Movimentação de agentes federais durante a Operação FumusEstefan Radovicz

Por Aline Cavalcante
O Ministério Público do Rio (MPRJ) denunciou, nesta quinta-feira (24), quarenta pessoas pelo envolvimento com a comercialização ilegal de cigarros no Rio de Janeiro. O bando atuava em parceria com milícias e o tráfico e tinha centrais de distribuição na Baixada Fluminense, no Rio e no Norte Fluminense. O grupo criminoso é conhecido como 'Banca da Grande Rio', em referência a vínculos de denunciados com a escola de samba Grande Rio. Segundo o MPRJ, os irmãos Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho, e Claudio Nunes Coutinho, apontados como líderes da organização criminosa, são primos de Hélio Ribeiro de Oliveira, o Helinho, presidente de honra da agremiação.
João Ribeiro de Oliveira, outro integrante do bando é, por sua vez, irmão de Helinho. O relatório do MPRJ afirma que João Ribeiro de Oliveira chega a afirmar que não “caiu de paraquedas” no bando, justamente por ser irmão de Helinho, e que diversos denunciados também fazem questão de ostentar seus vínculos com a escola de samba. O documento relata que em uma das imagens João Ribeiro de Oliveira aparece conversando com Francisco Sergio Simões, o Serginho, no “escritório” do bando usando uma máscara com o símbolo da Grande Rio.
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O esquema funcionava da seguinte maneira: A organização criminosa adquiria cigarros de uma marca específica, através de pessoas jurídicas formalmente constituídas e ligadas aos líderes do bando. Após serem adquiridos da fabricante, os cigarros eram levados em caminhões para centros de distribuição, que ficam nas cidades de Duque de Caxias, Rio de Janeiro e Campos dos Goytacazes.

No centro de distribuição os cigarros eram repassados para os integrantes do grupo conhecidos como operadores, que são os responsáveis pela entrega do produto aos comerciantes finais (vítimas de extorsões e roubos). Nas áreas de influência do bando, os comerciantes finais eram, então, constrangidos, mediante grave ameaça, a somente adquirirem as marcas comercializadas pelos criminosos, assim como observar o tabelamento de preços por eles determinados.

A organização se utilizava de fiscais e seguranças para ameaçarem comerciantes que vendem marcas que não aquelas autorizadas pelo bando, bem como aqueles que compram cigarros de pessoas não ligadas aos criminosos e/ou descumprem o “tabelamento” de preços.

Aqueles comerciantes que, nas áreas de influência do bando, optavam por vender cigarros diversos daqueles comercializados pela organização, tinham suas mercadorias apreendidas, e recebiam ameaças.
Em conjunto com as polícias Federal e Civil e a Receita Federal foi realizada nesta quinta-feira (24) a 'Operação Fumus' e quatro acusados foram presos. Um dos presos é o policial militar Flávio Lúcio de Oliveira, lotado no 40º BPM (Campo Grande). O PM Adriano Teixeira também foi preso. A polícia apreendeu documentos, telefone celulares, mais de R$ 55 mil em espécie e grande quantidade de cigarros. A organização criminosa é acusada de extorsão, roubo, corrupção, lavagem de dinheiro, duplicada simulada e delitos tributários.
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Estrutura da organização

Os irmãos Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho, e Claudio Nunes Coutinho são os “patrões” e líderes da organização criminosa. Os dois são primos de Helinho, presidente de honra da Grande Rio. Também ocupa a função de “patrão”, mas em menor grau, Pedro Henrique Pinheiro Carvalho.

Os “patrões” são os responsáveis pela gestão do esquema criminoso e destinatários finais dos lucros obtidos com as atividades espúrias, além de empenharem suas empresas no exercício da atividade criminosa. Na qualidade de gestores do esquema criminoso, Adilsinho e Claudio Nunes Coutinho lotearam as áreas de atuação do bando, sendo cada irmão Coutinho responsável por determinadas áreas.

Cada “patrão” comercializava de 600 a até mais de mil caixas de cigarros por mês, levando-se em conta apenas o centro de distribuição situado no “escritório”. Assim, o montante de unidades de cigarros comercializadas pelo bando, levando-se em conta apenas o “escritório” de Duque de Caxias, alcança a marcas que ultrapassam a 10 milhões de cigarros por mês.

Ainda de acordo com o relatório do MPRJ, o segundo escalão da organização criminosa é dividido entre João Ribeiro de Oliveira, irmão de Helinho, Marcio Roberto Braga e o policial militar Wallace Soares Gonçalves, o Cabeça ou Kbça, ao todo, seis policiais militares estão entre os denunciados.

Na divisão dos lucros, os membros de primeiro escalão levavam 70% e os de segundo escalão ficavam com 30%. O faturamento entre os meses de setembro de 2019 e fevereiro de 2020 totalizou R$ 9,3 milhões, com média mensal de mais de R$ 1,5 milhão. Desde 2019, até os dias atuais, a organização faturou mais de R$ 45,1 milhões.

