O filme "Complexos", fala sobre a disputa de narrativas sobre as favelas cariocas e busca trazer um novo olhar, de dentro da comunidade a respeito do próprio espaçoDivulgação

Rio - Retratando a experiência de artistas moradores de favelas do Rio que enfrentam desafios para produzir trabalhos sobre a própria comunidade, o documentário “Complexos” está com data marcada para o seu lançamento. No dia 29 de julho, ele será disponibilizado gratuitamente na plataforma Bombozila (conhecida por reunir conteúdos sobre grupos minoritários).
O documentário busca através de entrevistas trazer a reflexão sobre a história de artistas, realizadores e comunicadores, abordando questões que atravessam seus cotidianos e fazeres artísticos. Com duração de 26 minutos, os diálogos foram realizados em diferentes locais, entre eles: bares, lajes, praças e ambientes comuns que possuem um forte valor simbólico nas comunidades onde as gravações foram feitas.
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A série propõe uma narrativa que busca retratar diferentes possibilidades de representar a vida nas favelas cariocas, a partir do ponto de vista dos próprios moradores. No dia do lançamento do documentário, também é comemorado o aniversário do bairro do Jacarezinho, que no dia 6 de maio foi palco da operação policial mais letal da história do RJ.
O filme tem como partida a pesquisa de doutorado de Leonardo Custódio sobre midiativismo nas favelas. Ele, que é natural do município de Magé, na Baixada Fluminense, falou a respeito da importância da comunicação popular. Para o pesquisador, o que é dito sobre as comunidades não pode corresponder à realidade, pois as pessoas da própria região não participaram da construção dessas ideias.
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“A comunicação popular é o uso dos meios disponíveis por pessoas que habitam, por exemplo nas periferias e favelas, para se comunicar um com o outro e para se comunicar com a sociedade. E isso é um fenômeno que acontece desde que a periferia é periferia. A construção de narrativas feita por moradores de favelas e periferias, ela está dentro dessa ideia de que o que é dito sobre nós não condiz com a nossa realidade, complicada, complexa, cheia de nuances e a gente precisa contar outras coisas que nos definem. Uma forma de apoiar essas narrativas é assistir, acessar, compartilhar essas narrativas", afirmou.
O filme "Complexos" foi produzido pelo coletivo audiovisual Cafuné na Laje, do Rio de Janeiro, e pela iniciativa Aliança Midiativista Anti-Racista, (ARMA Alliance), da Finlândia. O documentário foi exibido no Festival Panorâmica, o maior da Suécia sobre cinema latino-americano.
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"A importância do filme está nas pessoas que são abordadas e suas trajetórias. São pessoas que realizam e disputam o significado do que é viver em favela, expondo o quão diversas são essas vidas. E sobre o que a narrativa ajuda a contrapor, é nos alertar que, infelizmente, por mais belas que essas trajetórias sejam, por mais importante que sejam esses olhares e existências, esses artistas, realizadores, comunicadores são exceções que confirmam a regra excludente no qual a sociedade brasileira está inserida. Não é apenas a favela que perde com essa exclusão, todos nós perdemos enquanto sociedade com o racismo e a política de morte no qual os espaços que essas pessoas retratadas no filme cresceram e vivem até hoje", afirma JV Santos, realizador em Cinema e Audiovisual e co-fundador da “Cafuné na Laje”, produtora do documentário.