Loja do Grande Oriente do Brasil: 200 anos de História, como a IndependênciaDivulgação

Rio - Em setembro, teremos a celebração do Bicentenário da Independência. Mas a festa já começou na cidade - a única das Américas a sediar uma monarquia européia. Hoje, data em que o Dia do Fico completa 200 anos, a loja maçônica Grande Oriente do Brasil - berço da Maçonaria Brasileira - faz uma homenagem a esses eventos a partir das 9h, na histórica Rua do Lavradio, onde está sediada, com a presença da Banda Sinfônica do Instituto Brasileiro de Música e Educação e convidados de todo o país. 

O Dia do Fico, um 'esquenta' do que aconteceria em 7 de setembro do mesmo ano, foi um episódio que, nos bastidores da monarquia, contou com participação decisiva de maçons, como o do senador José Clemente Pereira. No momento em que Dom Pedro I vai à sacada do Paço Imperial declarar que resistiria à pressão da Coroa Portuguesa e se manteria no Brasil, vários atores da política, da sociedade, das artes e cultura integravam o movimento de resistência.

A festa começa com a apresentação da Banda Sinfônica, hasteamento de bandeiras, entre outras atrações. Testemunha sólida e coadjuvante em acontecimentos fundamentais como a Independência do Brasil e a Abolição da Escravatura, o Grande Oriente do Brasil também está comemorando seu bicentenário, fato que irá fomentar uma série de atividades de cunho cultural na cidade ao longo do ano. “A Maçonaria é representada pela reunião de homens de boa vontade, movidos pelo supremo ideal de servir, de construir uma sociedade mais justa e um mundo melhor”, define o Grão-Mestre Aildo Virginio Carolino.

“Nosso objetivo é criar um evento cívico que marque o início de um ano histórico tão importante”, declara o Grão-Mestre. Estão previstas as participações do Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil Dr. Múcio Bonifácio Guimarães e diversos Grão-Mestres estaduais, dentre outras. Após a apresentação pública da Banda Sinfônica, com regência do maestro Davi Fernandes, as cerimônias acontecerão internamente com os maçons e em outra parte com a Fraternidade Feminina.

A importância do Dia do Fico
De acordo com o Grão-Metre Aildo, o Dia do Fico foi o momento da primeira grande ruptura entre Brasil e o Império Português. Em 24 de abril de 1821, as Cortes Portuguesas dividiram o Brasil em províncias autônomas, cada uma elegeria seus governantes, respondendo diretamente à Lisboa. D. Pedro chegou a escrever ao pai: “ Fiquei Regente, e hoje sou capitão-general, porque só governo a província do Rio de Janeiro”, mas sua reação não abalou o rei português. Em 29 de setembro de 1821, as Cortes Portuguesas deram mais um duro golpe no Brasil, terminando com as atividades dos tribunais de justiça e reimplantavam o monopólio do comércio dos produtos vendidos e comprados pelos brasileiros, além de exigir o retorno de D. Pedro a Lisboa imediatamente, após a eleição de uma junta, que seria eleita em 10 de fevereiro de 1822 para administrar o Rio de Janeiro, conforme Decretos 124 e 125 das Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa. E essas determinações chegaram as mãos de D. Pedro em 09 de dezembro de 1821. 
Em reação a estas determinações São Paulo, encaminha manifesto, intitulado Representação dirigida ao Príncipe Regente do Brasil, assinado Presidente da Província João Carlos Augusto Oeynhausem, o vice-Presidente José Bonifácio de Andrada e Silva, futuro primeiro Grão-Mestre Geral, e mais todo secretariado, entregue a D. Pedro na noite do dia 01 de janeiro de 1822. Na capital, o movimento para a permanência de D. Pedro era na casa do Capitão-mor José Joaquim da Rocha, sendo transferida as reuniões, por motivo de segurança, a uma cela, frequentado por D. Pedro, no Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca, o grupo conhecido como Clube da Resistencia, articulava um manifesto intitulado Representação do Povo do Rio de Janeiro, redigido pelo Frei Francisco de Santa Teresa Jesus Sampaio, que anexado as mais de oito mil assinaturas, foi entregue, pelo Presidente do Senado da Câmara, José Clemente Pereira a D Pedro.
D. Pedro se convence ter o apoio, político e popular, necessário para não cumprir as ordens de regresso das Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, em uma postura de desobediência, em 09 de janeiro de 1822 no Paço Imperial, cunha a frase que entra para a História: “Como é para bem de todos, e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao povo que Fico”, acendendo o estopim para o dia sete de setembro do mesmo ano.

