Enfermeira Rejane (PCdoB) fala da pesquisa que revela o impacto da pandemia no mercado para mulheres negrasDIVULGAÇÃO

Como a cidade do pode reduzir a desigualdade entre mulheres e homens, especialmente, mulheres negras?
Nosso país foi estruturado por relações sociais machistas e racistas e isso impacta diretamente a vida das mulheres negras, que sofrem duplamente com essas questões. Por isso, muito importante que o poder público esteja comprometido com essa redução de desigualdades através de políticas públicas transversais que promovam o combate ao racismo e machismo dentro e fora da esfera pública. O primeiro passo é aumentar a condição material dessas mulheres. Então, além de criar programas que ofereçam capacitações e oportunidades que priorizem as mulheres negras, precisamos de ações afirmativas que mudem efetivamente esse quadro. Precisamos de ações firmes que combatam o racismo institucional dentro das instituições privadas. Queremos salários iguais entre homens e mulheres para as mesmas funções, queremos oportunidades iguais de crescimento profissional. Outro ponto importante, é a socialização do cuidado das crianças. Mais escolas e creches em tempo integral, investimento em projetos de cultura, melhor do uso de espaços públicos para programas de esporte e lazer, Nós sabemos também que a maioria das mulheres negras vive em lugares distantes do eixo centro/zona sul. Então nos precisamos aumentar a infraestrutura desses espaços, garantindo políticas de saneamento e habitação dignas para essas mulheres, e que todas essas políticas públicas cheguem a esses espaços.
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A pesquisa mostrou que a pandemia agravou ainda mais o problema para mulheres negras no mercado de trabalho. O que é possível propor no curto prazo e evitar que o número cresça ainda em 2021?
Primeiro é importante ressaltar que nós estamos vivendo num país e num estado em crise política, econômica e sanitária. A pandemia além aflorar as desigualdades, é cenário de desemprego e precarização do trabalho, onde as mulheres negras foram as primeiras a serem demitidas e são as últimas a serem admitidas. E se continuarmos com essas investidas de precarização das relações de trabalho e extinção dos direitos trabalhistas, a tendência é só piorar. É preciso ter um plano de retomada de crescimento econômico e programas que garantam capacitação e gerem emprego e inclusão das mulheres negras nessas vagas. Até porque sabemos que não é um problema só de qualificação. As mulheres negras, mesmo qualificadas, são as últimas a serem escolhidas para preencher uma vaga justamente por seus marcadores sociais de gênero e de raça. Mas, diante do quadro de profundo retrocesso, proporcionado por este governo, as ações no que se referem à geração de emprego para as mulheres, ficam muito limitadas. A medida necessária nesse momento, é o auxílio emergencial de 600 reais, que temos exigido do governo federal, que ainda não é suficiente para conter os impactos da pandemia no mercado de trabalho.
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Projetando o mercado para jovens mulheres negras, como melhorar a qualificação e estimular que elas consigam empregos formais na cidade?
Nossas jovens precisam de perspectiva. Precisamos investir na educação, criando programas de qualificação profissional que estejam conectados com as novas profissões que estão surgindo no mercado, principalmente relacionadas a tecnologia conectadas a oportunidades de vaga que priorizem essas jovens. E para isso a inclusão digital é fundamental. Nós vimos com a COVID, a dificuldade dos alunos em vulnerabilidade social de acompanhar as aulas remotas e a consequência foi uma grande evasão escolar. Então precisamos dar condições materiais e tecnológicas para que essas jovens ocupem esse espaços. Apesar de parecer uma resposta padrão, não existe outro caminho. A prioridade de investimento na educação é fundamental para a garantia de um futuro mais justo e com melhores oportunidades para as jovens mulheres negras.