Envolvimento com a milícia e tráfico

Outro modo de atuar do bando, característico de suas extorsões, é a realização de parcerias com outras organizações criminosas, sejam elas ligadas ao tráfico de drogas ou a milícia, se valendo da
estrutura de medo e coação que tais grupos exercem em suas áreas de domínio, para obrigar os comerciantes daquelas áreas a, apenas, venderem as marcas e cigarros do grupo.

Segundo a denúncia do MPRJ, a parceiria entre as organizações criminosas fica clara em ligações entre os acusados, onde citam áreas de domínio da milícia. Em um dos áudios, Francisco Sergio Simões, o Serginho, relatou seu encontro com milicianos para o acusado Henrique da Silva Turques. Membros dos primeiros escalões do bando também estão envolvidos com a exploração do jogo do bicho, de bingos e máquinas caça-níquel.
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De acordo com o MPRJ, o bando contava com "ajuda de funcionários públicos e se valeu dessa condição para a prática dos delitos, além de manter conexões com outras organizações criminosas independentes, ligadas ao tráfico de drogas e milícias".

Denúncia de ex-integrante

Segundo a denúncia feita pelo MPRJ, a investigação ainda contou com provas obtidas através de acordo de colaboração premiada celebrado com um ex-integrante da organização criminosa. O colaborador era comerciante de bebidas, comidas e cigarros em Duque de Caxias e, inicialmente, foi vítima dos criminosos, pois teve cigarros “apreendidos” (roubados) pelo bando e passou a ser obrigado, mediante grave ameaça, a vender os produtos da organização criminosa.
Com o passar do tempo, o colaborador acabou entrando para o grupo, assumindo a posição de “operador”, e era responsável pela distribuição dos cigarros para os comerciantes vítimas e pela realização da fiscalização sobre eles. Mas, em 2019, se desentendeu com um integrante do bando e acabou rompendo com os criminosos.
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Após ameaças, o ex-integrante resolveu procurar a policia para contar o que sabia sobre a organização criminosa em troca de proteção. 

Lista dos denunciados
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ADILSON OLIVEIRA COUTINHO FILHO
ADRIANO TEIXEIRA BASTOS
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ALEXANDRE DA ROCHA GONÇALVES (v. “Barão”)
ALOISIO DE SOUZA (v. “Mito”)
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CARLOS AUGUSTO DE CASTRO RODRIGUES (v. “Guto”)
CARLOS HENRIQUE DE ARAÚJO (v. “Henrique Máquina”)
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CLAUDIO NUNES COUTINHO
CLAUDIO LUIZ STOLET HERDY
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CRISTIANO RIBEIRO RODRIGUES
DAVIDSON DA COSTA VIANA BRAGA
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DIEGO CANDIDO SOARES
DIVINO JULIO DE ASSIS
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FÁBIO BASSON DE MELO (v. “Fabinho”)
FLAVIO LUCIO DE OLIVEIRA LEMOS (v. “Bololó”)
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FRANCIS COUTINHO SOARES
FRANCISCO SERGIO NUNES SIMÕES (v. “Serginho”)
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GLEISON GOMES BARBOSA (v. “Siri”)
GUTEMBERG ANDRADE DE SANTANA
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HENRIQUE DA SILVA TURQUES
HENRIQUE OLIVEIRA DE ARAÚJO (v. “Riquinho”)
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IGOR AGUIAR BAPTISTA DE OLIVEIRA (v. “Cara de Cavalo”)
IGOR GUIMARÃES SILVA
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JOÃO RIBEIRO DE OLIVEIRA
JOSÉ MOACYR FERNANDES DE OLIVEIRA (v. “Cabeça”)
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LUÍS CLÁUDIO SOUZA DAS NEVES (v. “Gordinho” ou “Gordinho do Gelo”)
MARCELO SILVESTRE DA SILVA (“Salu”)
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MARCIO ROBERTO BRAGA
MARCO ANTÔNIO CASADO LIMA (v. “Batata”)
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PEDRO HENRIQUE PINHEIRO CARVALHO
RAFAEL ARAÚJO DA SILVA
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ROGGER FERNANDES
RONALD MACHADO DA CRUZ
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RONILE DE OLIVEIRA SANTOS
SIDICLEI SEBASTIÃO DE FREITAS (v. “Moa”)
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VAGNER OLIVEIRA DE ANDRADE (v. “Fortinho”)
VITOR HUGO GONÇALVES DA SILVA OLIVEIRA (v. “Agonia”)
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WALLACE SOARES GONÇALVEZ (v. “Cabeça” ou “KBÇA”)
WELLINGTON SOARES GONÇALVEZ (v. “Nem”)
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WILIIAM DA SILVA AMORIM
WILLIAN DE SOUZA BOECHAT (v. “Russo” ou “Russão”)