Biomédica é presa no RioReprodução

A biomédica que foi presa em flagrante por se passar por médica em uma clínica localizada no bairro Cachambi, Zona Norte do Rio, foi solta ontem após pagar fiança de R$5 mil. Sua defesa afirma que os 'verdadeiros envolvidos' serão incriminados. A advogada Danielle Motta disse que Ana Carolina Almeida Campos é inocente, mas não explicou porque ela utilizava, de forma ilegal, um carimbo de outro médico identificado como Pedro Daniel Silva de Moraes.
"Essa questão é toda a chave do processo. Tem muito mais coisa por trás dessa história e desse modo, como defesa, preciso deixar isso para o juízo. Tenho provas totais de que a Ana Carolina é inocente. Só não posso divulgar isso para a mídia agora, pois acaba com a surpresa de incriminar os verdadeiros envolvidos".
Segundo a Polícia Civil, a biomédica se passava por dermatologista e médica ortomolecular, realizava consultas e prescrevia exames e receitas com o carimbo de outro profissional. Ela atendia em consultórios na Barra da Tijuca e no NorteShopping. 

O flagrante se deu depois que duas agentes da Delegacia de Defraudações marcaram uma consulta com e gravaram todo o atendimento com câmeras escondidas. Após ser examinada, a policial percebeu que a Ana Carolina carimbou a prescrição de exames de sangue com o registro de um outro médico. Nos vídeos, a biomédica aparece dando explicações sobre o procedimento do botox, falando dos exames prescritos, demonstrando a receita carimbada e trocando os carimbos.
"Aqui está o exame completão. Hemograma, todos os sais minerais, dosagem de B12, vitamina D, todos os hormônios sexuais. Toda a parte de tireoide, de proteína, de fígado, todas as doenças infectocontagiosas também, HIV, hepatite B, hepatite C, vamos olhar tudo, todo o colesterol, tipo sanguíneo porque isso é importante pra mim, a ortomolecular ganha muito nessa questão do tipo sanguíneo. Não demore pra fazer", pede a biomédica.
A defesa de Ana Carolina negou as acusações e afirmou que ela é habilitada para realizar todos os procedimentos que ela opera em sua clínica. Segundo a advogada Danielle Motta, a biomédica possui pós-graduação em estética. 
"A biomédica Ana Carolina Almeida Campos é profissional habilitada para realizar todos os procedimentos que ela opera em sua clínica e em momento algum exercia a medicina, deixando claro às policiais infiltradas que ela atendeu, que deveriam procurar médicos para realizar tratamento e fazer exames que não estão na sua alçada. A informação de exercício ilegal de medicina é caluniosa. Ana Carolina faz as intervenções estéticas que lhe são competentes de acordo com sua habilitação e diploma de pós-graduação em estética", afirma a advogada.
O delegado Alan Luxardo, que investiga o caso, ressalta que Ana Carolina não estava habilitada para exercer os serviços que oferecia. "Na verdade, além de ela fazer os procedimentos relativos à sua área, ela invadia a esfera da medicina. Ela prescrevia indevidamente exames de sangue e outros tipos de exame até usando o carimbo de um médico, sem o seu consentimento. Ele procurou a delegacia para reportar a situação, daí começamos (a investigação)".
A biomédica foi presa em flagrante pelos crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso, mas o delegado acrescenta que ela também responderá por exercício ilegal da medicina.
Na resolução que dispõe sobre atos do profissional biomédico com habilitação em biomedicina estética informa que está regulamentada a prescrição por este profissional de substâncias e outros
produtos para fins estéticos incluindo toxinabotulínica tipo A, substâncias utilizadas na intradermoterapia, preenchimentos dérmicos, subcutâneos e supraperiostal (exceto Polimetilmetacrilato/PMMA), fitoterápicos, nutrientes (vitaminas, minerais, aminoácidos, bioflavonóides, enzimas e lactobacilos). 
O documento diz ser permitido a prescrição de formulações magistrais ou de referência de cosméticos, cosmecêuticos, dermocosméticos, óleos essenciais e fármacos de administração tópica, além de peelings químicos, enzimáticos e biológicos, incluindo a tretinoína (Ácidoretinoicode 0,01à0,5% de uso domiciliar e até 10% para uso exclusivo em clínica). É permitido também a realização dos procedimentos que envolvam a utilização de lasers (de baixa, média e alta potência) e outros recursos tecnológicos utilizados para fins estéticos.
Falsos médicos
Em agosto, outro caso parecido foi flagrado pela polícia quando Nathiely da Silva do Nascimento, de 20 anos, fingia ser médica do Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, Zona Sul do Rio. A jovem, que é estudante de odontologia, se apresentava como médica especialista em ortopedia e traumatologia da unidade.
Nas redes sociais ela mostrava detalhes de uma suposta rotina de médica, com fotos dando plantões, usando jaleco com seu nome e segurando um estetoscópio.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) esclarece que casos relacionados à atuação de falsos médicos são criminosos e devem ser investigados pela Polícia. "O Cremerj ressalta que a invasão do ato médico é preocupante e deve ser coibida, já que coloca em risco a saúde da população e prejudica a qualidade da medicina no estado do Rio de Janeiro".
Todos os profissionais inscritos no Cremerj podem ser verificados no site www.cremerj.org.br, na área Encontre um Médico.