Lucas Vinicius da Silva FariasREPRODUÇÃO INSTAGRAM

Por Luisa Bertola* e Yuri Eiras
Rio - Diante da dificuldade de inserção no mercado de trabalho durante a pandemia, Lucas Vinicius da Silva Farias, 21, aceitou a proposta de mudar de estado, em março: deixou a família em Padre Miguel, Zona Oeste do Rio, para trabalhar em uma empresa de consignados em Fortaleza (CE). Mas o que era uma tentativa de independência financeira se tornou um pesadelo para a família no último dia 11: Lucas e outras seis pessoas foram presas pela Polícia Civil do Ceará, suspeitas de aplicarem golpes por meio de substituição de empréstimos consignados. Para a Polícia Civil, Lucas, que não chegou a concluir o Ensino Médio, era um dos suspeitos de liderar o esquema irregular de empréstimo consignado contra funcionários públicos no Ceará. Para a família, Lucas foi enganado por quem o contratou. Ele começou a trabalhar para a empresa no Rio quando surgiu a proposta no Ceará.
"Eu confesso que fiquei meio deslumbrada com a proposta e acabei não pedindo para ele me enviar o contrato", conta Marcella Leite, mãe de 11 filhos e moradora do Conjuntão, uma comunidade de Padre Miguel. "Ele foi para Fortaleza, com um salário bom e ia me ajudar nas despesas. Nunca me relatou nada de estranho, nada de diferente. No dia 11 de junho, eu estava trabalhando e ele ligou dizendo que foi preso lá em Fortaleza. Ele foi levado para a Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF). A polícia chegou na empresa e levou todos os funcionários".
Publicidade
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Marcella Leite (@ma.rcella8258)

DIA teve acesso ao inquérito que aponta Lucas como supervisor da empresa Emery. O esquema, segundo a polícia, foi denunciado por um homem procurado pela companhia, que tinha um banco de dados de pessoas interessadas por empréstimo. A empresa ofereceu um valor de empréstimo e o denunciante afirmou não ter fechado nenhum contrato, mas ainda assim recebeu cerca de R$ 27 mil da empresa. A companhia, então, diagnosticou o erro e pediu para a vítima transferir para uma terceira conta, de Mario Luis Pereira, apontado como dono da empresa. Ele não está entre os presos.
Publicidade
O denunciante afirma ter saído no prejuízo porque, segundo ele, o contrato não foi cancelado. Já o advogado da empresa encaminhou petição ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) pedindo a liberdade dos sete funcionários, com comprovantes de que o valor foi devolvido integralmente.
Enquanto isso, Lucas está preso, sem contato com a família. A mãe recebeu informações de que ele, que é homossexual, está isolado na penitenciária por motivos de segurança. Ele teria sido agredido.
Publicidade
"A advogada de um dos presos me falou que foi na delegacia e viu meu filho todo machucado. Foi aí que veio o meu maior desespero. Eu não consigo mais falar com meu filho. Essa advogada me disse que Lucas estava separado dos outros porque ele era homossexual, e pela segurança dele foi separado. Eu não sei quem agrediu meu filho, se foram os internos", afirma Marcella.
"Eu sempre tive muito medo do preconceito, mesmo aqui no Rio, eu sempre falei com ele sobre isso. Toda vez que ele saia, eu tinha medo, então eu falava para ele não responder caso ouvisse alguma coisa preconceituosa na rua. Isso sempre foi uma preocupação porque eu leio jornal e vejo as covardias que fazem com os homossexuais", completa a mãe.
Publicidade
A Polícia Civil do Ceará informou, por meio da DDF, que o inquérito que investiga o caso foi concluído. "Dezoito pessoas foram indiciadas por estelionato, por organização criminosa, crime contra a ordem tributária e na Lei de crimes de lavagem de dinheiro. Com base em indícios colhidos no curso do trabalho policial, Lucas Vinícius da Silva Farias é suspeito de ocupar um dos cargos de chefia no grupo. O procedimento foi concluído e remetido à Justiça", finaliza a instituição.
*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes