Próximo desafio do município do Rio de Janeiro é vacinar 892 mil jovens nas próximas duas semanas para completar o calendário dos adultos Divulgação

Rio - O calendário de vacinação no município do Rio de Janeiro entrou na reta final e vai contemplar a distribuição da primeira dose para todos os cariocas adultos nas próximas duas semanas. O último grupo a se imunizar neste período é o dos mais jovens, entre 29 e 18 anos, e o segmento é considerado um dos mais expostos à covid-19. A expectativa entre eles, que se deslocam em transportes coletivos superlotados e estão mais sujeitos a atividades presenciais, é de se vacinar logo para se proteger.
Danielly Alves dos Santos, de 23 anos, trabalha como estagiária de assessoria de comunicação e é mais uma entre tantos jovens de sua faixa etária que dependem dos ônibus, não raro lotados, todos os dias para se deslocar. Para se prevenir, ela tenta sempre ficar próxima de espaços que tenham janelas e afirmou que ainda encontra um número grande de pessoas que não usam máscaras nem mantém os cuidados.
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"Eu tive covid-19 há dois meses, então não vejo a hora de ficar livre disso. Comigo a doença foi fraca, graças a Deus, mas deixa sequela, preocupação e abala o psicológico da gente, por isso não vejo a hora de ter mais tranquilidade, principalmente com relação a minha saúde. Tenho a impressão que nos arriscamos mais e tomando a vacina eu me sinto com um pouco mais de segurança em relação aos riscos que estou sujeita. Fico imaginando como seria o cenário sem a vacina, mas ainda assim vou continuar mantendo as medidas de segurança", afirmou.
O estagiário em engenharia Nilson dos Santos Gomes Filho, de 25 anos, vai se vacinar na próxima terça-feira (10) e compartilhou o relato sobre a perda da sua mãe e avó para a covid-19. A contaminação em seus familiares aconteceu no hospital, antes de um transplante de rim. A cirurgia era aguardada por sua mãe há dez anos e a avó também acabou contraindo a doença. Nilson ponderou que se a vacina tivesse chegado antes, seus familiares ainda estariam vivos.
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"Eu estou muito animado, mas é um sentimento um pouco engraçado, porque isso me traz um sentimento de tristeza também pela vacina não ter chegado a tempo de salvar a minha mãe. Ela faleceu na terça-feira (28) passada por covid-19. A minha avó também não resistiu. Esse sentimento é confuso, estou muito feliz porque vou tomar a vacina, mas ela não conseguiu chegar a tempo para quem eu mais queria que ela chegasse", afirmou.
Nilson fez um alerta para que os jovens mantenham as medidas de proteção à vida, tanto para cuidar da própria saúde como a de outras pessoas também. "Foi muito doloroso e triste o que aconteceu, foi uma infelicidade no hospital, mas eu imagino como eu me sentiria se tivesse sido alguém da família que saísse para qualquer lugar e depois trazido covid-19 para dentro de casa. Pelo menos essa culpa eu sei que a gente não carrega", disse.
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No município de Campos dos Goytacazes, o estudante universitário Edgar Francisco Figueira, de 21 anos, contou que está ansioso para se vacinar. Ele deve receber o seu imunizante na próxima semana, e criticou a gestão da pandemia por parte do governo federal. "Já faz bastante tempo que eu estou esperando esse momento, e não vejo a hora de me vacinar pra me sentir mais seguro. Quero ver essa pandemia acabando logo e todo mundo vivendo 'normalmente' logo, além de estar torcendo pra ver e participar dos protestos contra o desgoverno ano que vem", afirmou.
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Percentual de mortes e internação aumentou entre jovens
O valor percentual de contaminação entre pessoas com até 39 anos aumentou consideravelmente no município do Rio de Janeiro desde o início do ano. Em janeiro, a proporção de internações por covid-19 na capital era de 7,6%, em julho o registro foi de 17,6%.
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No estado, o percentual de óbitos subiu de 3% em janeiro para 10% em junho para pessoas com menos de 39 anos. O Rio de Janeiro também possui a maior taxa de letalidade do Brasil, com 5,74%, maior que o dobro do índice nacional de 2,6%. O número de internados na faixa etária de 20 até 29 anos é de 6,7 mil pessoas, e em leitos de UTI foram 2 mil jovens. Mais de 770 não resistiram.
Na capital fluminense, a variante Delta já representa 45% dos casos e as pessoas que não receberam a vacina estão mais suscetíveis a contrair a covid-19. São 892 mil jovens do público alvo que aguardam a vacina no Rio e outros 116 mil acima de 40 anos não compareceram para receber a sua primeira dose. Além disso, a cidade conta com 80 mil atrasados para a sua segunda aplicação.
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Pandemia dos não vacinados
Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden descreveu na última quinta-feira (28) o aumento dos casos de contaminação pela covid-19 como uma "pandemia de não vacinados" e alertou cerca de 90 milhões de americanos elegíveis para se vacinar. No Brasil, enquanto todos os estados têm uma tendência de queda no número de mortes, o Rio de Janeiro tem registrado aumento no índice de óbitos.
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A pesquisadora em Saúde da UFRJ Chrystina Barros alertou que os jovens não devem abandonar as medidas preventivas. Ela explicou que relaxar os cuidados após receber a primeira dose é um erro e pode custar tanto a própria vida quanto a de outras pessoas. "Pessoas mais novas infelizmente podem se sentir mais confiante porque não se entendem em grupo de risco, ou porque talvez não tenham outra comorbidade. Mas é preciso destacar que a covid-19 é uma doença nova, que tem feito vítimas em todas as faixas etárias e que não existe ninguém invencível", afirmou.
Sobre o aumento no número de casos de contaminação entre as pessoas não vacinadas, a médica geriatra e psiquiatra Roberta França explicou que a situação é preocupante e que no mundo já se discute a possibilidade de exigir a obrigatoriedade da vacina. "Em vários lugares do mundo já se aventa a possibilidade da vacina ser obrigatória. De fato, a gente vacina uma parte e a outra parte não se vacina, a gente acaba criando possibilidades de termos variantes mais agressivas e caímos por terra com tudo que conseguimos conquista", disse.
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*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes