Inquérito relata agressões de Jairinho contra ex-namorada
Em um dos episódios, o vereador chegou a fraturar o dedo do pé de Débora Mello Saraiva. Em conversas com a irmã da vítima ele admite a agressão. Ele foi indiciado por violência doméstica
Vereador Jairinho de Souza foi preso pela morte de Henry Borel - Reproduções
Vereador Jairinho de Souza foi preso pela morte de Henry BorelReproduções
Por Aline Cavalcante
O vereador Dr. Jairinho, que está preso desde abril por envolvimento na morte do menino Henry Borel, foi indiciado por violência doméstica contra a ex-namorada, Débora Mello Saraiva. No inquérito policial da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) ao qual O DIA teve acesso há relatos de ao menos quatro episódios em que Jairinho agrediu a ex.
A relação do casal começou em 2014, mas foi em 2016 que aconteceu a primeira agressão. A primeira agressão aconteceu dentro de um apartamento em Jacarepaguá, onde os dois costumavam se encontrar. Na ocasião, após ver no celular do vereador mensagens entre ele e a ex-mulher, a dentista Ana Carolina Netto, ela o acordou. Ele teria então ficado “transtornado” e “tomado” seu telefone.
Em um dos trechos do inquérito da DCAV diz que Jairinho “fez menção de que estaria ligando para uma outra pessoa e disse para a declarante que iria sumir com a declarante, jogar sua bolsa e seu celular em algum lugar, ligar para a mãe da declarante e dizer que ele e a declarante teriam brigado e que a declarante teria saído sem rumo”.
Após verificar que nenhum conteúdo havia sido encaminhado, Jairinho então teria segurado o pescoço de Debora com as duas mãos, a jogado no sofá e a sufocado. Debora pede que ele pare, pois iria matá-la. Então ele cessa a agressão e diz para eles irem dormir. Jairinho adormece e Debora se tranca em outro quarto do apartamento.
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A segunda agressão aconteceu em 2020 na casa de praia em Mangaratiba. Jairinho começou a agredí-la quando ela impediu que ele visse o conteúdo do aparelho celular dela. As agressões consistiram em um "mata-leão", além de Debora ter sido arrastada pela casa e levar três mordidas em sua cabeça, no couro cabeludo.
Em outra briga, em um hotel na Barra da Tijuca, Débora chegou a ter um dedo do seu pé direito fraturado após chutes do então namorado. No episódio, o vereador lhe deu um chute, rachando o osso do dedo de seu pé. Levada por ele a um hospital particular no Méier, Zona Norte do Rio, a jovem recebeu uma imobilização em três dedos e colocou uma bota ortopédica.
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Em laudo médico, um perito apontou existir “vestígio de lesão à integridade corporal ou à saúde da pessoa examinada com possíveis nexos causal e temporal ao evento alegado”, referindo que tal lesão foi causada por “ação contundente”.
A última sessão de agressões teria acontecido na porta da casa de Debora, onde Jairinho a fez entrar em seu carro. O casal estava separado e Jairinho insistiu para conversar com a ex-namorada. O relato do inquérito diz que Jairinho puxou o cabelo da vítima e deu um soco no rosto dela. Um policial militar, que passava pelo local, chegou a abordar a jovem no carro e perguntar se algo havia acontecido. Em depoimento na DCAV, ela disse que, por medo, já que Jairinho e família eram influentes, ela negou que estivesse acontecendo algo.
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Ao retornar a residência, a irmã de Debora percebeu as lesões em seu rosto e passou a enviar mensagens para o então cunhado: “Nunca mais toca na minha irmã, porque eu não aceito mais isso; ela amanhã pode estar bem com você, aceitando tudo o que você faz com ela, mas agora vou responder por ela, já que ela não responde; não toca mais nela; estou te pedindo; some da vida dela; vai viver sua vida e deixa ela em paz; não quero saber de nada; ela está com o rosto inchado; mesmo que amanhã ela esteja bem com você, como sempre acontece, o que tem acontecido não aceito mais; de verdade; não quero o seu mal; mas o bem dela pra mim é acima de tudo; por favor segue sua vida e deixa ela em paz".
Jairinho então respondeu, também por aplicativo: “Peça desculpas a todos ai, mas não foi o que aconteceu. Também acho que chegou no limite, mas está dito”.
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Agressões comprovadas
O documento da DCAV afirma que além das agressões relatadas, Jairinho agrediu a declarante diversas outras vezes. "As agressões consistiam em socos no rosto, tapas, puxões, enforcamentos, puxões de cabelo, etc. Que Jairinho mantinha, em relação à declarante, um sentimento de posse, pois toda vez que terminava o relacionamento, ele passava a perseguir a declarante e que somente deixava a declarante em paz quando acreditava que a declarante estava bem com ele".
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O relatório diz ainda que por ter medo de Jairinho, Debora costumava enviar algumas conversas que mantinha com ele para o celular de sua irmã, até mesmo para se resguardar.
Segundo o Delegado Titular da Especializada, Adriano França, ficou amplamente comprovado os crimes contra a honra, de ameaça e lesão corporal contra Débora. Jairinho já havia sido indiciado, no último dia 1º, por torturar o filho dela, um menino de 3 anos à época (2016), que teve o fêmur quebrado em uma das sessões de violência. Ainda segundo ele, Jairinho será indiciado com base na Lei Maria da Penha. Para os outros crimes, como calúnia, injúria e difamação, além de ameaça, já houve a extinção da punibilidade em razão do tempo decorrido.
"Mais uma vez o trabalho de Investigação da Polícia Civil conseguiu desconstruir a versão apresentada no interrogatório do indiciado, quando afirmou taxativamente nunca ter agredido sua esposa, ex-namoradas, companheiras ou amantes", disse França.
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Relacionamento conturbado
Debora e Jairinho ficaram juntos um total de seis anos, entre ida e vindas. À época, Jairinho tinha um relacionamento com a mãe de seus filhos, Ana Carolina, mas Debora afirma que não sabia que eles estavam juntos; Em seu depoimento na DCAV, Debora diz que seu relacionamento com Jairinho era conturbado e eles brigavam muito.
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O namoro terminou em outubro de 2020, quando Debora descobre que Jairinho estava tendo um relacionamento com Monique, mãe do menino Henry. Mesmo após o término, o casal se encontrou em janeiro, três vezes, e se falavam com frequência por telefone ou mensagem. Ela relata que eles chegaram a se relacionar nesse período e que Jairinho tentava reatar o relacionamento o tempo todo.
Debora chegou a mentir em um primeiro depoimento na DCAV, quando foi intimada durante a investigação do menino Henry. Perguntada na ocasião sobre agressões contra ela, Debora afirmou que os dois discutiam muito, mas nunca tinha passado das agressões verbais.
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Após a prisão de Jairinho, ela deu um novo depoimento relatando as agressões e admitindo que havia mentido por medo, já que Jairinho pedia que ela contasse 'a verdade', em tom ameaçador.
"Jairinho disse que era para ela ficar tranquila, que não seria nada de mais, dizendo ainda 'é só você falar a verdade, amor' em tom intimidador, tendo Debora dito: "Verdade? Quer mesmo que eu diga a verdade?", pois a declarante sabia que se relatasse as agressões, o prejudicaria. Jairinho respondeu: "Você vai falar a verdade, amor", no mesmo tom, o que fez com que a declarante se sentisse ameaçada e entendesse "o recado", especialmente por este ainda estar em liberdade.
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