Jacarezinho
JacarezinhoReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Por O Dia
Rio - A organização internacional Human Rights Watch, que trabalha pelos direitos humanos, divulgou nesta segunda-feira, um relatório sobre a operação no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Ela solicita que o Ministério Público do Rio (MPRJ) investigue a Polícia Civil e sua cúpula por ação que culminou na morte de 28 pessoas — incluindo um policial
Publicidade
"A operação no Jacarezinho foi um desastre e trouxe muita dor aos familiares dos 28 mortos, incluindo o policial", disse José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas da Human Rights Watch. "O Ministério Público do Rio de Janeiro deveria investigar minuciosamente não apenas os policiais civis diretamente envolvidos na incursão, mas também os comandantes que planejaram e ordenaram a ação, garantindo a devida responsabilização pelos abusos e aparente destruição de evidências do local dos fatos".
A Human Rights Watch verificou registros de ocorrência, documentos dos hospitais e judiciais, depoimentos de testemunhas, além de fotos e vídeos de cadáveres. Segundo a pesquisa, que tem dez páginas, há evidências graves de violação de direitos humanos.
Publicidade
"Existem múltiplas evidências críveis de dilações muito graves de direitos humanos na operação. Inclusive, por exemplo, pessoas que relataram perante um juiz que elas viram como a polícia executou pessoas. Também tem relatos de pessoas que foram agredidas pela polícia gravemente e a evidência de que a polícia destruiu provas. Ela removeu corpos do lugar dos tiroteios com o objetivo de dificultar a investigação. Isso é extremamente grave", disse César Muñoz, pesquisador da entidade.
De acordo com o documento enviado à Procuradoria-Geral da República pela Polícia Civil do Rio, o objetivo da ação era cumprir 21 mandados de prisão. Para a Human Rights Watch, esses mandatos não justificam uma operação de alto risco e letalidade. A entidade ainda afirma que a polícia só informou o Ministério Público da operação três horas após o seu início.
Publicidade
"Uma operação que tem como objetivo prender membros de baixo escalão de uma facção criminosa não pode ser considerada como um caso excepcional. Não é uma operação excepcional e de fato vamos ver o resultado. Primeiro, 28 mortes. E segundo, o grupo criminoso que estava lá, supostamente já não está? Foi desmantelado? Não foi. O resultado foi a prisão de três pessoas desses mandados de prisão que supostamente são membros de baixo escalão do tráfico e que já devem ter outras três pessoas ocupando o lugar", afirmou Muñoz.
O documento ainda destaca que dos 200 policiais envolvidos na operação, apenas 29 foram ouvidos e em grupos de dois ou mais, com declarações superficiais, em muitos casos, com apenas cinco linhas. A entidade diz que somente 26 armas foram recolhidas para análise balística, e a perícia foi feita em só três locais dos 27 homicídios cometidos pela polícia.
Publicidade
"A Polícia Civil não deveria investigar supostos abusos cometidos pela Polícia Civil. Isso não é uma investigação imparcial e independente. Tem que ser feita pelo Ministério Público Estadual. Se você quer uma polícia em que as pessoas confiem, você precisa punir os abusos. Isso prejudica o bom policial que quer fazer as coisas direito", disse o pesquisador.
O MPRJ criou no início de maio uma Força-Tarefa para investigar a operação da polícia durante a operação. Segundo eles, todos os policiais envolvidos na ação serão ouvidos.

A Polícia Civil falou que a retirada de corpos e feridos serão esclarecidas durante a investigação policial, que está em andamento e sendo acompanhada pelo MPRJ. A corporação ainda disse que a Human Rights Watch deveria esperar o fim das investigações para se manifestar.