Ato em homenagem aos mortos pela covid-19, na CinelândiaReginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Por Karen Rodrigues*
Rio - A Frente Parlamentar pela Liberdade Religiosa e o projeto “Memória Não Morrerá”, do coletivo “Linhas do Rio”, realizaram, nesta terça-feira (29), um ato inter-religioso em memória às vítimas da covid-19 na escadaria da Câmara Municipal do Rio, na Cinelândia, no Centro. Com o tema “Que os mortos descansem e os vivos despertem”, o ato reuniu representantes de diversas religiões e manifestantes que perderam familiares e amigos para o vírus. Além disso, expôs um painel de 40 metros de comprimento com cerca de 3 mil nomes bordados de vítimas da doença.
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O projeto “Memória Não Morrerá” teve início em março deste ano e reúne bordados de coletivos militantes do Brasil inteiro, como o das mulheres bordadeiras do coletivo Linhas do Rio.
“Esses painéis expostos hoje aqui na Cinelândia são painéis com nomes de pessoas que morreram durante a pandemia. As ‘Linhas do Rio’ receberam os nomes pelos familiares para serem bordados nesses painéis. Tem cerca de 3 mil nomes bordados, representando as 514 mil vidas perdidas pela covid-19 pelo desgoverno que a gente vive, que não dá vacina ao povo brasileiro”, disse Reimont, de 59 anos, um dos organizadores do ato.
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A representante do coletivo Linhas do Rio, Gláucia Garcia, contou ao DIA que o projeto só vai terminar quando a pandemia acabar e as mortes pararem.

“Hoje nós estamos aqui homenageando os mortos neste ato, em solidariedade às famílias e com a esperança de sensibilizar as pessoas nessa pandemia. A gente considera que a covid é uma tragédia. Mas a situação brasileira no momento se agrava. A política sanitária que foi escolhida pelo Governo Federal e por seus aliados agravou enormemente essa situação”, lamentou.
A bordadeira explicou que o coletivo faz bordados militantes nas praças da cidade, mas que sentiu a necessidade de começar a bordar os nomes das vítimas da covid-19, pois os números de mortes pareciam muito distantes da realidade e as pessoas pareciam não se sensibilizar.
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“Quando se fala de números, fica muito difuso, muito distante. Por isso a gente está bordando os nomes. Todos os nomes que estão aqui são de pessoas mesmo. Eu acho que não há ninguém nessa praça aqui que não tenha perdido alguém. Pela primeira vez na história do Brasil, a gente teve mais mortes do que nascimento. Isso é uma tragédia que a gente está vivendo, que a gente vai sentir durante muitas gerações”.
Gláucia ainda ressaltou o fato das mortes pela covid-19 serem solitárias, tanto para a vítima, quanto para a família. “Essas pessoas que estão morrendo, elas estão morrendo em absoluta solidão, elas estão internadas e elas desaparecem. Quando elas retornam, elas vão retornar dentro de um saco mortuário, elas não têm direito a um funeral. Os familiares, os amigos também não têm direito a esse funeral”.
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O trabalho do coletivo “Linhas do Rio” já esteve em São Paulo, com o Padre Julio Lancelotti, em Brasília e agora voltou para o Rio. Em seguida, o painel deve ser levado para Belo Horizonte.
“Acho importantíssimo essas manifestações, porque o Brasil ainda está em plena pandemia, e o governo parece que esqueceu da gente. E eu acho que qualquer manifestação traz à tona essa importância de preservar a vida. Acho que nunca podem ser esquecidas essas mais de 500 mil mortes”, afirmou o jornalista Franklin Vogas, de 49 anos, que perdeu um parente e um amigo para a covid-19.
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*Estagiária sob supervisão de Cadu Bruno