Com o lema 'É a luta do bem contra o mal', o delegado Allan Turnowski, secretário de Polícia Civil, completa um ano no cargo com um recorde histórico: nunca se prendeu tantos milicianos como na sua gestão. Até o último dia 14, foram 793 presos, em 113 operações. A ação é fruto de uma força-tarefa, determinada pelo governador Cláudio Castro.
“Missão dada é cumprida. O governador Castro pediu para equilibrar as investigações, de todos os tipos. Combate ao tráfico, corrupção e, principalmente, combate às milícias. Mais importante do que prender, é asfixiar o braço-financeiro. E, com a força-tarefa já acarretamos um prejuízo de R$ 2 bilhões”, disse.
O número de detidos é três vezes superior às prisões realizadas em 2009, um ano após a CPI das Milícias, que levou à cadeia 246 criminosos da modalidade -- considerado o recorde até então. A força-tarefa contra as milícias é coordenada pelo delegado Felipe Curi, diretor das delegacias especializadas, com apoio da Draco, que tem o delegado William Pena Júnior como titular.
A preocupação também do secretário era tirar as lideranças de circulação. Assim foi feito com a investigação do miliciano Wellington da Silva Braga, o Ecko, e a de Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho. "Ecko morreu ao reagir: mesmo já baleado, tentou tirar a arma de uma policial. Já Macaquinho, encurralado, quis se entregar e foi preso", relembrou. "A importância da prisão de um líder é tirar dele a referência na comunidade: para uma criança, um criminoso que fica 10 anos sem ser preso vira um exemplo, e não o professor, o pai que se esforça para manter a família", explicou.
Sua gestão também é marcada pelas restrições de operações nas comunidades, por conta da ADPF 635. As ações estão autorizadas somente em casos excepcionais. Em maio, após uma investigação de 10 meses sobre aliciamento de menores para o tráfico, a polícia realizou uma operação no Jacarezinho, que ficou marcada por ser a mais letal da história. Nesta semana, o Ministério Público fez busca e apreensão na Delegacia de Homicídios para arrecadar as roupas dos homens apontados como traficantes para a perícia. "Já tínhamos realizado a perícia nas roupas. E esse é o caminho correto: para retirar, tem que ter um documento judicial de busca e apreensão”, ponderou.
O secretário acrescentou que tem investido na perícia para a solução de crimes, como no caso do menino Henry.
"Grito de socorro através do silêncio", diz secretário sobre moradores de favelas
Com um projeto de ocupação que se avizinha, em seis comunidades, Turnowski diz que o modelo é diferente das UPPs. "Uma das críticas que fiz ao antigo projeto das UPPs é a ausência da Polícia Civil na investigação. O que a gente percebeu foi um isolamento da Polícia Militar, que não possui todas as informações disponíveis para se ficar no terreno em razão da queda das investigações daquelas facções. Isso fez com que o trabalho ostensivo ficasse prejudicado. Hoje, a gente vem junto com a Polícia Militar, desde o início da investigação e vamos continuar, seja na investigação contra as quadrilhas ou na lavagem de dinheiro, ajudando a Polícia Militar a pacificar aquela região", disse.
E, garante que o novo projeto de ocupação está de acordo com a expectativa do STF sobre a redução da letalidade em comunidades. "Em relação à questão do STF: quando você fala que quer menos confronto, menos letalidade e indaga 'qual o planejamento para essa redução?' A resposta é: 'com ocupação pelo Estado de um território dominado por traficantes ou milicianos'. Assim, você está exatamente na linha do STF, de ocupar aquele território e dar direito à vida às pessoas que ali residem", analisou.
Conforme O DIA antecipou, seis comunidades devem ser ocupadas em breve pelo governo. "A excepcionalidade a gente já vive. Você não acha excepcional criminosos portando fuzis na porta da sua casa? Não dormir porque tem um baile funk e, se for reclamar, ser morto? Esquartejar uma pessoa? Matar crianças? O domínio do território do tráfico já é excepcional. Aquela população torce para que o Estado ocupe o local. O grito de socorro deles é através do silêncio", concluiu. Segundo o STF, operações policiais só podem ocorrer em casos de excepcionalidade.
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