Segundo um funcionário do Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, a ordem segue a mesma desde a última denúncia feita ao jornal O Dia, no dia 16 de abril deste ano: diluir sedativos. "O Propofol é para ser aplicado puro, só que como tem pouca quantidade, orientam a gente a diluir ele", relata um funcionário do hospital municipal. Ainda de acordo com a fonte, os medicamentos Midazolan, Fentanil, Rocurônio e Propofol, todos usados para intubação, estão em falta há 30 dias.
De acordo com o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde e Previdência Social no Estado do Rio (Sindsprev/RJ), Sidney Castro, essa manobra em casos de escassez de sedativos não é uma surpresa, mas usar isso para pacientes com covid-19 pode levar à morte. "Medicamento sempre faltou, ele falta em todas as unidades. Esta orientação de diluir os sedativos é uma forma de economizar, já que os medicamentos estão cada vez mais escassos e essa é a realidade que vivemos nos hospitais federais", diz Castro.
O Sindsprev denunciou também a falta de sedativos para intubar pacientes no Hospital Federal do Andaraí, na Zona Norte. Há uma semana, funcionários procuraram o Sindisprev para relatar que havia apenas 50 ampolas no estoque da unidade, que estava prestes a acabar. Na ocasião, 300 ampolas de sedativo foram doadas pelo Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade, para continuar as atividades.
A falta de sedativos no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho não chegou até a unidade, no entanto, o diretor da instituição, Marcos Freire, informou que a chegada de novas remessas de medicamentos por parte da Secretaria de Estado de Saúde e Ministério da Saúde são imprevisíveis.
"Os processos de aquisição estão todos em dia. Sofremos com atrasos de entregas por parte dos fornecedores, que justificam o fato pela escassez dos produtos no mercado brasileiro. Os estoques têm sido mantidos por meio das remessas imprevisíveis da Secretaria de Estado de Saúde / Ministério da Saúde, doações gerenciadas pela Fundação Coppetec, empréstimos e permutas negociadas com outros hospitais - sempre em quantidades que suprem apenas alguns dias de assistência”, disse o diretor geral.
Aumento expressivo do uso de sedativos em unidades do Rio
Em um documento disponibilizado pela Secretaria de Saúde do Estado do Rio, na sexta-feira (21) e publicado no jornal O Globo, é possível perceber o aumento no número de pedidos de Cisatracúrio, um bloqueador neuromuscular. Neste mês de maio, 245 mil unidades do Cisatracúrio. Em novembro de 2020, foram usados 47 mil do mesmo medicamento. Além disso, no documento, a SES informa que não há nenhum quantitativo de estoque para os medicamentos que fazem parte do ‘kit intubação’.
Falta de repasse do Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde repassou ao Rio de Janeiro 1,04 milhão de medicamentos relacionados ao ‘kit intubação’ desde o início da pandemia. O painel de distribuição de medicamentos hospitalares do Ministério da Saúde aponta que a pasta fez um grande repasse entre julho e agosto de 2020 (260 mil medicamentos), primeira onda da pandemia. Esse número, no entanto, foi quase zero no início do ano. Em fevereiro, a única distribuição do Ministério da Saúde foi de 200 unidades do Cloridrato de Cetamina, que serve para indução de anestesia. A distribuição de remédios voltou a subir em março (306 mil), quando as denúncias de falta de medicamentos eclodiram nos veículos de comunicação.
São 181.189 ampolas compreendendo sete medicamentos: ATRACÚRIO 25mg/ 2,5mL, CISATRAÚRIO 10mg, DEXMEDETOMIDINA, CLORIDATO 100MCG/ML (2 ML), EPINEFRINA 1MG/ML (1ML), SUXAMETÔNIO, CLORETO 100 MG, FENTANILA, CITRATO 0,05 MG/ML (10 ML) e PROPOFOL 10 MG/ML (50 ML).
São 181.189 ampolas compreendendo sete medicamentos: ATRACÚRIO 25mg/ 2,5mL, CISATRAÚRIO 10mg, DEXMEDETOMIDINA, CLORIDATO 100MCG/ML (2 ML), EPINEFRINA 1MG/ML (1ML), SUXAMETÔNIO, CLORETO 100 MG, FENTANILA, CITRATO 0,05 MG/ML (10 ML) e PROPOFOL 10 MG/ML (50 ML).
A SAFIE ressalta a importância da agilidade, por parte das secretarias municipais de Saúde, no processo de distribuição dos medicamentos às unidades, assim como a necessidade de que os hospitais preencham semanalmente o formulário eletrônico com informações sobre seus estoques, conforme pactuado na Comissão Intergestores Bipartite (CIB).
Diante do cenário atual, o mercado mundial não dispõe de capacidade para abastecer de maneira confortável as redes públicas e privadas. No entanto, todas as unidades têm sido abastecidas frequentemente. A SES ainda esclarece que a falta de algum item específico não representa, necessariamente, que o hospital esteja sem alternativas viáveis para tratar pacientes intubados, podendo lançar mão de outros medicamentos da mesma classe terapêutica ou em diferente apresentação (volume) para substituição. Além disso, é importante ressaltar que a falta de algum medicamento no estoque central da SES não significa que as unidades hospitalares estejam desabastecidas, uma vez que os itens do “kit intubação” devem ser adquiridos pelos hospitais e pelas secretarias municipais de Saúde.
As compras realizadas pela SES e pelo Ministério da Saúde têm caráter emergencial, dentro de uma política de contingenciamento, em apoio à crescente demanda do momento. Nesse sentido, a SES está empenhando todos os esforços em busca de alternativas viáveis para manter o abastecimento de unidades de saúde que atendem pacientes em tratamento de Covid-19 com anestésicos, sedativos e relaxantes musculares utilizados no processo e na manutenção da intubação de pacientes. E também realiza repasse dos medicamentos enviados pelo Ministério da Saúde (MS) de forma equânime e com participação do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (COSEMS), para as unidades e municípios.
A Secretaria participou do registro de preço que gerou a ata do Ministério da Saúde (MS) para aquisição dos medicamentos e já obteve respostas positivas. Além disso, realiza um processo de compra para suprir a necessidade do estado nos próximos três meses. Todas as etapas dos processos são compartilhadas com o Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e Defensoria Pública, visando dar transparência às aquisições."