Operação de buscas pelos meninos desparecidos de Belford Roxo, no último dia 30 de julhoMarcos Porto/Agência O DIA

Rio - O sumiço dos meninos Lucas Matheus, 8, Alexandre da Silva, 10, e Fernando Henrique, 11, em dezembro de 2020, em Belford Roxo, pôs em pauta o drama das famílias de pessoas desaparecidas na Baixada Fluminense, uma tragédia que não é de hoje. O boletim 'Desaparecimentos Forçados: da escravidão às milícias', da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), calcula que cerca de 30% de todos os desaparecimentos registrados no estado do Rio de 2003 a 2021 aconteceram na Baixada. A região também tem grande número de cemitérios clandestinos: são pelo menos 21, segundo mapeamento do IDMJR.
O boletim utilizou dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) para mapear os desaparecimentos. Somente em 2021, dos 1.893 desaparecimentos registrados em delegacias de todo o estado, 576 aconteceram na Baixada. Nos últimos 18 anos, a região também foi local de ocorrência de 23% de todas as ossadas encontradas no estado, e 14% de todos os cadáveres encontrados pelas polícias.
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Segundo a entidade, boa parte dos episódios são frutos da ação de grupos de extermínio, facções do tráfico de drogas e milícias. Elas também utilizam terrenos como desova de corpos: através de denúncias, a organização mapeou 21 cemitérios clandestinos na Baixada. 
Nova Iguaçu tem 12 áreas do tipo: Cerâmica, Adrianópolis, Rio D'Ouro, Austin, Marapicu, Dom Bosco, Palhada, Amapá, Nova Aurora, Tinguá, Geneciano e Rio Guandu; em Duque de Caxias, foram mapeadas áreas de desovas em Gramacho, Imbariê e no Rio Sarapuí; em Belford Roxo, nas regiões da Nova Aurora, Babi e Rio Botas; em Japeri, no 3 KM da Dutra; em Itaguaí, Chaperó; em Queimados, na saída da Via Dutra.
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Entidade mapeou 21 cemitérios clandestinos na Baixada Fluminense - DIVULGAÇÃO
Entidade mapeou 21 cemitérios clandestinos na Baixada FluminenseDIVULGAÇÃO
"É importante dar visibilidade à violência do Estado e de grupos que dominam esses territórios na Baixada Fluminense, a partir da omissão do do Estado. Quem usa esses espaços são milícias, varejo de drogas e grupos paramilitares. A gente tem um número de Whatsapp da Iniciativa, e por ali recebemos informações e cruzamentos com monitoramento dos próprios locais onde isso acontece", explica Fransergio Goulart, coordenador executivo  da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR).
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Polícia investiga gerente do tráfico do Castelar por sumiço de meninos
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investiga o envolvimento do traficante Wiler Castro da Silva, vulgo Estala, no desaparecimento e morte de Lucas Matheus, 8, Alexandre da Silva, 10, e Fernando Henrique, 11. Segundo a polícia, o criminoso foi um dos responsáveis pela tortura de um morador falsamente acusado de participar do sumiço das crianças, em janeiro deste ano. Na ocasião, o homem teria confessado ter se envolvido no caso ao ser amarrado e agredido pelos traficantes da comunidade Castelar, em Belford Roxo.
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Estala é apontado como gerente do tráfico de drogas do bairro Castelar, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, onde as crianças moravam e desapareceram em dezembro de 2020. O Disque-Denúncia oferece recompensa de R$ 1.000 por informações que levem à localização do traficante.

"Você pega uma pessoa e diz que ela confessou, chegou ao fato objetivo que tenha confessado então, o tráfico passa a apresentar um suspeito. Aquele 'autor' não seria preso, então fazem uma manifestação na frente da delegacia, incendeiam ônibus, pega fogo em residência de morador, em comércio que não tinha absolutamente nada a ver com isso. Então, era uma ação estranha naquele momento”, disse o delegado Uriel Alcântara, responsável pela investigação, em uma live realizada pelo deputado estadual Alexandre Knoploch (PSL), na segunda-feira.
O homem acusado injustamente morava em um imóvel da comunidade controlada pelos criminosos e precisou fugir com sua companheira e seus enteados do local. Ainda segundo Uriel, a polícia já descartou outras linhas de investigação que não envolvam o tráfico de drogas. Um dos fatores que apontaram para o envolvimento de traficantes no caso foi o desaparecimento de outras duas pessoas na localidade durante as investigações da DHBF.
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Em julho, uma testemunha relatou que o seu irmão, de 22 anos, teria participação no homicídio das crianças. Os meninos teriam sido espancados e mortos por ordem do traficante José Carlos dos Prazeres Silva, conhecido como Piranha ou Cem, no interior do condomínio Amarelo, que fica dentro da comunidade do Castelar, em Belford Roxo.
O delegado afirmou que a atual linha de investigação da especializada é a responsabilidade do tráfico de drogas na morte e ocultação dos corpos das crianças. A unidade segue com a hipótese de que os meninos foram vítimas dos traficantes pois, teriam furtado uma gaiola com passarinho.
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"A gente sabe que, essas crianças foram pegas e foram mortas dentro da comunidade […] tiveram os corpos levados para o rio, como já foi divulgado. Algumas diligências foram realizadas com o objetivo de encontrar mais elementos sobre uma possível ocultação de cadáver", explicou Alcântara.
Os familiares dos meninos forneceram material genético para o banco de dados do setor de desaparecidos da polícia civil para análise de restos mortais que possam ser encontrados durante as investigações.
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Ossada não é dos meninos desaparecidos
A Polícia Civil encontrou uma ossada no dia 30 de julho, no Rio Botas, em Belford Roxo. A perícia realizada nos fragmentos apontou que a ossada não tem relação com os três meninos desaparecidos desde dezembro do ano passado. O teste apontou, que o material é de origem animal. Lucas Matheus, de 9 anos, Alexandre Silva, de 11 e Fernando Henrique, de 12, sumiram no dia 27 de dezembro. Eles foram vistos pela última vez em uma feira do Bairro Areia Branca, também em Belford Roxo.