Delegado Maurício Demétrio (a frente) e policial civil Celso de Freitas (no fundo) foram denunciados pelo Ministério Público. Foto de 6/10/2020, durante operação que mirava quadrilha que praticava extorsão de comerciantes de MadureiraReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Por GUSTAVO RIBEIRO E YURI EIRAS
Rio - O delegado Maurício Demétrio, preso na manhã desta quarta-feira (30) pelo Ministério Público, por suspeita de cobrar propina de comerciantes de produtos falsificados em Petrópolis, é apontado também como o mentor de uma operação falsa, realizada em março, com a intenção de obstruir e enfraquecer investigações que já estavam em andamento contra ele e seu grupo. Demétrio chegou a envolver e prender em flagrante o delegado Marcelo Machado, quem justamente o investigava. Machado foi solto logo após pagar fiança.
Maurício Demétrio chegou por volta das 12h à sede da Corregedoria da Polícia Civil, no Centro, e negou o conteúdo da denúncia do Ministério Público. "A diligência que o Gaeco me acusa de ser retaliação foi mandado pelo Ministério Público. Não existe nada forjado, de jeito nenhum. O dinheiro (encontrado em seu apartamento) foi declarado no Imposto de Renda, inventariado, herança da minha mãe. Os carros foram comunicados à Corregedoria. Foi uma retaliação, com certeza, capitaneada pelo Gaeco", afirmou.
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A operação denunciada pelo MPRJ como forjada, denominada pela Delegacia de Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) como 'Raposa no Galinheiro', teve ampla divulgação na imprensa, em março. Titular da especializada na época, Maurício apontou o delegado Marcelo Machado como "operador de um grupo criminoso composto por outros quatro delegados", que supostamente confeccionavam roupas falsas. Machado, que na época estava lotado no Setor de Investigações Complexas, apurava justamente a atuação de Demétrio. A investigação em andamento na Corregedoria vazou para Celso de Freitas Guimarães Junior, chefe da DRCPIM, e homem de confiança do delegado.
A denúncia do Ministério Público aponta que o grupo de Demétrio forjou conversas de Whatsapp se passando por interessados em adquirir camisetas fabricadas pela confeccção que pertence a Marcelo Machado e seu sócio, Alfredo Dias Babylon. Os produtos encomendados foram usados para incriminar Machado na operação falsa. O Gaeco, no entanto, percebeu que a representação contra Machado foi feita e apresentada em data anterior à encomenda das camisas, antes mesmo de elas existirem.
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Na época, em entrevista ao DIA, Demétrio comentou: "é assustador saber que um agente de segurança está envolvido nesse tipo de crime. Eu ainda não estou acreditando. Fizemos nossa parte. A partir de agora todos passam a ser investigados pela Corregedoria da Polícia Civil". Para o Ministério Público, a operação foi "uma flagrante manipulação da imprensa, uma gigantesca manobra de obstrução de justiça".
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"Ao incriminar falsamente o colega Marcelo Machado e seu sócio Alfredo e caluniar outros delegados e testemunhas, cujos nomes nem mesmo constavam no inquérito policial e na medida cautelar que levaram à deflagração da operação, Maurício Demétrio agiu para retirar a credibilidade das testemunhas e a fiabilidade dos relatos já prestados, impingir mácula falsa à atuação dos investigadores e coagir moralmente estes indivíduos, embaraçando as investigações em curso", aponta a denúncia do MP.
Operação falsa teve segunda fase, abortada após chegada do Ministério Público
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A operação 'Raposa no Galinheiro' ainda teve uma segunda fase, esta em Petrópolis. O MPRJ aponta que o argumento de Demétrio era o combate à pirataria nas lojas da região, mas a ida à Região Serrana se deu para coagir testemunhas e demonstrar poder, "de modo a desestimular a colaboração de novas testemunhas".
A operação contava com caminhão, motorista e equipes de carregadores, mas terminou antes do programado: quando o Ministério Público compareceu ao local e determinou que as ocorrências fossem apresentadas na 105ª DP (Petrópolis), e não na DRCPIM, Maurício Demétrio abortou a operação, abandonando o material apreendido e retornando com a equipe para o Rio.
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'Operação Carta de Corso': busca e apreensão na própria Cidade da Polícia
Segundo o Ministério Público, o esquema ocorreu entre março de 2018 e março de 2021, quando Maurício Demétrio era o titular da DRCPIM. O delegado e outros policiais civis exigiam dos lojistas da Rua Teresa, em Petrópolis, o pagamento de propina de R$ 250 mensais e outras vantagens indevidas para permitir que continuassem a venda de roupas falsas. A Rua Teresa é conhecida pelo comércio popular.
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O esquema criminoso era dividido por dois núcleos: um agia em Petrópolis e era responsável por ameaçar os lojistas e recolher os valores cobrados. Outro, pelos policiais civis, que cumpriam diligências policiais contra determinados lojistas por "forma de represália", segundo o Gaeco, subvertendo "a estrutura da Polícia Civil em instrumento de organização criminosa".
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O objetivo da operação do Ministério Público é cumprir oito mandados de prisão e 14 de busca e apreensão, alguns na própria DRCPIM, na Cidade da Polícia. Seis prisões foram realizadas, cinco contra policiais civis. O delegado foi preso em casa, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.
Em nota, a Polícia Civil informou que a Corregedoria "já possui procedimentos abertos sobre este caso e solicitará informações ao Ministério Público sobre a operação de hoje para juntar nas investigações".