Ponteiras do gradil que circula o Campo de Santana são furtadas para venda em ferros-velhos clandestinos Robson Moreira

Por Lucas Cardoso
Rio - A má condição de conservação do Campo de Santana, localizado na Praça da República, no coração do Centro, vem chamando a atenção de quem passa pela Avenida Presidente Vargas. Isso porque um dos elementos que compõem a estrutura do espaço público, a grade e os pórticos, tem sido alvo de furtos: uma peça de acabamento instalada nas grades, com formato de flecha e pintada de amarelo, tem poucos exemplares ainda presos à estrutura de proteção. Segundo a Fundação Parques e Jardins (FJP), nos últimos anos, 3.947 ponteiras - como as peças são chamadas - foram furtadas.
Diferente das estátuas que fazem parte de monumentos no interior do parque, muitas vezes feitas de bronze, as ponteiras pintadas de amarelo do gradil são de ferro fundido. O material tem bem menos valor de revenda, mas ainda assim atrai a atenção dos criminosos e, hoje, é raridade em alguns pontos do parque. A parte do espaço público com entrada pela Avenida Presidente Vargas, de frente para o Palácio Duque de Caxias, por exemplo, tem apenas três exemplares restantes em uma extensão de cerca de 300 metros de grade. 
Quem passa pela frente do Campo de Santana no deslocamento para as movimentadas Rua do Saara e Rua Senhor dos Passos, principal centro de comércio popular, percebe a condição ruim da estrutura. "É triste ver um local bonito como esse largado e com tantos sinais de depredação. Só passamos aqui porque minha filha insistiu para ver as cutias, porque normalmente evito. Acho que as grades são só uma parte dos problemas que vemos aqui dentro", comentou a moradora de Duque de Caxias, Cristiane de Azevedo, de 42 anos, ao lado da filha, Julianny de Azevedo, de 10.
Segundo um ambulante que trabalha em uma das calçadas do Campo de Santana e preferiu não se identificar, os furtos das peças costumam acontecer durante a noite e madrugada, quando o movimento é bem menor no Centro e o parque está fechado. O local funciona das 6h da manhã às 17h e conta com vigilantes nas entradas e rondas da Guarda Municipal. 
A moradora do centro, Rosângela Meirelles, de 54 anos, e suas sobrinhas, Mariah Meirelles, de 17, Renata Meirelles, de 33, acreditam que a menor movimentação no Centro provocada pela pandemia pode ter ampliado a sensação de impunidade. "Não tem ninguém olhando, fica mais fácil", disse, Renata.
Apesar das ruas mais vazias durante a pandemia, a Polícia Militar informou que, de acordo com os dados estatísticos compilados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), num comparativo de janeiro a abril entre os anos de 2020 e 2021, houve queda de 19,4% no total de furtos no Estado do Rio de Janeiro.
Mas a conservação e manutenção das grades e pórticos não são os únicos problemas vistos no Campo de Santana. Durante uma visita feita pela reportagem no local, foram feitos flagrantes de lixeiras quebradas, lixo no chão, iluminação com fiação exposta e aparente, além da presença de pessoas em situação de rua fazendo consumo de drogas. 
A condição afasta o carioca que busca um opção de lazer. É o caso de Renata Meirelles, de 33, moradora do centro mencionada acima. Ela vive no centro desde que nasceu, mas nunca teve o Campo de Santana como uma área de lazer aos fins de semana. "Não temos opção de lazer aqui. Por tudo que vemos quando precisamos atravessar o campo de passagem, durante a semana, fica difícil de ter o parque como alternativa. E dizer isso é uma pena, porque a natureza do parque é linda", comenta.
O grupo de amigos Julia Duarte, 21, Gabriele Eli, 26, Caroline Teixeira, 21, Wellington de Jesus, 24, Jéssica Nascimento, 23, contam que, por trabalharem perto do Campo, frequentam o parque quase diariamente. "Nós gostamos da natureza daqui, mas a manutenção, conservação e o social para as pessoas que estão em situação de rua poderia ser mais bem feito", opinou Wellington. 
A FPJ foi questionada sobre a coleta de lixo, manutenção de bancos, iluminação e até da segurança no parque. Em resposta oficial, esclareceu sobre a limpeza que a Comlurb atua todos os dias na limpeza das áreas verdes e vias, contando com o apoio dos servidores da Fundação.
Explicou ainda que parte do lixo encontrado pela reportagem no chão, se tratava de restos de quentinhas distribuídas por vizinhos do parque às pessoas em situação de rua que passam o dia no interior do Campo de Santana.
Sobre a fiação aparente nos postes, a fundação menciona que por ter instalações de iluminação muito antigas, algumas delas, inclusive, passaram por reformas para trocar cabeamento corroído ou deteriorado.
Quanto a questão das pessoas em situação de rua no local, o órgão esclareceu que trabalha em conjunto com a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) no cuidado, suporte e condução voluntária ao acolhimento, mas que essa opção deve ser escolha do próprio cidadão em condição de vulnerabilidade. "Muitos moradores em situação de rua são atendidos diversas vezes e nem sempre aceitam a acolhida em um abrigo", esclarece. 
Lago vazio
Outro flagrante feito pelo dia foi a condição do maior trecho do maior lago do parque, que fica próximo ao Portão do Corpo de Bombeiros e é cortado pela Ponte Rocaille. O local está seco e acumula detritos. Segundo a Parques e Jardins, disse foi entregue com problemas de infiltração e precisou ser esvaziado para receber manutenção devida. Ainda não há previsão para que os reparos sejam concluídos.
 
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