Na foto, Maria Silva Souza, de 62 anos, recebe a vacina contra a gripe no posto de saúde Heitr Beltrão, na Tijuca. Foto de 26/11/2021Marcos Porto/Agencia O Dia

Rio - A campanha de vacinação contra a gripe volta aos postos da cidade do Rio a partir das 8h dessa sexta-feira (10). Depois de uma semana de suspensão por falta de vacinas no estoque - a campanha parou na última sexta (3) -, a chegada de 100 mil doses no meio da semana vai permitir que a capital fluminense siga na tentativa de conter, via imunização, o que especialistas e o próprio secretário municipal de Saúde tratam como 'epidemia'. Todas as 230 clínicas da família e centros municipais de saúde terão doses de vacinas contra a gripe.
Além da vacina, a Prefeitura do Rio tenta conter a epidemia de Influenza com a ampliação no atendimentos dos casos - nas últimas semanas, UPAs e clínicas da família ficaram superlotadas. Polos de atendimento exclusivo para a gripe foram abertos na Vila Olímpica do Complexo do Alemão e no Parque Olímpico da Barra. Também serão abertos, nos próximos dias, polos em Honório Gurgel e em outros quatro pontos da cidade. A Secretaria Municipal de Saúde afirma que abriu um processo de contratação de 350 profissionais de sáude para reforçar a rede de assistência municipal.
Rio teve mais casos da forma grave da gripe em novembro do que nos dois últimos invernos
A Secretaria Municipal de Saúde já classifica o aumento da Influenza A como uma epidemia no Rio.  Dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) reforçam que o aumento exponencial dos casos de Influenza estão fora da ordem natural - inclusive do clima.
Somando os dois últimos invernos, estação do ano em que casos de gripe costumam aumentar, a cidade do Rio registrou 19 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Influenza, a forma grave da doença. Mas somente em novembro desde ano, metade final da primavera, o município registrou 57 casos de SRAG por Influenza.
Para Diego Xavier, pesquisador da Fiocruz, a Influenza apresenta um comportamento de epidemia no Rio: o vírus se espalhou para outras cidades, com uma duração maior do que o habitual. "O surto está diretamente ligado a um local, um foco. Quando temos espalhado no espaço, e muito além do esperado para a época do ano, a gente começa a ver um comportamento epidêmico", explica o especialista.
Xavier também reforça que o surto, classificado como fora da curva, está relacionado à volta simultânea da população ao convívio social após um longo período de isolamento. "Esse aumento tem muita relação de que a gente não teve a circulação de alguns vírus de influenza por conta das restrições que a gente tava mantendo. Quando a gente começa a ter eventos com aglomeração em local fechado, como um jogo de futebol, você facilita a circulação desses vírus que estavam represados em algumas pessoas que não estavam circulando. Isso é feito de maneira rápida. No cotidiano, a gente teria esses aumentos sazonais, que é o esperado. Mas agora temos muita gente suscetível aos vírus respiratórios, e está todo mundo entrando em contato ao mesmo tempo", explica o pesquisador, que reforça a importância da vacinação para que a epidemia seja controlada.
"A tendência é que se estabilize. A maior parte das pessoas vão adquirir resistência e não vão ter casos graves. Mas o problema é que nesse período de relaxamento, não intensificamos a vacinação. O que acontece no Rio pode se repetir em outros locais. A gente precisa aumentar a vacina para evitar esses surtos. O grande problema é as pessoas terem esses casos e lotarem as unidades que já estão atendendo outros problemas", reforça o especialista.
Estado do Rio tem aumento de influenza A em crianças e população adulta
O boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado nesta quinta (9), destacou que houve crescimento nos casos de SRAG em todas as faixas etárias abaixo dos 60 anos. "Nas faixas etárias entre 30 e 59 anos o crescimento é relativamente leve, porém consistente, reforçando a necessidade de cuidados", pontuou o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe. Os dados foram coletados nas semanas entre o fim de novembro e o início de dezembro.
Entre as crianças de 0 a 9 anos, faixa em que há menor positividade, de testes, também houve aumento de SRAG em 2021. O boletim também aponta que 12 das 27 unidades federativas do Brasil apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo.
"Diferentemente do apontado em atualizações anteriores, embora em muitos estados ainda seja um crescimento lento, os dados por faixa etária sugerem se tratar de um crescimento sustentado e recomenda-se reavaliação das medidas de prevenção da transmissão de vírus respiratórios, especialmente em relação aos eventos de final de ano para evitar agravamento do cenário epidemiológico", afirma Marcelo Gomes.