Parentes aguardam liberação dos corpos no IML
Parentes aguardam liberação dos corpos no IML DANIEL CASTELO BRANCO/AGÊNCIA O DIA
Por Yuri Eiras*
Rio - Familiares dos mortos durante a operação no Jacarezinho na quinta-feira (6) dizem que alguns dos suspeitos foram vítimas de perfurações e cortes provocados por facas e que alguns já haviam anunciado a rendição, mas foram executados. A polícia nega a versão. No total, foram 28 mortos. Um deles foi o policial André Leonardo de Mello Frias, sepultado nesta tarde em Sulacap. Segundo a polícia, os demais 24 tinham envolvimento com o crime. Destes, três eram alvos da operação.

Thaynara Paes, 22, esposa de Rômulo Oliveira, um dos mortos na ação, disse que o marido foi morto a facadas. "Ele estava em casa comigo, desceu e foi surpreendido com os policiais entrando na favela. Ele saiu correndo, e no desespero entrou dentro de uma da casa. A moradora deixou ele ficar. Os policiais entraram, ele se rendeu e eles desceram juntos. Ele estava vivo e foi executado a facadas. Passaram no pescoço do meu marido. Eu entendo a dor deles porque perderam um policial, mas não justifica. Depois que ele morreu (o agente André Frias), eles voltaram com sangue nos olhos. Era pra levar preso, não tirar a vida de ninguém. Nenhuma mãe ou esposa merecia estar enterrando filho".
A família de Francisco Fábio Dias, conhecido como Fabinho, também acusa policiais de terem feito cortes no suspeito. "Ele foi rendido e levado para o caveirão com um tiro na mão. Vivo, em pé. Depois, recebemos vídeos e fotos do corpo dele com cortes. No (hospital) Souza Aguiar, vimos que o corpo dele tinha mesmo um corte na mão, um corte maior na região da cintura (virilha) e uma perfuração na barriga. Tenho certeza de que ele foi torturado", diz um parente de Fabinho.
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O médico legista Julio Cury, procurado pelo DIA para comentar as declarações, diz que os cortes podem ter sido feitos durante socorro médico. "Não é costumeiro ver pessoas feridas com facas em operação. O que pode ter acontecido é que com um tiro no pescoço, por exemplo, o cirurgião pode ter aberto para tentar fazer a hemostasia na artéria para interromper o sangramento e isso deixa a incisão (corte)", pondera o especialista.
Questionada, a Polícia Civil disse que as informações não procedem. "A Polícia Civil do Rio de Janeiro informa que todos os mortos durante a ação tinham antecedentes criminais e eram envolvidos com atividades criminosas. O único executado foi o inspetor de Polícia André Leonardo de Mello Frias", diz o texto.
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A direção do Hospital Municipal Souza Aguiar informou que, na quinta-feira (6), vinte pessoas deram entrada na unidade já em óbito. Os corpos forma levados para o IML, para avaliação dos tipos de lesão e confirmar a identificação de cada um.

A Operação Exceptis, que cumpria 21 mandados de prisão contra traficantes suspeitos de recrutarem menores de idade, é tratada como a mais sangrenta no Estado do Rio.
O MP informou que um perito do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) acompanhou a perícia nos corpos das pessoas mortas durante operação. O médico acompanhou todo o trabalho no IML e registrou, inclusive em imagens, o que for do interesse da investigação independente do MP-RJ, conduzida pela 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Rio de Janeiro.
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Cerca de 200 agentes da Polícia Civil participaram da operação. Policiais militares apoiaram a operação, impedindo a fuga de criminosos pela linha férrea. Na ação, de 21 mandados de prisão, três foram cumpridos. Foram apreendidas 16 pistolas, 6 fuzis, uma submetralhadora (similar a usada na morte da vereadora Marielle Franco), uma munição ante aérea e 12 granadas.
Mortos no Jacarezinho são identificados
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Uma equipe da OAB-RJ colheu os dados de boa parte dos suspeitos mortos na ação. Confira lista abaixo:

1. Raul Barreto de Araujo, 19 anos
2. Romulo Oliveira Lucio, 20 anos
3. Mauricio Ferreira da Silva, 27 anos
4. Jhonatan araujo da Silva, 18 anos
5. John Jefferson Mendes Rufino da Silva, 30 anos
6. Wagner Luis de Magalhaes Fagundes, 38 anos
7. Richard Gabriel da Silva Ferreira, 23 anos
8. Marcio da Silva, 43 anos
9. Francisco Fabio Dias Araujo Chaves, 25 anos
10. Toni da Conceição, 30 anos
11. Isaac Pinheiro de Oliveira, 22 anos
12. Cleiton da Silva de Freitas Lima, 27 anos
13. Marcio Manoel da Silva, 31 anos
14. Jorge Jonas do Carmo, 31 anos
15. Carlos Ivan Avelino Costa Junior, 32
Além deles, familiares de Nathan Almeida também aguardavam a liberação no IML nesta sexta-feira.
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*Colaborou Beatriz Perez