Relatório aponta que 80% da população deve estar completamente vacinada para Carnaval acontecer de forma seguraTânia Rêgo/ Agência Brasil

Rio - Um relatório assinado por especialistas da Fiocruz e da UFRJ indica que, para o Carnaval 2022 acontecer de forma segura, 80% da população do Brasil, do Estado e da cidade do Rio de Janeiro deve estar completamente vacinada contra a covid-19. Além deste critério, o documento aponta mais quatro indicadores mínimos, entre eles estão a baixa taxa de contágio, a disponibilidade de leitos e enfermarias e a testagem para os trabalhadores do carnaval.
"Para além desses indicadores a sociedade deve discutir qual o risco que ela deseja assumir com a realização do evento. Essa discussão transcende em muito os dados quantitativos oferecidos pelos indicadores. Ela é essencialmente ética. A decisão de realizar o carnaval de forma segura implica em diversos benefícios que se estendem não apenas para a economia, mas também para a saúde mental da população, que por vários meses manteve-se confinada. Por outro lado, há grande incerteza sobre os riscos inerentes ao evento", afirmam os especialistas no relatório.
O documento foi assinado pelo ex-diretor da Escola Nacional de Saúde Pública e pesquisador titular da Fiocruz, Hermano Castro, e o Professor titular de Epidemiologia da Faculdade de Medicina da UFRJ, Roberto medronho, e entregue à Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS) após a audiência pública "Vai ter Carnaval em 2022?", realizada na Câmara Municipal do Rio no dia 1º de outubro. A audiência foi conduzida pelo vereador Tarcísio Motta (PSOL), presidente da Comissão Especial do Carnaval da Câmara.
O vereador afirmou na audiência que as recomendações serão encaminhadas para análise do Comitê Científico, que auxilia a Prefeitura do Rio a tomar decisões referentes à Covid-19 no município. "Cobraremos para que a Prefeitura possa tornar pública quais são essas condições, critérios e protocolos para confirmar a realização do carnaval e garantir a segurança da cidade antes, durante e depois do carnaval de 2022”.
Confira os indicadores propostos para o Carnaval 2022:
- Atendimento na rede municipal de saúde: média móvel semanal menor que 110 casos de Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave (1,63 casos por 100.000 habitantes).
- Tempo de espera e quantidade de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) na fila para internação no município: fila de espera de três pessoas por dia, com um tempo de espera que não deve ultrapassar de uma hora.
- Porcentagem de testes diagnósticos positivos no município: testes positivos (RT-PCR ou Ag) durante os últimos 7 dias menor do que 5%.
- Taxa de contágio da cidade do Rio de Janeiro: valor de R < 1 (ideal 0,5) por um período de pelo menos 7 dias;
- Taxa de vacinação no Brasil, no Estado do Rio de Janeiro e no Município do Rio de Janeiro: imunidade coletiva acima de 80% da população total.
O epidemiologista Roberto Medronho deixou claro na audiência que o documento deve apenas orientar, mas que a decisão final é do Poder Público, e ressalta que não há como zerar completamente os riscos.
“Qualquer evento há riscos de ter doenças infecciosas das mais variadas. Esses indicadores são para nortear a decisão de ter ou não carnaval, mas para além disso precisamos, em função não só das questões econômicas, mas também das questões referentes à saúde mental de todos, saber que há incertezas, entretanto os benefícios em realizar esses eventos podem superar os riscos de sua realização”, disse o professor.
O relatório ainda indica outras considerações e propostas que devem ser avaliadas pelo Comitê Científico do município, como:
- Exigência do passaporte vacinal em espaços fechados (exemplo: Sambódromo, clubes, bares e casas de festas), como forma de proteção e direito coletivo em saúde pública.
- Exigência do passaporte vacinal para hospedagens em hotéis, pousadas, hostel, airbnb e outros.
- Controle de fronteiras aéreas e terrestres, principalmente com a exigência da vacina.
- Garantia de trabalho seguro nos barracões para os colaboradores com a oferta de um projeto de segurança sanitária, onde possa ser oferecido a testagem para os trabalhadores dos barracões, distribuição de máscara, distanciamento físico e higienização das mãos.
- Construir mecanismos públicos (como um “Painel do Carnaval”) para o monitoramento dos indicadores ao longo de todo o processo (no mínimo a partir de 100 dias do carnaval e durando até 30 dias após o carnaval), com divulgação pública para informar as agremiações e coletivos carnavalescos sobre a segurança sanitária e a viabilidade do carnaval e calcular o impacto sobre a cidade após o evento.
Para a vice-presidente da Comissão, vereadora Monica Benicio (PSOL), será um desafio pensar na realização de um evento de massa nesse pós-pandemia. “Com o retorno da celebração do carnaval, como é que a gente vai manter as suas características e a sua dinâmica após um dos mais graves colapsos do sistema de saúde do mundo?”, questionou na audiência.
O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, garantiu durante a audiência pública que, apesar de orientar os órgãos públicos municipais para a realização tanto do réveillon deste ano, como do carnaval de 2022, a pasta está acompanhando os números de perto e que os eventos só irão ocorrer se a taxa de transmissão estiver em baixa.
“A expectativa é ter mais de 90% da população adulta carioca vacinada com a segunda dose até meados do mês de novembro. A gente acredita que até dezembro vamos ter um panorama epidemiológico muito diferente, se não tiver uma nova variante”, afirmou. “Mas é uma doença nova, tem outras variáveis que podem interferir no processo, e é preciso cautela”, reforçou o secretário.
Dúvida sobre desfiles
Para o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), Jorge Perlingeiro, se não puder realizar o carnaval com 100% da capacidade, a Liga irá realizar o desfile em outra data. “Caso não possamos realizar o carnaval em sua plenitude no mês de fevereiro, o espetáculo será prorrogado para julho. Não podemos reduzir o seu tamanho, nem em público, porque assim não teremos dinheiro para bancar o evento, e nem de participação dos componentes”, disse na audiência pública.
Preocupados com o pouco tempo que falta para garantir os preparativos e documentos necessários à participação no carnaval, representantes dos blocos de rua querem uma data limite para que os órgãos públicos decidam sobre a realização da festa.
“A ciência e a vida estão acima de qualquer decisão. Não faremos carnaval se os órgãos públicos não derem, em tempo hábil, o sinal verde de que há condições de realizar o carnaval de rua em 2022”, afirma Rita Fernandes, presidente da liga de blocos da Sebastiana, durante a audiência.
Baixada Fluminense é a região que menos vacina
Segundo o levantamento realizado pela Assessoria Fiscal da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), com base nos dados do Sistema Único de Saúde (SUS), ao qual O DIA teve acesso, 14 municípios do estado do Rio sequer atingiram 40% da imunização completa. A situação é pior na Baixada Fluminense, onde 10 cidades estão entre os piores índices do ranking.
A cidade de Queimados é a que apresentou o pior resultado. O município está em último lugar no ranking de vacinação com 14,50% da população vacinada. As outras cidades que aparecem entre os menores índices no levantamento são Mesquita (37,07%), Maricá (35,69%), Itaguaí (35,43%), Petrópolis (34,46%), Nova Iguaçu (33,44%), Nilópolis (32,80%), Magé (31,34%), Itaboraí (28,22%), Duque de Caxias (28,13%), Japeri (27,27%), Belford Roxo (22,96%), São João de Meriti (22,23%) e São Gonçalo (21,25%).