"Afinal, as regras para a comemoração só obedecem ao nosso coração. Às vezes, é 'só' acertar uma bolinha de sinuca com as mãos ao fim de um churrasco de família e guardar a cena e as risadas para sempre na lembrança"Arte: Kiko

Já era noite do segundo domingo de agosto, quando olhei o post de um colega de profissão sobre o seu pai. Era um vídeo antigo, em que o homenageado, ao fim de um churrasco de família e depois de muitos brindes, se via diante de um desafio na mesa de sinuca: acertar uma bolinha na caçapa, jogando-a com a mão. Ao fundo, tocava 'Don't stop believin' (Não pare de acreditar). Na segunda tentativa, o pai conseguiu o objetivo e saiu numa comemoração efusiva, pulando e vibrando como se tivesse acabado de conquistar um campeonato.
Logo me recordei das minhas comemorações particulares. Simplesmente não finjo costume quando recebo um comentário de alguém que admiro sobre um texto meu. Numa das primeiras vezes que isso aconteceu, eu chorei de felicidade. Lembro de ter ligado para a minha irmã, sem nem ao menos introduzir o assunto, e ela ter levado um susto: "Aconteceu alguma coisa?" Sim! Eu poderia ter saído saltitante se estivesse numa reunião de família, com uma música tocando ao fundo e me dizendo: "Não pare de acreditar".
Imagino, então, o tamanho da festa que deve ter feito a minha amiga Claudia Lopes ao saber da aprovação do seu filho, João, para a Faculdade de Direito da UFRJ. O coração da geminiana, que conheceu as angústias e as delícias de ser mãe de um vestibulando, bateu acelerado. Quando recebi a mensagem com a notícia, até fantasiei, do outro lado da tela do celular, fogos de artifício saudando a chegada do rapaz à vida universitária. E busquei as figurinhas mais festivas do meu Whatsapp para celebrar com ela, mesmo a distância. 'Don't stop believin', diria Claudia, por ser professora de Inglês.
Afinal, as regras para a comemoração só obedecem ao nosso coração. Às vezes, é "só" acertar uma bolinha de sinuca com as mãos ao fim de um churrasco de família e guardar a cena e as risadas para sempre na lembrança. Em outras, é "só" saber que alguém se identificou muito com o seu texto e fazer disso motivo suficiente para deixar as lágrimas rolarem. Ou "apenas" deixar que uma orgulhosa mãe grite para o mundo a sua alegria pela realização do filho.