Presos pelo Ministério Público na operação ’Carta de Corso’ chegam à sede da Corregedoria da Polícia Civil, no CentroREGINALDO PIMENTA/AGÊNCIA O DIA
De acordo com a denúncia produzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), à qual O DIA teve acesso, após saber que Machado, que estava lotado na Corregedoria da Polícia Civil, o investigava por cobrar propina de R$ 250 por semana a comerciantes da Rua Tereza, em Petrópolis, Demétrio se passou por representante de uma Organização Não Governamental (ONG) para encomendar mil camisas com a estampa dos personagens 'Minions'.
Sem se opor ao valor cobrado de R$ 32 mil e identificando-se pelo Whatsapp como Ana, o delegado, que na época estava lotado na Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), disse que as peças seriam doadas para crianças carentes. Tal constatação foi feito após o depoimento do sócio do delegado Maurício Machado ao MP.
"Ao ser indagado, esclareceu que todas as 1000 camisas estampadas com os 'Minions' compunham uma mesma “encomenda”. Elas teriam sido encomendadas por uma mulher desconhecida, que compareceu à loja, se identificou apenas como 'Ana', fez a encomenda e deixou o número para contato. Alfredo disse que após esse primeiro contato presencial todo o desenrolar da negociação ocorreu por meio do aplicativo de mensagens", informou aos promotores.
O Gaeco apurou que a conta do aplicativo em nome de 'Ana' se tratava de um perfil falso, após a operadora de telefone informar que a linha era pré-paga e estava cadastrada em nome de um homem, com CEP inválido de outro Estado.
Através da utilização de Estações Rádio Base (ERBs), o Ministério Público descobriu que o celular do responsável por encomendar as camisas dos 'Minions' estava localizado nos arredores do condomínio onde Maurício Demétrio mora, na Barra da Tijuca.
"A resposta da referida operadora, também em cumprimento à ordem judicial, revelou que os IPs empregados na utilização do perfil de Whatsapp de 'Ana' eram referentes a conexões feitas pelo próprio Delegado de Polícia Maurício Demétrio, por meio de conexões de internet a partir de seu telefone particular e da internet fixa instalada em sua residência", descreve a denúncia.
Os promotores também descobriram que dias antes de fazer a encomenda, o advogado da quadrilha de Demétrio, Ricardo Alves Junqueira Penteado, já havia representado pelos direitos autorais dos personagens estampados nas camisetas e classificando-os como falsificados.
"A representação corroborava o relato de Alfredo, e o conjunto de elementos até aquele momento angariado deixava claro que a trama para preparar o flagrante contra o delegado Mauricio Machado e seu sócio contava com a indispensável participação de um advogado representante das marcas", afirma o documento.
Mesmo após receber o retorno de que as camisas ficaram prontas, o responsável pela encomenda não foi buscá-las. Segundo o MP, Demétrio usou este tempo para conseguir a expedição do mandado de busca e apreensão contra a empresa de seu colega e realizar a prisão em flagrante.
"O desenrolar dos diálogos comprova de modo irrefutável a preparação do flagrante, destacando-se a postergação da busca da encomenda até que os mandados fossem obtidos (...) assim como revela a frieza de Maurício Demétrio para, de forma premeditada, manter a negociação por semanas, até obter os mandados que almejava para deflagração da malfadada operação".
O Gaeco classificou a organização criminosa como nefasta e perigosa.
"Tais elementos de prova expõem de forma inatacável o quanto nefasta e perigosa é a organização criminosa capitaneada por Maurício Demétrio, capaz de utilizar seu poder como autoridade policial e toda a estrutura que a Polícia Civil lhe provê para de forma ardilosa tramar flagrante preparado contra colega delegado de polícia".
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