O professor Wallace dos Santos de Moraes: representação protocolada no IFCS pede que sejam apurados atos de discriminação contra o docenteCléber Mendes
Professor da UFRJ que denunciou racismo na universidade critica relatório final da comissão de sindicância
Dos três professores envolvidos nos atos discriminatórios, apenas um foi advertido; instituição nega encerramento da sindicância
Rio - O professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Wallace dos Santos de Moraes, criticou o relatório final da comissão de sindicância que apura uma denúncia de racismo contra ele, praticada por três professores da instituição. Além dele, o grupo Quilombo do IFCS e o coletivo Docentes Negras e Negros da UFRJ também criticaram a postura da universidade, eleita a melhor instituição de ensino superior do país.
A discriminação de cunho racista aconteceu durante uma reunião virtual da banca que iria escolher um novo professor adjunto para o instituto, em agosto desde ano. Na ocasião, o professor, único negro do instituto, relatou que foi excluído da banca sob argumentos de que seria 'brigão', 'desequilibrado', e que não teria equilíbrio emocional para estar ali, além de se vitimizar constantemente por ser negro.
A Direção do IFCS informou que a sindicância não está encerrada e que qualquer informação, até o momento, seria incompleta e parcial (confira a nota na íntegra no final da reportagem). No dia 8 de novembro de 2021 um documento de dez páginas contendo algumas informações sobre a apuração instaurada foi divulgada pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. No documento, a comissão de sindicância sugeriu a punição de advertência para apenas um professor, Francisco de Josué Medeiros, deixando os outros dois professores, Thais Florencio de Aguiar e Pedro Luiz da Silva do Rego Lima, sem nenhuma advertência.
Em uma carta aberta sobre o relatório da sindicância, o grupo Quilombo do IFCS considerou que "o relatório possui inconsistências gravíssimas que exculparam os outros dois acusados". Para o professor Wallace, a decisão foi o pior resultado possível. "Não é nem por mim, eu já sou professor, doutor... o meu problema são os alunos, técnicos e membros negros da instituição. Quando você dá uma advertência fraca para um dos envolvidos, isso abre margem para que outros casos aconteçam, já que não vai dar em nada no final. É péssimo para a luta antirracista e para a maior universidade do país".
O professor diz que ao receber o relatório da sindicância teve um sentimento de impunidade pelos professores envolvidos no caso terem sido absolvidos, e de desleixo com a comunidade negra. Para ele, este foi o resultado vindo de uma comissão que era composta por amigos dos acusados e, em certo ponto, foram protegidos. O grupo Quilombo do IFCS também citou na carta o consentimento da chefia departamental no momento em que a as palavras humilhantes e discriminatórias eram proferidas.
"Quando o prof. Josué Medeiros proferiu as palavras humilhantes e discriminatórias contra qualquer possibilidade de participação do prof. Wallace de Moraes na banca, indicando inclusive "vitimizações raciais", a chefia além de não coibir palavras discriminatórias ainda as reforçou dizendo que concordava com aquilo que o prof. Josué havia dito. Diante de atos discriminatórios, de violência verbal em espaço público da universidade e em tom de voz exacerbado dirigido a um membro do colegiado, é papel da chefia departamental, de acordo com a Lei 8.112, coibir tais atitudes e chamar a atenção do agressor. A chefia não procedeu dessa forma. Não foi por falta de aviso, pois as professoras Beatriz Bissio, Monica Bruckman, e os professores Valter Duarte e o próprio Wallace de Moraes externaram que estava ocorrendo um ato de discriminação diante de todos e que isso não deveria ser permitido", disse, em carta aberta.
"Nesse relatório inclui todas as provas e mesmo assim que não deu em nada. A sindicância ouviu outros colegas deles, amigos de longa data", desabafou o professor. Wallace disse que entrou com um processo no Ministério Público do Rio, que encaminhou o caso para a Polícia Federal fazer a averiguação. "Agora estou esperando para recorrer administrativamente na UFRJ", informou.
Também em carta aberta, o coletivo Negras e Negros da UFRJ disse que a sindicância "aparentemente não cumpriu com suas funções. O coletivo apontou ainda um possível acobertamento dos fatos ocorridos, o que levou a minimização de uma possível punição. "Reforçamos nosso apoio e solidariedade ao Professor Wallace de Moraes para que seja apurada a denúncia de racismo perpetrado pelo Professor Josué Medeiros e também a omissão da Chefe e do Vice-Chefe de Departamento".
Nota enviada pela Direção do IFCS até o momento:
"A sindicância acusatória é um processo administrativo disciplinar. O processo não está encerrado e obedece os prazos legais, de modo que as informações públicas completas ainda não foram disponibilizadas. Qualquer informação, até o momento, seria incompleta e parcial. A informação do posicionamento ocorrerá pelas vias legais, ao final do processo."
Questionada sobre as alegações do professor Wallace, a Direção do IFCS disse que "este é o relatório final da comissão de sindicância acessível às partes envolvidas. Não contém o julgamento nem as providências seguintes, o processo ainda não foi concluído."
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