Miliciano Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho, chegou ao fim ontem, após um cerco da força-tarefa da Polícia Civil, que contou com a participação do próprio diretor do Departamento de Polícia Geral Especializada (DPGE), delegado Felipe Curireprodução tv globo

Rio -- De barman em Madureira a matador de aluguel e um dos milicianos mais procurados do estado. A trajetória no crime de Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho, chegou ao fim ontem, após um cerco da força-tarefa da Polícia Civil, que contou com a participação do próprio diretor do Departamento de Polícia Geral Especializada (DPGE), delegado Felipe Curi: foi ele quem, ao lado do chefe de investigação da Dcod, Christiano Fernandes, prendeu o criminoso que se escondera debaixo de uma cama.
A ação foi resultado de um trabalho de inteligência, que conseguiu identificar que o miliciano lucrava, pessoalmente, R$ 400 mil por mês acharcando moradores e comerciantes das zonas Oeste e Norte. O lucro da quadrilha, como um todo, ainda não foi mensurado. 
Publicidade
Com o dinheiro, Macaquinho tinha uma vida de ostentação: gostava de roupas de grifes internacionais e de mimar a mulher e as duas filhas. Foi para elas que ele comprou um pônei, animal de estimação a quem nomeou de Raio. Mas, com a vida bandida, todos os mimos se limitavam ao território de domínio da milícia: o pônei vive dentro de casa. "Quando entramos na residência, tinha um monte de fezes do animal espalhadas", disse um agente.
Pônei foi encontrado na casa de Macaquinho - Divulgação
Pônei foi encontrado na casa de MacaquinhoDivulgação
O bandido também tem um macaco, chamado César, que não foi encontrado. Para ele, costuma comprar joias. Os modos exóticos do miliciano ultrapassam a barreira ética. No início do ano, ele praticou zoofilia com um cachorro, da raça Pitbull, crime previsto no código penal. A violência ao animal foi filmada e, o vídeo, chegou à força-tarefa, formada pelo DPGE e Draco através do setor de inteligência.
Publicidade
E, foi através desse trabalho que, desde setembro do ano passado, Macaquinho passou a ser vigiado. Ontem, onze policiais da força-tarefa ficaram dentro de um carro descaracterizado, após terem certeza de que o miliciano estaria visitando as filhas. 
Os agentes ficaram no veículo por cerca de quatro horas. "Sem comer, sem ir ao banheiro. Mas valeu a pena", disse um inspetor. Por volta das 15h30, cerca de 15 seguranças do bandido notaram a presença dos policiais e atiraram. Os agentes revidaram. O delegado Curi estava no carro e, ao tentar sair, não conseguiu: a porta travou.  Para se defender, ele realizou disparos de fuzil pelo vidro do parabrisas.  Ninguém se feriu na ação. 
Publicidade
"Nesse momento, o helicóptero passou a dar apoio e viu para qual direção o Macaquinho correu. Corremos cerca de 300 metros, em uma ladeira, e achamos a casa", contou Curi. O bandido entrou na residência de uma tia, e se escondeu no quarto. Após pedir reforço, os agentes entraram no local. Ao ser descoberto no esconderijo, Macaquinho disse: "perdi", e não reagiu. Um vídeo mostra ele sendo conduzido para a viatura, sem ferimentos, para onde foi levado para a Cidade da Polícia. 
Na ação, um segurança de Macaquinho foi preso, com um fuzil. Um outro fuzil foi encontrado no chão, abandonado no tiroteio. Um segundo homem chegou a ser conduzido para a delegacia, mas foi liberado em seguida: ele não tinha passagem criminal e disse que só estava jogando cartas com os milicianos. A informação de que ele só era morador foi confirmada por Macaquinho, na delegacia. 
Publicidade
De acordo com o titular da Draco, William Pena Júnior, a principal área de atuação do criminoso eram as regiões da Praça Seca e Campinho, na Zona Norte. "É uma região que é palco de confrontos constantes entre milicianos e traficantes do Comando Vermelho. É possível que, após a prisão, haja confrontos pelo controle da região. Por isso, fizemos contato com a Polícia Militar, que já reforçou o policiamento", disse.
O trabalho da Draco foi fundamental na força-tarefa para a localização da casa e reconhecimento do local. A especializada já monitorava há um ano o criminoso.  
Publicidade
50 fuzis e pacto de não-agressão com Lacoste, amigo de infância
O ingresso no crime de Macaquinho começou na adolescência, junto com o amigo de infância Wallace Brito Trindade, o Lacoste,  chefe do tráfico da Serrinha, da quadrilha TCP (Terceiro Comando Puro). Enquanto Macaquinho trabalhava em um bar, Lacoste era motoboy. Ambos firmaram um pacto de não-agressão e de ajuda mútua no crime.
Publicidade
Com perfil violento, consta contra Macaquinho dois homicídios. Os crimes ocorreram em 2017: um contra um comerciante, que se recusou a pagar taxas; outro contra um miliciano rival. Ele também já foi apontado como matador de aluguel, integrante do chamado Escritório do Crime. Durante as investigações do caso Marielle, o miliciano Beto Bomba, da Muzema, disse que foi Macaquinho, ao lado de Mad e Leléo, outros criminosos, que teriam matado a vereadora. As investigações, no entanto, apontaram para outros executores. Mad e Bomba estão presos; já Leléo é apontado como sucessor de Macaquinho e está foragido.
Nas favelas, ele era conhecido por andar descalço, sem blusa, e sempre com um fuzil. Em 2018, o pacto de não-agressão com Lacoste passou para uma parceria nos negócios. 
Publicidade
Segundo as investigações da 29ªDP (Madureira), os bandidos decidiram dividir os lucros tanto no campo da extorsão, como entretenimento e até soldados. "Temos registros de que DJs que tocam na Serrinha também tocam no Morro do Fubá, em bailes funks. Também sabemos que eles costumam frequentar os bailes uns dos outros”, disse um investigador. O morro do Fubá é controlado pela milícia de Macaquinho. 
Lacoste passou a fazer cobranças contra comerciantes e moradores de regiões perto da Serrinha. Já Macaquinho, a lucrar com o tráfico de drogas em suas comunidades. As investigações apontaram também que Lacoste cedia traficantes para Macaquinho invadir áreas do Comando Vermelho. Esse, por sua vez, emprestava fuzis: somente sua quadrilha tem cerca de 50 armas do tipo. 
Publicidade
As diferentes atividades de crime fizeram o subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil, Rodrigo Oliveira, a chamá-los de 'narcoguerrilheiros': "Essa é a denominação correta que devemos passar a utilizar, pois esses criminosos primeiro estabelecem o controle do território para depois passarem a praticar os crimes".
Os trabalhos da força-tarefa possuem como principal alvo, agora, Tandera. Em um ano de atuação, o grupo já prendeu 751 milicianos.