Agentes de Saúde fazem uma busca pelas pessoas que ainda não tomaram a segunda dose do imunizante contra a covid-19Bernardo Costa

Por Bernardo Costa
Rio - Pelos corredores do Centro Municipal Heitor Beltrão, na Tijuca, a dentista Andrea Cavalcante procurava a equipe de agentes de saúde para solicitar a visita a uma moradora da Rua Itacuruçá. A mulher deveria ter tomado a segunda dose da vacina contra a covid-19 no final de abril, mas, em seu cadastro, o telefone informado não completava a ligação. Ao encontrar os agentes em uma sala, eles discutiam maneiras de localizar um homem que havia sido vacinado, em fevereiro, e também não tinha retornado ao posto para completar a imunização. O endereço dele constava em Sepetiba, na Zona Oeste do Rio. Os dois casos são parte de um total de 79 mil pessoas que, segundo a prefeitura, não retornaram no prazo correto para tomar a segunda dose da vacina contra a covid-19. Dentre os motivos, o principal é o esquecimento.
"Alguém pode ir até a casa dessa senhora agendar a data para ela vir aqui tomar a segunda dose da CoronaVac?", perguntou Andrea, na tarde da última sexta-feira, dirigindo-se à gerente do posto Heitor Beltrão, a enfermeira Ilmara Maciel, que repassou a ficha da paciente para que a equipe vá ao endereço nesta semana.
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No dia anterior, a mulher esteve no posto e informou ter contraído a covid-19 após ter tomado a primeira dose e que, por isso, não tinha retornado para completar a imunização. Já no caso do morador de Sepetiba, as equipes tentavam contato para saber o motivo do não comparecimento e alertar para a necessidade da segunda aplicação da vacina.
"O esquema vacinal só é concluído após a segunda imunização. A primeira dose apenas não garante a proteção esperada", diz Jubemar Lima, coordenador de saúde da região da Grande Tijuca.
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Na tarde de sexta-feira, uma das agentes de saúde que fazia os contatos telefônicos era Marineide Dutra. Em sua mesa, uma planilha com dezenas de contatos: informações que eram cruzadas com a plataforma SI-PNI.
"Haja orelha", comenta Marineide: "São mais de 60 ligações por dia".
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Na mesa ao lado, era a agente Ester Amorim quem fazia as ligações.
"A vacina da gripe, no seu caso, será aplicada no dia 14. Então, venha nessa data, ok?", informou Ester, antes de desligar o telefone.
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"Era uma profissional de saúde. Liguei para confirmar se ela tinha tomado a segunda dose. Ela disse que sim, e aproveitou para perguntar a data para tomar a vacina da gripe", explicou Ester.
CoronaVac: segunda dose com agendamento
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O Centro Municipal Heitor Beltrão havia aplicado, até sexta-feira, mais de 1.600 doses da vacina contra a covid-19. Na cidade do Rio, é o campeão em quantidade de imunização, como demonstra o broche comemorativo que adorna o crachá de cada funcionário da unidade de saúde.
Segundo Jubemar Lima, não é necessário que as pessoas retornem ao mesmo posto para tomar a segunda dose. Porém, é desejável, pois ajuda as equipes a terem um controle mais adequado da quantidade de vacinas que precisam ter em estoque para a aplicação.
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"Assim, a gente tem uma noção exata de quantas segundas doses precisamos aplicar em cada dia. Isso nos ajuda também na definição da escala de serviço".
No caso da CoronaVac, ele explica que a aplicação da segunda dose está sendo feita mediante agendamento:
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"Isso é para evitar desperdício. Há 10 doses em cada frasco, que deve ser utilizado integralmente em até seis horas. Ligamos para as pessoas e marcamos horário para que tenhamos gente suficiente para que todos os frascos sejam aproveitados de forma correta".
Motivos para o atraso
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Nos registros do posto Heitor Beltrão consta que cerca de 400 pessoas não compareceram no tempo adequado para tomar a segunda dose da vacina, o que corresponde a 2% do total de imunizados com a primeira aplicação na unidade. Os atrasados são os que estão na faixa entre 70 e 80 anos de idade.
Dentre os motivos para o não comparecimento, Jubemar destaca o esquecimento como fator preponderante. Em seguida vêm outros, como internação por problemas de saúde, falta de disponibilidade de parentes para levar a pessoa ao posto e ter contraído a covid-19 após a aplicação da primeira dose. Nesse caso, explica Jubemar, a indicação é que a pessoa espere 30 dias desde o diagnóstico positivo da doença para que tome a segunda dose da vacina.
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Há ainda outro fator: a falta da CoronaVac para aplicação da segunda dose no início de maio, o que levou a prefeitura a suspender a aplicação do imunizante no período.
"Com isso, houve atraso de um grupo significativo. Mas percebemos que houve certa confusão pela população, pois pessoas que haviam tomado a vacina da AstraZeneca deixaram de vir também", conta Jubemar.
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Prazo correto para completar a imunização
Segundo a Secretaria municipal de Saúde (SMS), a busca ativa pelas pessoas que não tomaram a segunda dose no período correto é feita por telefone pelas unidades básicas de saúde. Caso o contato não seja efetivado, os agentes visitam as residências. Quem está em atraso, destaca a SMS, deve retornar para a aplicação da segunda dose o quanto antes.
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No caso da CoronaVac, segundo o infectologista Rivaldo Venâncio, da Fiocruz, o prazo ideal para tomar a segunda dose é após quatro semanas. Já em relação às vacinas AstraZeneca e Pfizer, o intervalo é de 12 semanas.
Venâncio reforça que as vacinas contra covid-19 foram desenvolvidas para serem aplicadas em duas doses, e que uma apenas não garante a proteção contra a doença. Ele explica não haver estudos que mostrem que, quanto maior o intervalo entre a primeira e a segunda aplicação, menor poderá ser a eficácia do imunizante.
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"No caso da CoronaVac, por exemplo, se a pessoa tomar a segunda dose em oito, dez semanas, isso diminui a eficácia? Não temos certeza disso ainda".
Além da orientação para quem contraiu a covid-19 após a aplicação da primeira dose, que deve esperar 30 dias desde o teste positivo para tomar a segunda vacina, há orientação para quem apresenta sintomas gripais.
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"Neste caso, a pessoa deve ir ao posto de saúde para que os profissionais façam a avaliação quanto ao momento adequado para tomar a segunda dose", diz Venâncio.