Maicon Valentim e sua mãe Cintia Valentim, neste sábado, um dia após liberdadeReprodução TV Globo

Rio - Após 69 dias na prisão, o jovem Maicon Valentim, de 23 anos, preso injustamente após ser reconhecido por print do Facebook como assaltante, recebeu a liberdade, no fim da noite desta sexta-feira. O jovem havia sido absolvido do crime na última quinta-feira, após a vítima do crime ter negado que ele seria o responsável pelo roubo, que aconteceu em 2019. 
Ele estava preso no presídio Romeiro Neto, em Magé, desde o mês de agosto, quando sem sequer ir à delegacia prestar depoimento, foi preso por policiais que o encontraram em casa. "O importante é que a minha família acreditou em mim. Muitos dias lá dentro sonhando em estar assim, abraçado com elas", comemorou o jovem, em entrevista ao RJ1, da TV Globo.
A audiência que determinou a soltura do jovem aconteceu na última segunda-feira. Na ocasião, a vítima, que à época do crime era adolescente, negou que tivesse sido Maicon o autor e, ao ser questionada sobre o print do Facebook do rapaz, disse não ter ciência da imagem. O print com a foto do jovem, contudo, é mencionado no depoimento de 2019, que foi assinado pela vítima.
"Eu não tinha noção do porque eu estava sendo preso. Meu irmão me acordou e falou: 'irmão, tem um monte de polícia aí na frente'. Eu não me assustei porque como moramos em área de risco, achei normal, podia ser alguma operação", relembrou o jovem.
"Eu nem acreditei que estava indo embora. Sentindo vento no rosto. Pensei até há quanto tempo que eu não pego um vento. Fui muito bem recebido, a família os amigos, vieram aqui soltaram fogos. Muito bom ver as pessoas que amam e gostam da gente. Que acreditaram na gente desde o começo, batendo na tecla que eu não fiz nada", comemorou Maicon.
Apesar da felicidade, ele salienta que as marcas que a prisão deixaram ainda devem abalar sua vida fora da prisão. "Eu queria só ter o direito de ir e vir, com a minha ficha limpa. Sem preocupação de que de repente, lá na frente alguém vai me parar, vão ver que tenho passagem e vão me levar de novo para a delegacia. Saindo de lá eu vi um carro da polícia e fiquei com medo", concluiu.
História que se repete
Além de Maicon, pelo menos outros 90 jovens teriam sido presos injustamente, entre 2012 e 2020, após reconhecimento fotográfico. É o que aponta um relatório da Defensoria Pública do Estado juntamente com o Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (CONDEGE). 
O produtor cultural Ângelo Gustavo Nobre, de 30 anos, foi uma das vítimas desse erro cometido pelo sistema. Ele ficou preso quase um ano acusado de participar do roubo de um carro na Zona Sul do Rio de Janeiro.
"Fui acusado e nem os autos do processo eu encontrei. Eu, inocente, sem qualquer relação ao fato criminoso, fui afastado da minha casa, da minha família, da minha filha. Foram dias difíceis, eu pensei que minha vida tinha acabado", revelou Ângelo.