralisar a campanha até sexta-feira (16), caso novas remessas do Ministério da Saúde (MS) não cheguem ao estado. O momento foi classificado como grave por especialistas, que mencionaram que o desabastecimento dos imunizantes pode influenciar no aumento do número de mortes. Quem precisa da 2° aplicação corre o risco de ter a sua vacinação desperdiçada, tendo a redução da proteção contra a doença em caso de atrasos.
O município do Rio de Janeiro pode suspender ainda nesta quarta-feira a campanha de vacinação, caso novas remessas do MS não sejam confirmadas. Não há informações se a suspensão é referente a primeira ou segunda dose. Contudo, a previsão é que o MS envie novos lotes nesta quarta (14).

Niterói suspendeu a distribuição da 1° dose nesta quarta (14) e aguarda novas remessas do MS para retomar a oferta. A última entrega feita pelo ministério para o município foi na última sexta (9). Os estoques disponíveis no momento estão reservados para manter a entrega da 2°dose à população.

Outro município da Região Metropolitana que suspendeu a 1° dose foi Guapimirim. O município recebeu 460 imunizantes na terça (13) e distribuiu as unidades no mesmo dia. Não há previsão de chegada de novas remessas até o momento para a localidade. Em paralelo, a distribuição da 2° dose segue mantida.

Duque de Caxias interrompeu a oferta da 2° dose da vacina CoronaVac para a população idosa até sexta (16), por ter poucas unidades em estoque, e manteve a imunização dos profissionais de saúde, que vão receber a segunda aplicação da Astrazeneca. Na terça (13), 6380 unidades da Astrazeneca foram entregues pela Secretaria de Estado de Saúde (SES). O município informou que a suspensão da 2° dose não causará prejuízos à população, pois os prazos determinados pelo MS estão sendo cumpridos.

Em Mesquita, os estoques da prefeitura só darão conta de distribuir a 1° dose até sexta-feira (16). Não há previsão de chegada de novas remessas até o momento na localidade. A aplicação das vacinas está sendo feita nesta quarta para idosos com 62 anos, na quinta (15), 61 e na sexta (60). A 2° aplicação segue sendo feita.

São Gonçalo foi o município que informou possuir a maior quantidade de estoque. A previsão é que a 1° aplicação seja mantida para os próximos oito dias. São 28 mil unidades para a 1³ dose e 75 mil para a segunda. Contudo, não há previsão de novas remessas e a campanha poderá ser prejudicada se não houver reposição.

Em São João de Meriti, a vacinação da 1° e 2° dose está mantida até a próxima terça. O município disse que vai garantir a 2° aplicação para todas as pessoas com idade a partir de 61 anos e a profissionais da saúde com 55 anos ou mais.

O que dizem os especialistas ouvidos pelo DIA
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De acordo com a médica geriatra e psiquiatra Roberta França, a lentidão da vacinação no RJ é um problema grave, pois a campanha de imunização é o única solução efetiva contra a covid-19 até o momento, e seria necessário que pelo menos 70% da população estivesse vacinada para reduzir a incidência do vírus.

"Essa situação é muito grave. Sabemos que os idosos precisam mais do que todos para garantir uma proteção maior. Além disso, nós só temos a segurança efetiva da doença após 15 dias de tomada 2°dose do imunizante. Então para quem recebeu a 1° aplicação e não recebeu a seguinte, a imunidade contra o vírus é menor", afirmou.

Para a pesquisadora em Saúde pela UFRJ Chrystina Barros, o atraso na vacina significa a perda de vidas. Ela considera que a falta de políticas adequadas de distanciamento social somadas ao comprometimento da imunização, podem influenciar no surgimento de novas variantes do vírus.

"Esse atraso somado ao vácuo da gestão da crise está nos custando muitas vidas e dá margem ao vírus se multiplicar mais, inclusive com o surgimento de variantes que comprometam a eficácia das vacinas. As pessoas que não tomam a 2 dose também correspondem a uma imunização desperdiçada, esse atraso, infelizmente, significa vidas perdidas", concluiu a pesquisadora.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes