Arquivo - Agentes de Saúde fazem uma busca pelas pessoas que ainda não tomaram a segunda dose do imunizante contra a covid-19Bernardo Costa

Rio - Apesar do avanço da campanha de vacinação, o Estado do Rio de Janeiro tem 600 mil pessoas com a segunda dose atrasada do imunizante contra a covid-19, segundo um estudo feito por pesquisadores da UFRJ e USP. A situação é preocupante, pois o atraso compromete a imunidade global de quem recebeu a vacina e - com a chegada da variante Delta - as taxas de transmissão do vírus, atualmente mais baixas, podem voltar a subir. Na capital, são 89 mil atrasados.
O vacinômetro do Estado do Rio, atualizado nesta terça-feira (20), mostra que 2,76 milhões de pessoas receberam as duas doses contra a covid-19, incluindo quem recebeu a vacina Janssen, de uma só aplicação. Um levantamento feito pelo DIA com base nesse indicador e nos números do Censo do IBGE de 2010 mostra que a quantidade representa uma taxa de 21,9% de imunização completa. Outros 54,7% estão apenas com a primeira injeção.
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Na capital, 89 mil pessoas estão com a segunda dose atrasada. O secretário municipal da Saúde, Daniel Soranz, anunciou na última sexta (16) que a prefeitura reforçará as ações de busca ativa em setembro para completar a imunização dos atrasados. A atividade já acontece, mas será fortalecida após a cidade concluir a distribuição da primeira dose para todos os cariocas até 12 anos.
A médica e pesquisadora Lígia Bahia, da UFRJ, afirmou que o cenário epidemiológico vivido no estado do Rio e também no país é "preocupante", pois as taxas de transmissão da covid-19 podem voltar a subir sob influência da chegada da variante Delta. Ela foi uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo que apontou as 600 mil pessoas atrasadas, em conjunto com os cientistas Guilherme Werneck e Jessica Pronestino, da mesma universidade, e Mário Scheffer, da USP.
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"O Rio de Janeiro é um dos estados com a maior letalidade da covid-19 no país e olhar para ele neste momento é uma prioridade nacional. Assim como no Amazonas e outras unidades federativas do Norte do Brasil", afirmou Lígia.
A respeito da situação no país, a pesquisadora explicou que considera o cenário perigoso e que a taxa de vacinação completa ainda está abaixo do que é necessário para proteger a população contra a variante Delta e todas as demais cepas.
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"A situação é super preocupante, pois o Brasil não se situa entre os países com maiores coberturas de imunização. Na realidade, estamos próximos da Argentina e outros países com a aplicação das duas doses em torno de 20%. Em lugares onde houve cobertura de 40% ou mais, houve recrudescimento de casos, mas ao que tudo indica, com a variante Delta, a preocupação é que as taxas de transmissão voltem a ser altas. Países como Estados Unidos, Holanda, Canadá e vários outros lugares estão acompanhando esta tendência", afirmou a pesquisadora.
Para Lígia Bahia, com o avanço do esquema completo de vacinação, é possível garantir a proteção contra casos graves e óbitos provocados pela covid-19.
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O estado do Rio autorizou, na última terça-feira (13), que todos os 92 municípios reduzissem de 12 para 8 semanas o intervalo entre a primeira e a segunda dose da vacina, com o objetivo de ampliar a cobertura completa da população. A decisão, contudo, não foi acompanhada pela capital fluminense, em função de uma eventual redução da eficácia da vacina. Perguntada sobre a orientação do governo, Lígia Bahia ponderou que a medida pode ser positiva, mas que o país enfrenta um cenário de escassez de doses.
"Adiantar a segunda dose é uma medida que estaria adequada para um cenário epidemiológico em si, entretanto, não considera que temos uma outra variável que é a oferta de vacinas. A gente continua com a disponibilidade escassa no Brasil, então, encurtar o espaço também pode gerar o risco de ter falta dos imunizantes. O ritmo da campanha ainda é lento porque estamos com pouca disposição de vacinas no país, por isso, encurtar o espaço é arriscado", explicou.
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Seis municípios anunciaram o número de ‘atrasados’ com a 2° dose
Na Região Metropolitana, as prefeituras do Rio de Janeiro, Japeri, Nova Iguaçu, São Gonçalo, Itaboraí e Duque de Caxias informaram a quantidade de pessoas que ainda não compareceram para receber a sua segunda dose. A orientação dos municípios é que os ‘atrasados’ compareçam o mais rápido possível para receber a sua segunda dose nos postos. (Confira abaixo a lista completa de faltosos)
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Rio de Janeiro - 89 mil
Nova Iguaçu - 22,6 mil
Itaboraí - 13,5 mil
São Gonçalo - 8,4 mil
Japeri - 4,4 mil
Duque de Caxias - 3,2 mil
Em nota, a SES informou que, por meio da Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde, "não teve acesso à metodologia do estudo e, portanto, não tem como comentar os dados citados". Veja a íntegra:

"A SES ressalta que a gestão da vacinação e o registro de doses aplicadas no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), do Ministério da Saúde, são de competência municipal. No entanto, desde o início da campanha de vacinação contra a Covid-19, a Secretaria tem reforçado a importância da atualização do registro das aplicações por parte das secretarias municipais de Saúde, que vêm apresentando dificuldades técnicas ou de pessoal para cadastrar as informações. Com isto, observou-se a ocorrência de atraso por parte dos municípios na transmissão das informações. Ou seja, as imunizações estão ocorrendo, mas não é possível observar esses números por meio dos números registrados. O assunto é reiteradamente cobrado nas mensagens enviadas às áreas técnicas dos municípios, e será retomado pela SES com os secretários municipais de Saúde na próxima reunião da Comissão Intergestores Bipartites (CIB).

Os dados da vacinação no estado informado pelos municípios estão disponíveis no site: https://vacinacaocovid19.saude.rj.gov.br/vacinometro."
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*Estagiário sob supervisão de Bernardo Costa