Eu assisti tudo, lembrou filha da autônoma sobre a morte da mãeMarcos Porto

Rio - O clima de revolta e tristeza tomou conta da despedida à Maria Jandimar Rodrigues, de 39 anos, que aconteceu na manhã deste domingo (19), no Cemitério de Inhaúma. Ao menos 50 pessoas foram dar adeus à autônoma que morreu na última sexta-feira (17), após se sentir mal durante uma hidrolipo na barriga, realizado em uma clínica do Carioca Offices, na Vila da Penha, Zona Norte do Rio. No enterro, a ex-sogra da mulher, Vânia Marques, fez duras críticas ao médico colombiano Brad Alberto Castrillón Sanmiguel, responsável pelo procedimento estético, a quem chamou de 'carniceiro'.


"Conheço Maria desde que ela tinha 9 anos de idade. Sempre junto, muito amiga, muito ‘trabalhadeira’. Não merecia ficar jogada lá no chão, como esse médico fez com ela. Isso é um carniceiro, ele tinha que estar preso, ele não tinha que estar solto. Ele chegou na delegacia, não falou nada e foi embora. Mas, infelizmente, o que a gente vai fazer? Essa é a justiça do nosso país", desabafou Vânia.

No sepultamento, a filha da autônoma, Brenda Rodrigues, de 21 anos, relembrou que viu sua mãe passando mal no estacionamento do estabelecimento e assistiu ao primeiros socorro sem saber de quem se tratava. Na ocasião, ela chegou a encontrar com o médico de sua mãe na recepção, que não lhe deu explicações sobre o que aconteceu e disse ser um funcionário do prédio.

Nervosa com a demora da mãe em deixar a clínica, ela perguntou para a recepcionista do prédio se estava tudo bem com Maria, mas a funcionária não respondeu. Após questionar outras duas vezes, a mulher disse que o médico explicaria a ela, o que não aconteceu. A jovem só foi informada sobre quem era mulher que recebia atendimento no estacionamento, quando ela já havia morrido.

"Eu assisti tudo. Eu vi massagem cardíaca, eu vi respiração boca a boca, eu vi choque na minha mãe, mas eu não imaginei que era a minha mãe. Minha mãe a todo tempo no chão, na chuva, exposta. Quem passava, via a minha mãe. O médico, em nenhum momento estava lá para falar comigo. O bombeiro falou comigo. "É minha mãe que estava ali fora?" e todo mundo abaixou a cabeça, aquela resposta foi um sim para mim. Ninguém falou "é sua mãe que está ali fora", lembrou Brenda.

Durante o enterro, ela precisou ser consolada pelo pai, que é ex-companheiro de Maria. O marido da autônoma, Wagner Vinícius, com quem ela estava casada há quase seis anos, também estava muito abalado na despedida. Ele contou que chegou a dizer para a esposa não fazer o procedimento, já que havia sentido muitas dores e ficado sem dormir depois de passar por uma hidrolipo nas costas, no último dia 10, na mesma clínica e com o mesmo médico. Ele acusa Brad de ter tentado fugir do local sem prestar socorro à Maria. 
"O sentimento agora é de dor para toda a família que está aqui. Viu como está a filha dela? Todos nós estamos muito tristes com essa perda, com a incompetência de um médico que nós não sabemos onde está agora, se está preso, que era o mais certo, pela incompetência dele", lamentou Wagner. 
O caso é investigado pela 27ª DP (Vicente de Carvalho), que vai intimar o médico a depor na próxima semana. Neste sábado (18), a clínica onde o procedimento estético aconteceu foi interditada para perícia. Segundo o advogado da família, Cristiano Vieira, a morte de Maria foi registrada como encontro de cadáver e o médico, que chegou a ser levado para a delegacia, se reservou ao direito de permanecer calado. De acordo com Wagner, ele também esteve na distrital para prestar depoimento, mas contou que o boletim de ocorrência foi registrado com base no relato de um policial militar. 
"Nós não sabemos do paradeiro dele (do médico), eu fui na delegacia e nem depoimento eu consegui dar. O 'polícia' ouviu o policial militar, fez um boletim e falou "está pronto, pode ir embora". Eu falei: "mas eu não preciso falar nada?", e ele disse que só depois que sair os exames, e eu fui embora", relatou o marido.