Vacina Oxford/AstraZeneca - ArquivoFoto: reprodução internet

Rio - A Secretaria Estadual de Saúde do Rio (SES) autorizou a aplicação da vacina Pfizer na segunda dose em pessoas imunizadas com a AstraZeneca no primeiro ciclo e que não conseguiram completar a vacinação por falta de doses. Conhecida como "intercambialidade de imunizantes", a decisão tomada nesta segunda-feira (16) está em conformidade com a orientação do Ministério da Saúde noticiada na semana passada. O governo federal emitiu uma nota técnica recomendando a estratégia "em situações de exceção" no final de julho.

Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que a intercambialidade do imunizante só deve ser realizada pelos municípios caso ocorra de fato a falta da vacina Oxford/AstraZeneca. A decisão foi tomada em conjunto com a equipe de especialistas do Conselho de Análise Epidemiológica que assessora a vigilância estadual. 
O Ministério da Saúde fez essa recomendação para todos os estados do país, acompanhando a orientação da OMS sobre o assunto. Há estudos sendo realizados na Europa para verificar se a estratégia de intercambialidade mantém a efetividade da vacinação.

Segundo o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, a população idosa de Paquetá receberá uma terceira dose do AstraZeneca. Desta população, metade será incluída no esquema de intercambialidade, recebendo a vacina Pfizer.

A nota técnica do Ministério da Saúde reconhece que ainda não existem estudos de eficácia, efetividade e segurança em larga escala de esquemas com vacinas de fabricantes diferentes. O documento também afirma que "observou-se ainda uma taxa de eventos adversos um pouco aumentada no esquema heterólogo", em um dos estudos que fundamentou a orientação da pasta federal aos governos e municípios. Vale pontuar que a própria pesquisa realizada na Universidade de Oxford esclarece que os quatro eventos adversos verificados não possuem relação com a vacinação.

Outros estudos, contudo, indicaram que a imunização através do esquema heterólogo pode inclusive conferir uma resposta imunológica ainda maior do que com as duas doses ministradas pelo mesmo fabricante.
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A Fiocruz afirmou em nota que não recebeu uma orientação do Ministério da Saúde sobre aplicação de segunda dose com outra vacina, salvo no caso de gestantes e puérperas. A fundação também ressaltou que há um estudo conduzido pela Universidade de Oxford, publicado em junho deste ano na revista científica The Lancet, que aponta não haver prejuízo em ampliar o intervalo entre a primeira e a segunda dose, em caso de necessidade. Segundo o estudo, a primeira dose pode sustentar uma eficácia de 80% por até 10 meses até a segunda dose, e que esse intervalo poderia conferir uma resposta imunológica ainda mais robusta após o esquema vacinal da vacina AstraZeneca for completado. 
Ainda segundo a Fiocruz, 84,5 milhões de doses foram disponibilizadas ao Programa Nacional de Imunização (PNI) e a fundação afirmou que até a última sexta-feira (13) foi a principal fornecedora de vacinas do país e que a previsão para os próximos meses não indicam escassez de vacinas para aplicação da segunda dose.
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"A Fiocruz permanece com capacidade de produção superior à de disponibilização do IFA importado e aguarda a chegada ainda em agosto de três novos lotes do insumo já confirmados para o mês de agosto. Com esses novos lotes assim como com o envio mensal de mais três lotes de IFA de setembro a novembro, a Fundação manterá a regularidade de entregas mensais, com uma média em torno de 18 milhões de doses nos próximos meses", disse em nota a Fiocruz. 
 

A médica geriatra e psiquiatra Roberta França afirmou que ainda não há estudos científicos completos e de grande escala que mostrem a segurança e eficácia da vacina. Ela considerou que é necessário ter cuidado com a decisão.

"O que está sendo feito é justamente em função do estoque que não foi pensado adequadamente. Desde quando começou a pandemia e o processo de vacinação temos visto uma grande confusão no Ministério da Saúde. Uma falta de coerência nas ações, uma falta de organização e de logística, em todos os segmentos, em todos os processos, desde a armazenagem até a liberação das vacinas. [Por exemplo], a estratificação da quantidade de pessoas que têm que tomar a primeira e segunda dose, do prazo para a segunda dose, então esse caos fez com que a gente tivesse essa dificuldade imensa em relação ao processo da vacina", explicou.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes