Leléo, de boné, ao lado de Macaquinho: parceria na chefia da milíciaDivulgação

Rio -- Se depender da Polícia Civil, o sorriso com dentes perfeitos, turbinado com clareamento dentário, de Leonardo Luccas Pereira, o Leléo ou Tico, deverá durar pouco. Isso porque, com a prisão de Edmilson Menezes, o Macaquinho, ele ficou sozinho na liderança da milícia dos bairros de Campinho, Quintino, Cascadura, Tanque, Praça Seca e passou a ser o principal procurado da região.
De acordo com investigações da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), Leléo dividia a chefia com Macaquinho, preso pela força-tarefa de combate às milícias, na última quinta-feira. "Ele ficou sozinho na liderança, porém não tem a expertise da guerrilha, já que Macaquinho foi militar e ele nunca preencheu cargo desse tipo. É fascinado por arma, tem coleção, mas não tem técnica operacional", disse o delegado William Pena Júnior, titular da especializada.
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À frente da Draco, o trabalho de Pena Júnior foi fundamental para o monitoramento e reconhecimento do local da casa onde Macaquinho estava, no morro do Campinho.
Conhecido como Leléo ou Tico, ele tem como principal função cuidar da parte administrativa da quadrilha, o que inclui, também, o pagamento a uma rede de proteção, formada por policiais corruptos. Semanalmente, com as atividades criminosas, ele obtém um lucro pessoal de R$100 mil, quantia suficiente para manter o alto padrão de luxo em que vive. 
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Dados coletados pela inteligência da polícia apontam que Leléo é extremamente vaidoso. Além de gostar de usar roupas importadas, ele fez um programa de treino para emagrecer 20 kgs e tem rotina de cuidados com a pele em clínicas de estética. A comparação de fotos antigas com as atuais sugere que o miliciano tenha feito rinoplastia -- plástica para afinar o nariz.
Miliciano Leleo posa com boné de grife, edição limitada, avaliado em R.300 - Divulgação
Miliciano Leleo posa com boné de grife, edição limitada, avaliado em R.300Divulgação
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Um outro hobby, além das armas, é a coleção de bonés: em uma das fotos, aparece com um modelo francês avaliado em R$ 1.500; em outra, com um exemplar, edição limitada de uma grife italiana, no valor de R$ 2.300. Também encomendou joias com o formato de esquilo, em alusão ao seu apelido Tico, da dupla de desenho infantil Tico e Teco. Em Campinho, inclusive, área de sua atuação, foi feito um grafite com os dois esquilos usando coroas de reis.
Inicialmente, a polícia achava que o apelido Teco, assim como no desenho, era uma alusão ao seu irmão: Diego Luccas Pereira, o Playboy. No entanto, agora já se sabe que Teco é uma referência ao próprio Macaquinho. Inclusive, eles se homenagearam com tatuagens. "O Leléo é mais chegado ao Macaquinho do que ao próprio irmão. Um um tem o nome do outro tatuado. Macaquinho gravou 'Leonardo' e, Leléo, tatuou 'Edmilson' no braço", disse um investigador.  Playboy já está atrás das grades, desde setembro do ano passado, após uma operação da Draco.
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Pai de Leléo: PM citado na CPI das Milícias
Os irmãos Leléo e Playboy são filhos do sargento Goulart Vital Pereira, morto em 2011. Ainda em vida, Goulart foi citado no Relatório Final da CPI das Milícias, da Alerj, como integrante do grupo paramilitar de Marcos Souza, o Falcon, com atuação em Oswaldo Cruz.
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Apesar do perfil burocrático, Leléo carrega três mandados de prisão: um por formação de quadrilha, pela milícia; outros dois, por homicídios.
Uma das mortes é a do major Alan Luna, fuzilado dentro do seu carro, em 2018, quando se deslocava para o trabalho, no 17ºBPM (Ilha do Governador). Meses antes, o oficial conseguira instalar câmeras escondidas em um dos esconderijos de Fernando Gomes Freire, o Fernandinho Guarabu, então líder do TCP (Terceiro Comando Puro), no morro do Dendê, na Ilha. A ação do major foi determinante para identificar integrantes do tráfico, entre eles, Antônio Eugênio de Souza Freitas, o Batoré, integrante do chamado Escritório do Crime (grupo de matadores de aluguel).
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Leléo foi apontado em delação de Beto Bomba, miliciano da Muzema, como integrante desse grupo de matadores. E, ao lado de Batoré, teria participado do assassinato do major Luna. O carro usado para a fuga dos criminosos, inclusive, saiu do morro do Fubá.
Força-tarefa contra a milícia: recorde de prisões
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A aliança entre os milicianos da Zona Oeste e o tráfico do TCP também é apontada em outras investigações. Macaquinho, por exemplo, é amigo de longa data de Wallace de Brito Trindade, o Lacoste, chefe da facção no morro da Serrinha. Investigação da 29ªDP (Madureira) mostra que eles tinham um pacto de não-agressão, além de troca de técnicas para o tráfico e cobrança de taxas do comércio e de moradores. Além disso, dividiam fuzis, soldados e frequentavam bailes funks juntos.
A força-tarefa da Polícia Civil no combate às milícias foi criada em setembro de 2020, por determinação do governador Cláudio Castro. Em um ano de atuação, o Departamento de Polícia Geral Especializada (DPGE) e a Draco já realizaram a prisão de 751 milicianos; outros 25 morreram em confronto. O número de detidos é três vezes superior às prisões realizadas em 2009, um ano após a CPI das Milícias, que levou à cadeia 246 criminosos. 
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"A captura de uma liderança é de extrema importância, pois ela não pode ser uma referência para crianças e adolescentes. O destino desses líderes será a prisão. Ou serão neutralizados, caso reajam. Foi o caso do Ecko, foi o caso do Macaquinho. E, a força-tarefa vai continuar os trabalhos de inteligência e ações operacionais cirúrgicas para capturar os outros líderes", afirmou o diretor do DPGE, delegado Felipe Curi.
Fotos do momento da prisão de Macaquinho o mostram sorrindo. Aos agentes, ele disse que pensou que seria morto na ação. Em um vídeo feito na Draco, já preso, ele confessou: "pensei em me entregar várias vezes, mas tinha medo".
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