A pequena Emily completaria seis anos nesta quinta-feiraDivulgação

Rio - À espera de resposta sobre o inquérito que investiga os culpados pela trágica morte das primas Emily e Rebecca, baleadas durante uma abordagem da Polícia Militar a dois homens em uma moto comunidade do Barro Vermelho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Lídia da Silva Santos segue de luto. Avó de Rebecca e tia da Emily, ela fez um desabafo emocionado para celebrar o aniversário da caçula, que completaria seis anos nesta quinta-feira. 
"Hoje, a nossa família amanheceu em profunda tristeza. Era para nós estarmos festejando o sexto aniversário de Emily. Mesmo sabendo que onde elas estão neste momento, estão muito melhor do que nós simples mortais aqui nesta terra. Mas só nos resta a saudade. A tia ama muito você, fique em paz", disse Lídia.
Passado um ano, a polícia ainda não deu uma solução para o caso e os culpados sequer foram identificados. 
Moradoras da comunidade do Barro Vermelho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, as meninas brincavam na frente de casa quando, segundo relatos, policiais em uma viatura do 15º BPM começam a atirar em direção a dois homens em uma moto. Um dos tiros (um único tiro de fuzil atravessou as duas meninas) atingiu Rebecca no peito e Emily na cabeça.
A 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada dos Núcleos Duque de Caxias e Nova Iguaçu informou que mantém contato constante com o delegado Uriel Alcântara, titular da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), que cuida do caso. O MP informou ainda que o inquérito segue em andamento e que houve a devida reconstituição (não conclusiva), sendo todas as diligências cumpridas. Contudo, até o momento não foi possível identificar a autoria dos disparos que vitimaram Emily e Rebecca. A investigação segue sob sigilo.
Já Defensoria Pública do Rio disse que a DHBF pediu um prazo maior para analisar o laudo da reprodução simulada antes que os defensores tivessem acesso, isso em agosto, o que foi concedido. Mas, segundo a defensoria, desde o mês de novembro não há qualquer contato. Por conta disso, a defensora Carla Vianna, que acompanha o caso, afirmou que oficiou a delegacia, para que a defensoria possa ter acesso ao laudo.
Segundo a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), o inquérito está em fase de conclusão. Em nota, a Polícia Civil esclareceu que a investigação segue com estrita observância aos direitos e garantias fundamentais e submetida ao controle externo com previsão Constitucional, sendo concedida absoluta prioridade em todos procedimentos onde figuram crianças e adolescentes vítimas.
Região é a mais violenta
Somente na Baixada Fluminense, no ano passado, 17 crianças ou adolescentes, entre 12 e 17 anos, foram mortas em ações da polícia. Em 2019 foram 33 crianças ou adolescentes e em 2018, foram 274. De acordo com dados do Fogo Cruzado (2021), coletados entre 2017 e 12 de outubro desse ano, a Baixada Fluminense concentrou 25% do total de crianças baleadas na Região Metropolitana do Rio. Duque de Caxias teve o maior número de crianças vítimas da violência armada da região: foram 11 vítimas.
De acordo com a Unicef, no estado do Rio de Janeiro, nos últimos cinco anos, 3.656 crianças e adolescentes de 0 a 19 anos foram mortos de forma violenta. Em 2020, foram 535. Também em 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19, foram 16 crianças, de 0 a 9 anos, mortas de forma violenta no Rio de Janeiro. Entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos, as mortes por intervenção policial representam 27,90% no cenário nacional.
Entre 2016 e 2020, no estado do Rio foram identificadas pelo menos 106 mortes violentas de crianças de até 9 anos de idade, cerca de 10% do total nacional.