A Maçonaria
"A Ordem Maçônica possui princípios rígidos de tolerância religiosa, política e econômica, que perduram por mais de trezentos anos, em um perfeito equilíbrio da tradição com a modernidade. Estes mesmos princípios geram um sentimento de fraternidade entre seus integrantes que ultrapassam as fronteiras sociais e dos estados nacionais. Em uma sociedade polarizada, em especial na cultura ocidental, organizações como a Maçonaria vem se transformando em verdadeiro oásis da convivência pacifica entre pensamentos diferentes.
Em um momento em que ilhas de pensamentos convergentes, ancorados na tecnologia das mídias sociais, é cada vez mais presente em nossos dias. Diferente do mundo virtual, que também é muito utilizado pela Maçonaria, as reuniões presenciais são insubstituíveis, com exceção do período pandêmico", comenta o Grão-Mestre Aildo Carolino. 
Entre os maçons estão nomes como Dom Pedro I, Carlos Gomes, André Rebouças, Castro Alves, Arrelia, Visconde de Rio Branco, Luís Gama, José de Souza Marques, Deodoro da Fonseca, José Bonifácio, Joaquim Gonçalves Ledo, Rui Barbosa, Lauro Müller, Alcindo Guanabara, José do Patrocínio, Evaristo da Veiga, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Tomaz Antônio Gonzaga e Joaquim Nabuco .

Programação de 2022
Várias ações no campo da Cultura vão celebrar os 200 anos do Grande Oriente do Brasil, com a realização de eventos por toda a cidade. Em abril, no Theatro Municipal (25) haverá um concerto comemorativo, uma cerimônia no Forte de Copacabana (26) e um Encontro na Academia Brasileira de Letras (28), bem como uma Sessão Solene no Palácio Maçônico do Lavradio (27).

Palácio Lavradio
Formado por 11 salas, 10 templos, a Sala do Conselho e o Templo Nobre, o Palácio Maçônico do Lavradio/Grande Oriente do Brasil é guardião de acervo pontual sobre a filosofia maçônica num primeiro momento e, mais amplamente, sobre a sociedade e a antropologia, por simbolizarem fatos que contam momentos da história em seu entendimento matriz. Foi até 1978 sede nacional do Grande Oriente do Brasil. Depois, foi transferido para Brasília. 
A manutenção do Palácio Maçônico do Lavradio é um desafio no Rio de Janeiro como seria em qualquer Estado da Federação, um prédio com projeto inicial de 1836, adquirido pela Maçonaria Nacional, passando a ser a sede do Grande Oriente do Brasil em 1842, necessita de um constante processo de restauração, a fim de continuar sendo um ponto que tão bem representa o Rio de Janeiro da primeira metade do século XIX.
Enfatizamos que o Palácio Maçônico do Lavradio é mantido por todos os Maçons filiados ao Grande Oriente do Brasil, sem jamais ter recebido verbas públicas mesmo após seu tombamento pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (InEPaC) em 1972", explica o grão-mestre Aildo.

A partir de março voltam a acontecer as visitas guiadas. Devem ser agendadas por telefone. Entre os destaques que o visitante encontra, estão o Trono de Dom Pedro I na Sala do Conselho, a grande tela histórica da Guerra do Paraguay, de Eduardo de Martino, o biombo atrás do qual a Princesa Isabel trocava de roupa, uma biblioteca de livros e, logo no saguão de entrada, três belas escultura de mármore em que representam: a Fé, a Esperança e a Caridade. A peça é toda cinzelada em mármore de Carrara. O Palácio Lavradio fica na Rua do Lavradio, 97. 
Cardápio homenageia Bicentenário da Independência

Casarão Rua do RosárioDivulgação

O Sobrado da Cidade, casarão de três andares do século XIX, no coração do Corredor Cultural do Centro do Rio - na Rua do Rosário -  lançou um cardápio para homenagear os 200 anos da Independência do Brasil, preservando a história do local. 
Os petiscos, por exemplo, têm o nome das embarcações que por ali passaram, entre 1866 e 1870, e que tinham suas rotas anunciadas pelo Secos & Molhados que havia no endereço. As entradas foram batizadas com os nomes dos negócios que o casarão abrigou entre 1866 e 1890. Os pratos principais homenageiam moradores ou pessoas que tiveram comércios no local. As sobremesas são de produtos que, em algum momento, foram comercializados no casarão.
O prato Bicentenário tem como base o frango, pois a canja de galinha era a favorita de Dom Pedro II que, inclusive, colecionava cardápios. A atual gastronomia introduziu maior variedade de pratos e que fazem parte das origens cariocas do Brasil colonial, como o picadinho, por exemplo, e a banana na sobremesa. A banana, hoje tão brasileira, tem origem asiática, mas chegou ao Brasil com os portugueses no século XV. Todos os pratos trazem ingredientes que têm uma história, já que o Sobrado da Cidade já foi ponto de diversos comércios durante os séculos.

"Queremos mostrar um pouco do valor que tem nossa história. Creio ser um dever nosso, como cidadãos, preservar e levar a nossa origem aos mais novos. As vezes eu vejo as pessoas circulando pelas ruas, encantadas com as construções. Esse encantamento, na minha opinião, é o sentimento de pertencimento. Somos oriundos daquele espaço. O Brasil tem sua história registrada naquele local", Carla Esteves, sócia do Sobrado

No segundo andar há o espaço Black Princess - nome da cerveja favorita de D. Pedro II. Todas essas histórias e referências gastronômicas estão embasadas por uma parede de 23m de altura, construída pelos escravizados da época, em pedras e óleo de baleia, mantendo de pé uma edificação de um tempo que conhecemos geralmente só pelos livros.