Investigações continuam para descobrir se outras jovens foram vítimasReprodução/Redes Sociais

Rio - O professor de muay thai Edson Souza foi indiciado pela Polícia Civil por importunação e assédio sexual contra quatro alunas da Academia Art Fighters, onde era sócio e fundador, na Lapa, no Centro do Rio. A academia encerrou as atividades no início da pandemia de covid-19. As investigações começaram há cerca de dois meses, mas os crimes aconteceram entre os anos de 2015 e 2018, quando as vítimas eram menores de idade.

De acordo com o delegado da 5ª DP (Mem de Sá) responsável pelo caso, Bruno Gilaberte, as investigações começaram a partir de uma notícia crime feita pela campeã de muay thai Fernanda Santos Ávila Rigueiro Barbosa. As jovens Yasmin Veiga da Cunha, Clara Aguiar e mais uma, que não teve a identidade revelada, foram ouvidas durante a apuração e relataram os abusos.

"Embora os crimes tenham acontecido entre 2015 e 2018, não há qualquer tipo de problema em relação a isso, porque as vítimas, na época, eram adolescentes. Quando a vítima é criança ou adolescente, o prazo prescricional só começa a correr quando ela completa 18 anos, porque em tenra idade, a vítima não tem muita noção do que aconteceu. Muitas vezes, a vítima sequer se dá conta de que sofreu algum tipo de abuso sexual e essa percepção só chega com a maturidade", explicou o delegado.

Segundo as investigações, entre as práticas de Edson estão pesagens sozinho com a vítima só de calcinha, sem sutiã, o que segundo o delegado era inadequado e não justificava o contexto de treinamento. O professor também fazia massagens corporais com toques indevidos, abraçava e se esfregava nas nádegas das alunas com pênis ereto para mostrar excitação. Ele chegou a pedir fotos nuas para uma das vítimas.

Gilaberte esclareceu que Fernanda não fez a denúncia na época do crime por ser muito jovem e não compreender a situação. Ele também disse que a jovem citou vergonha, receio e até temor reverencial em relação ao treinador. As investigações continuam para descobrir se outras jovens foram vítimas. Edson foi ouvido pela 5ª DP e negou as acusações de importunação e assédio.

"Nós conseguimos arrecadar indícios de autoria. O inquérito policial não visa estabelecer, desde logo, se o suspeito é inocente ou culpado. Ele pode ser preso, mas não é certo de acontecer nesse primeiro momento, na fase de instrução processual. Eu não pedi a prisão dele, porque não há nenhuma evidência de que ele esteja destruindo provas, coagindo testemunhas ou de que pretenda fugir. Ele vai responder em liberdade, a menos que as coisas mudem", afirmou o titular da investigação.

O inquérito foi encaminhado nesta quarta-feira (21) para o Ministério Público do Rio (MRPJ). O crime de assédio sexual tem uma pena de um a dois anos de prisão, mas quando é praticado contra menores de 18 anos, tem um acréscimo de um terço da pena. Já a importunação sexual tem pena de um a cinco anos de prisão.

Nesta quinta-feira (22), por meio das redes sociais, o proprietário da academia Delfim, onde o professor indiciado trabalhava, Gabriel Ribeiro, anunciou que Edson foi desligado do quadro de professores. "Fiquei sabendo hoje do que aconteceu com o professor Edson Souza e vim falar aqui que ele está desligado do quadro de funcionários", disse Gabriel, em um vídeo.


Em nota, a defesa do indiciado informou que por orientação técnica, ele está afastado das atividades como professor de adolescentes até o esclarecimento dos fatos. "A defesa e a comunidade das artes marciais recebem com surpresa e indignação a notícia do indiciamento do Sr. Edson de Souza pela suposta prática de delitos contra a dignidade sexual de algumas de suas ex-alunas. As comunicações dos supostos delitos ocorreram mais de três anos após os alegados episódios", diz a nota.

A defesa alega que uma das "supostas vítimas" participou de treinos com ele até maio de 2021 e espera que o MPRJ arquive o caso por falta de provas. Ainda segundo a nota, se o caso for para a Justiça, outros alunos e professores vão poder testemunhar sobre o "comportamento irrepreensível do professor". A defesa reiterou que respeita as instituições e que Edson estará à disposição das autoridades para prestar qualquer esclarecimento. Confira a nota na íntegra:

"A defesa e a comunidade das artes marciais recebem com surpresa e indignação a notícia do indiciamento do Sr. Edson de Souza pela suposta prática de delitos contra a dignidade sexual de algumas de suas ex-alunas. As comunicações dos supostos delitos ocorreram mais de 03 (três) anos após os alegados episódios. Uma das supostas vítimas participava normalmente dos treinos até maio de 2021. Não veio aos autos nenhum print das alegadas conversas inapropriadas. A única testemunha indicada pelas vítimas, ao ser intimado, negou ter presenciado qualquer comentário ou comportamento suspeito. A expectativa é de que o Ministério Público arquive o caso por falta de provas.

No entanto, se os fatos forem levados à Justiça, muitos outro(a)s aluno(a)s e professores que conviviam no mesmo ambiente de treinamento poderão testemunhar acerca do comportamento irrepreensível do professor. Aliás, são mais de 20 (vinte) anos consagrados ao esporte, vale dizer, muitos deles, como formador de atletas para competições de nível internacional, sem que, nunca, jamais, em tempo algum tivesse seu nome ventilado como alguém que abusava da sua posição. Muito pelo contrário. O mestre Edson sempre se destacou na formação de crianças e jovens na comunidade onde mora tendo, por exemplo, a iniciativa de aparelhar um centro de treinamento popular para crianças de 6 (seis) a 12 (doze) anos.

Por fim, a Defesa reitera que respeita as instituições e que o Sr. Edson de Souza sempre estará à disposição das Autoridades para prestar qualquer esclarecimento. Por orientação da defesa técnica, o Sr. Edson de Souza está afastado das atividades como professor de adolescentes até o esclarecimento dos fatos."