Programa Replantando Vida acolhe egressos do sistema prisionalEliane Carvalho/GOVRJ

Rio - José Batista tem 57 anos e há 13 deles trabalha no Replantando Vida, programa desenvolvido pela Cedae em parceria com a Fundação Santa Cabrini. Segundo ele, a iniciativa mudou o rumo de sua história. O projeto oferece emprego para egressos do sistema prisional fluminense. Hoje, são cerca de 600 apenados – em regimes semiaberto, aberto e liberdade condicional – atuando em 42 municípios e em 140 setores da Cedae. Agora, mais 200 vagas serão abertas para este público, desta vez pela Águas do Rio, que acaba de firmar parceria com a Santa Cabrini.

O Replantando Vida é, atualmente, o maior e mais antigo projeto de ressocialização de apenados do país. "Aqui mudei meu modo de pensar, de agir, de tudo. Vivo o meio ambiente. Já voltei em lugares onde fiz reflorestamento há nove anos e, quando cheguei, chorei de emoção. É muito gratificante esse trabalho", conta José Batista, que trabalha em um viveiro de plantas na Estação de Tratamento de Água do Guandu, em Nova Iguaçu, na Baixada.

O programa já atendeu em 20 anos mais de seis mil pessoas, que recebem salário mínimo, auxílio-transporte e alimentação. Hoje, a Santa Cabrini, que é vinculada à Secretaria de Estado de Trabalho e Renda, tem 22 contratos com órgãos e entidades do setor público e quatro privados. Recentemente, a Fundação renovou contrato com a Cedae por mais cinco anos.

Neste mês, uma nova empresa entrou para esse time, a Águas do Rio, do grupo Aegeas, que adquiriu dois blocos no processo de concessão do saneamento público. Neste começo serão 200 vagas para alocar mão de obra apenada na empresa; destas, 50 já foram preenchidas.

O projeto conta com sete viveiros e outros dois estão em construção. A capacidade de plantio chega a 1,8 milhão de árvores por ano. De forma direta já foram plantadas em torno de 4 milhões de árvores. Muitas delas por José, que ainda precisa cumprir sete anos de pena. O tempo, apesar de longo, não é motivo para desistir.

"Durante esse período, vou continuar no programa porque é daqui que eu levo o pão para sustentar minha família, além de ter cada vez mais dicas de profissionalização. É importante continuar porque a cada três dias que trabalho reduzo um dia da minha pena. Se não fosse o programa, eu não sei o que seria de mim. De mim, não; de todos nós! Quando eu chegar lá fora, quero usar a mesma mão que estou usando aqui nessas plantas para ter um pequeno viveiro e seguir a minha vida", relata José.

Assim como ele, Alessandra Ventura, de 23 anos, também trabalha no projeto. A jovem foi presa aos 18 anos e, após um ano e meio cumprindo pena, ganhou a oportunidade do primeiro emprego na Cedae. Foi na função de serviços gerais do Laboratório de Controle de Qualidade do Guandu, onde encontrou estímulo para terminar os estudos e sonhar com o ingresso no Ensino Superior.
"Eu achei que tinha acabado minha vida, que não tinha mais o que fazer. Mas aí eu vi que ainda é cedo, que ainda estou nova. Retomei meus estudos e estou terminando o 3º ano do Ensino Médio. Quero fazer faculdade de biologia, ser alguém na vida e alcançar meus objetivos: terminar uma faculdade e ter minha casa", revela.

O coordenador e percursor do projeto, Alcione Duarte, celebra a parceria entre a Cedae e a Santa Cabrini, que já dura 20 anos. "O casamento vai chegar às bodas de prata. Essa relação com a Fundação nos permitiu conhecer de uma forma mais profunda o universo carcerário, entender as pessoas, da onde elas vêm, o que tem capacidade de produzir. Existe um preconceito. Porém, é preciso haver também por parte da sociedade e dos empresários o entendimento do que essa iniciativa é capaz de promover para a própria sociedade. É um sentimento de fraternidade", diz Alcione.

O presidente da Santa Cabrini, Helton Yomura, revela que a Fundação tem trabalhado para mudar o paradigma de que os egressos do sistema prisional só servem para funções mais braçais. "Nós estamos tentando mudar esse estigma, oferecendo qualificação profissional, de modo que essas pessoas melhorem o nível de conhecimento, o nível educacional, para que ao final da pena consigam uma ressocialização plena disputando vaga no mercado de trabalho como qualquer pessoa. Temos a qualificação dentro e fora do presídio. Essa iniciativa é executada com a Uerj, então todos aqueles que se profissionalizam com a Santa Cabrini recebem um diploma chancelado pela universidade", completa Helton.