Moradores fazem protesto em um dos acessos da comunidade
Moradores fazem protesto em um dos acessos da comunidadeDaniel Castelo Branco/Agência O Dia
Por Jenifer Alves
Rio - A PM reforçou o patrulhamento nos acessos ao Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, nesta sexta-feira (07) após a ação da Polícia Civil que deixou 28 mortos, incluindo um policial, nesta quinta-feira (06). Moradores realizam uma manifestação na Cidade da Polícia e em um dos acessos da comunidade, na Avenida Dom Helder Câmara. Nos cartazes, o grupo pede o "fim do massacre das polícias".
Moradores fazem protesto na cidade da polícia após operação no Jacarezinho - Reprodução/WhatsApp O Dia (21 98762-8248)
Moradores fazem protesto na cidade da polícia após operação no JacarezinhoReprodução/WhatsApp O Dia (21 98762-8248)
Publicidade

Em uma nota, divulgada pelos coletivos e ONGs do Jacarezinho, organizadores de uma segunda manifestação destacam que os moradores da comunidade foram acordados sob intenso tiroteio, que resultou no assassinato de mais de 24 civis e um militar, em uma incursão policial que durou mais de 9 horas.
LEIA MAIS: Número de mortos durante operação no Jacarezinho é o maior registrado desde 2016, diz levantamento

“Em meio a uma pandemia que matou 410 mil pessoas, 45 mil só no Rio de Janeiro, ocorreu a operação mais letal da história do estado. Como se já não bastasse estarmos morrendo por uma doença pela qual já existe vacina, ainda somos submetidos a um cotidiano de brutal violência por parte do Estado. Não há outro nome para o que acontece nas favelas e periferias, o que vivemos é genocídio contra a população negra desse país. Diante dessa realidade de extermínio, seguimos com o mesmo questionamento: quais vidas importam?”, argumentou.
Publicidade
Giovana Almeida, que estava no protesto, disse que a ação que deixou 25 mortos no Jacarezinho é um tipo de operação rotineira no Rio de Janeiro e que as políticas de segurança não oferecem proteção às comunidades.

"Estamos fazendo esse ato hoje porque é algo que acontece rotineiramente aqui no nosso estado. Hoje a política que a gente tem de segurança é uma política de morte que faz com que uma chacina ocorra em um dia comum no Rio de Janeiro, em meio à pandemia. Essa cena das pessoas sofrendo, das mães chorando pela perda dos seus filhos é o que acontece sempre nas favelas. É por isso que a gente tem que se manifestar, a favela quer comida, quer educação, quer seus direitos", disse.
 
Publicidade
Durante a manifestação, uma moradora disse que os criminosos iriam se entregar, mas que a prisão não seria a intenção da polícia. “Eles vieram para matar, eles iam se entregar, mas vieram para matar. São 25 mães chorando, eu quero meu filho”, disse a mulher que precisou ser amparada por outro morador.
Publicidade
João Pedro, universitário e coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também estava presente na manifestação e lembrou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que proíbe a realização de operações nas comunidades durante a pandemia de covid-19.

"Ano passado, em meio à pandemia, a gente conseguiu que as operações fossem suspensas pelo STF. Essa decisão vem sendo reiteradamente descumprida e ontem 25 pessoas foram assassinadas aqui no Jacarezinho. Esse é o resultado dessa guerra às drogas, que na verdade é uma guerra aos pobres que com a desculpa de acabar com o tráfico só produz assassinatos", argumentou.

Um ato público foi convocado para as 17h desta sexta-feira, em frente à quadra da G.R.E.S Unidos do Jacarezinho.

A nota é assinada pela associação de moradores do Jacarezinho, Cafuné na Laje, G.R.E.S Unidos do Jacarezinho, Instituto de Defesa da População Negra (IDPN), Jcré Facilitador, Jacaré Basquete, LabJaca, NICA (Núcleo Independente e Comunitário de Aprendizagem) e a ONG Viva Jacarezinho.

Durante a coletiva realizada na cidade da polícia, após a operação, o delegado Felipe Curi alegou que todos os mortos seriam criminosos, mas não divulgou a identificação deles.

“Os 24 mortos eram 24 criminosos mortos, diga-se de passagem, porque não tem nenhum suspeito aqui. A gente tem criminoso, bandido, traficante e homicida porque tentaram matar os policiais na ação” disse.
Publicidade
As operações nas comunidades estavam proibidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) desde junho de 2020 em razão da pandemia do coronavírus. De acordo com a decisão, ações nas favelas só poderiam ser realizadas em ocasiões excepcionais e após aviso ao Ministério Público. O Plenário Virtual do Supremo vai discutir, entre os dias 21 e 28 que pontos garantem esta excepcionalidade.