De acordo com o levantamento, a residências dessas crianças, na maior parte dos casos, é um lugar inseguro. Em 72% dos casos, a violência acontece dentro da própria casa. E os principais autores das agressões são os próprios pais, a mãe é a principal autora das agressões em 55%, em seguida, o pai, em 37% das notificações.
Os dados divulgados pela pasta, mostram que as meninas são os principais alvos para as violências, com 58,3% dos casos. Os dados de raça/cor apontam que 66% das crianças são pretas ou pardas.
Em entrevista ao DIA, a psicóloga e perita em crimes de pedofilia, Claudia Melo, aponta que as crianças dão sinais de algum tipo de violência e é necessário ficar alerta. "A criança é muito transparente, dificilmente ela consegue esconder que tem algo acontecendo com ela. O seu comportamento, sua linguagem, forma de se comportar com o outro muda. A gente percebe algumas mudanças visíveis ali, que fazem com que a gente entenda que tem alguma coisa acontecendo".
Números levantados pela pasta sobre violência infantil em 2020:
- Total de casos notificados contra crianças de até 9 anos: 1.494;
- 58,3% do total de crianças que sofreram com a violência eram meninas;
- 66% eram pretos ou pardos;
- 72% dos casos a violência acontece dentro de casa;
Claudia também ressalta que essas violências causam diversos traumas nas crianças e constantemente são refletidos na vida adulta. Os traumas são diversos, a gente percebe que são crianças e adolescentes e futuros adultos que desenvolvem depressão, ansiedade, pânico, pensamento suicida. São pessoas com baixa autoestima, crianças que tem dificuldade de se encaixar, de interagir, de se comunicar, de confiar. Eles acabam levando também pra vida adulta. São traumas tão profundos que realmente precisam de um acolhimento, de uma escuta e de um tratamento".
"A criança tem alguns pesadelos, retorna o comportamento muito infantil, volta a chupar dedo, chupeta. Eh em alguns momentos ela mostra um comportamento mais agressivo ou excessivamente protetor, preocupado com seus irmãos". Enfim, tem muitas questões comportamentais que aparecem também. E questões físicas também, quando você percebe na roupa íntima da criança que tem algum tipo de material que não é comum para uma criança muito pequena, como algum tipo de corrimento, coceira, dor na região pélvica", apontou Claudia.
Em relações as questões físicas, a especialista aponta que os pediatras também precisam ficar atentos. "Os pediatras que acabam recebendo essas crianças nos atendimentos precisam ficar mais atento nesses detalhes também".
Abandono e violência
De acordo com os números da SMS, os casos de abandono ou negligência ficam em primeiro lugar em violência contra crianças de até 9 anos, com 59% das ocorrências. Os casos de violência sexual aparecem em segundo lugar, com 29% das notificações.
Claudia relata que no caso de abusos sexuais, muitas vezes, a criança dá indícios que sofreu algum tipo de abuso e até a higiene pessoal pode sofrer mudanças. "A mudança de higiene, por exemplo, a gente percebe que a criança evita tomar o banho, ela foge desse momento, porque acredita que não estando com um bom cheiro, não estando limpa, esse abusador não vai se aproximar. Ou ela toma banho excessivamente para tentar apagar ou tirar resquícios que ficou desse abusador".
Em dados preliminares do ano de 2021, até o início de maio, já foram notificados 410 casos de violência contra crianças dessa faixa etária. Um caso emblemático que marcou o ano foi a morte de Henry Borel, no último dia 8 de março, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Segundo as investigações da Polícia Civil, o menino de quatro anos foi morto pela própria mãe, Monique Medeiros, e o padrasto, o vereador Dr. Jairinho. Os dois estão presos e foram denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pelos crimes de tortura qualificada e homicídio triplamente qualificado.
Outro caso de agressão por parentes foi o da pequena Ketelen Vitória Oliveira da Rocha, de 6 anos, agredida brutalmente pela própria mãe e madrasta. No dia 19 de abril, a menina foi levada para o Hospital Municipal São Francisco de Assis, em Porto Real, no interior do estado do Rio, após ser agredida pela própria mãe, Gilmara Oliveira de Farias,e a madrasta Brena Luane Barbosa Nunese. Foi constatada uma lesão neurológica muito grave e depois de cinco dias internada em um hospital particular de Resende, cidade vizinha, a menina faleceu.
Além disso, nesta terça-feira (18), a Polícia Civil realiza uma operação contra a pedofilia em 18 estados e no Distrito Federal. No Rio, agentes cumprem nove mandados, com apoio de outras delegacias especializadas, em Macaé, Campos, Niterói e Duque de Caxias. Na capital, há alvos com endereços em Jacarepaguá e Guaratiba.
A investigação apontou outros 16 estados em que pedófilos se comunicavam através de grupos pela internet. Esses mandados serão cumpridos pelas respectivas polícias de cada localidade, sendo: Bahia (5); Ceará (3); Espírito Santo (3); Goiânia (5); Maranhão (1); Minas Gerais (6); Mato Grosso (2); Pará (4); Pernambuco (2); Piauí (1); Paraná (1); Rio Grande do Norte (1); Rio Grande do Sul (6); Santa Catarina (1); Sergipe (1) e São Paulo (15). Um outro homem, apontado por pedofilia, tem residência no Distrito Federal.
- Disque 100 (Ouvidoria Nacional de Violações de Direitos Humanos)
O Disque 100 atende o Brasil todo, 24 horas todos os dias. A Secretaria de Direitos Humanos que recebe denúncias de forma anônima e encaminha o assunto aos órgãos competentes no município de origem da criança ou do adolescente. Pela internet, as denúncias podem ser feitas pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil ou pelo WhatsApp, no número (61) 99656-5008. Para maiores informações: http://www.disque100.gov.br/
- Conselhos Tutelares
A Prefeitura do Rio divulga no site o endereço e o telefone de todos os 19 conselhos responsáveis para receber as denúncias. Para maiores informações: https://www.1746.rio/portal/servicos/informacao?conteudo=172
- Disque-denúncia do Rio de Janeiro
O disque-denúncia do Rio atende pelo número (21) 2253-1177.O órgão atua no combate à violência contra o idoso, a mulher, as pessoas com deficiência e a criança e ao adolescente, por meio do núcleo de violência doméstica.