Ao todo, 18 girafas foram importadas da África do Sul pelo BioParque Reprodução/Ampara Animal

Rio - O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) recebeu, nesta terça-feira (25), os laudos das necropsias de três girafas que morreram no Resort e Safári Portobello, em Mangaratiba, na Costa Verde, no último dia 14 de dezembro. Na ocasião, os animais fugiram da área de adaptação onde estavam e chegaram a ser recapturados, mas acabaram morrendo. Ao todo, 18 delas desembarcaram no Aeroporto do Galeão, no dia 11 de novembro, importadas da África do Sul pelo BioParque, zoológico em São Cristóvão.

De acordo com o Inea, a expectativa é concluir a análise desses documentos até o final desta semana. Caso seja identificada alguma irregularidade, o órgão informou que pretende adotar medidas previstas na legislação ambiental. A Polícia Federal também abriu um inquérito para apurar as circunstâncias das mortes das girafas e uma representação para investigar o caso está sob análise no Ministério Público Federal (MPF).
Ainda nesta terça-feira (25), o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, a Agência de Notícias de Direitos Animais e a ONG Ampara Animal protocolaram juntos uma ação civil pública que tramitará na Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ). A medida pede a imediata retirada das outras 15 girafas sobreviventes que ainda estão no hotel. O grupo também fez um abaixo-assinado online que pede pelo fim da importação, comercialização e captura de animais em vida livre.
Até às 15h50 desta quarta-feira (26), a petição já tinha 3.204 assinaturas. Eles alegam que os animais estão confinados há três meses em baias fechadas, cercadas por telhas de metal, em situação de "extremo sofrimento". Além disso, afirmam que desde as mortes dos animais, as outras girafas não saem ao ar livre, não veem a luz do dia e ficam mantidas nas baias, com chão úmido, cimentado e pisando em fezes.
Animais morreram após fugir de área de adaptação - Reprodução/Fórum Animal
Animais morreram após fugir de área de adaptaçãoReprodução/Fórum Animal


Em uma publicação nas redes sociais, a Ampara diz que os animais estavam divididos em grupos de três em baias de 40 metros quadrados que, segundo a ONG, "causam estresse e não trazem o mínimo de bem-estar para os animais". A organização ressalta ainda que o espaço mínimo para duas girafas em cativeiro, de acordo com a legislação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), corresponde a 600 metros quadrados.
O Portobello Resort & Safári informou que "trabalha com muita responsabilidade e transparência no manejo da fauna que vive em suas dependências". Segundo o estabelecimento, no local vivem cerca de 500 animais oriundos do Brasil e dos continentes europeu e africano "harmoniosamente" em um espaço de 300 mil metros quadrados e divididos em duas áreas. "A presença dos animais no hotel faz parte de um projeto de conservação a longo prazo, que inclui a chegada constante de novas espécies. Entre elas, as girafas", disse o hotel. 
O resort também afirmou que as 18 girafas chegaram às dependências do Portobello vindas da África do Sul, autorizado para o manejo sustentável e desenvolvimento comunitário com essas espécies. A instituição reforçou que foi aprovada pelos órgãos competentes brasileiros e sul-africanos e que toda a logística de transporte dos animais foi acompanhada por uma equipe técnica especializada. 
"Lamentavelmente, durante as operações de manejo, um grupo de girafas escapou da área reservada para a sua adaptação. Após a captura, três faleceram. Por ser uma espécie sensível, determinadas situações podem levar ao desequilíbrio orgânico do animal. O Portobello Resort & Safári assegura, contudo, que trabalha com todo o rigor e cuidado exigidos, seguindo os protocolos de segurança necessários. Cabe ressaltar que, antes da chegada das girafas, o espaço passou por uma vistoria, feita pelo órgão competente, que constatou que o local estava em boas condições", disse o estabelecimento, que também lamentou a morte dos animais.
"O Portobello lamenta o ocorrido e reitera o compromisso com o cuidado e a preservação dos animais. O safári – o único no Brasil dentro de um resort – é classificado pelo Ibama como categoria A, ou seja, os animais vivem em liberdade, seguros e cuidados por uma equipe treinada e orientados por um veterinário e um biólogo. Os animais são provenientes de apreensões ilegais e resgates, e muitos chegam até o hotel depois de sofrerem acidentes, maus-tratos ou serem abandonados", ressaltou a nota. 
Ao todo, 18 girafas foram importadas da África do Sul pelo BioParque  - Reprodução/Ampara Animal
Ao todo, 18 girafas foram importadas da África do Sul pelo BioParque Reprodução/Ampara Animal
Na ação protocolada, as organizações pedem que os responsáveis pelas mortes sejam impedidos de venderem as girafas e de importarem mais animais da fauna exótica. O grupo quer também que os animais sobreviventes fiquem, exclusivamente, nas dependências do BioParque, que devem estar dentro das condições determinadas pelo Ibama.

"Infelizmente, a lei permite que esses animais sejam importados, portanto queremos que eles tenham o mínimo de bem-estar e possam expressar seus comportamentos naturais, enquanto discutimos a destinação dessas preciosas vidas para um santuário ou um local que possa atender todas as necessidades da espécie e que seja o mais próximo possível do seu habitat natural, de onde nunca deveriam ter saído (...) Os animais sentem dor e medo, e devem ser tratados com respeito e dignidade, seguindo princípios éticos e de bem-estar animal. Eles são sencientes, não são objetos!", declarou a diretora técnica do Fórum Animal, Vânia Plaza Nunes, no abaixo-assinado.

Em nota, o Ibama esclareceu que a licença para a importação das 18 girafas foi emitida legalmente com base no artigo que autoriza a importação de animais da fauna silvestre brasileira e da fauna silvestre exótica para jardins zoológicos, criadouros científicos e criadouros conservacionistas, clubes e sociedades ornitófilas, devidamente registrados mediante demonstração da necessidade de formação ou renovação de plantel. A partir de uma lei complementar de 2011, esse registro passou a ser realizado pelo órgão estadual.

"Além disso, a autorização foi concedida seguindo em avaliações de regularidade e da capacidade do importador de receber os animais no Zoológico Safári Portobello, feitas pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente (INEA/RJ) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) - responsável pelo cumprimento da legislação sanitária. Em caso de descumprimento das condicionantes da licença emitida pelo Ibama, o importador será sujeito às sanções previsto pelo Decreto 6514/2008", completou o Instituto.
Prefeito Eduardo Paes Inaugura o BioParque do Rio, na Quinta da Boa Vista. - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Prefeito Eduardo Paes Inaugura o BioParque do Rio, na Quinta da Boa Vista.Estefan Radovicz / Agencia O Dia


Procurado, o BioParque informou que "trabalha com muita seriedade no tripé da pesquisa, conservação e educação e com muita responsabilidade e cuidado no manejo da fauna" e que "o projeto de manejo é de longo prazo - de mais de 40 anos - para um programa dedicado à conservação integrada de girafas". O zoológico disse ainda que a expectativa para o futuro dos animais é a pesquisa para fins de conservação, envolvendo o grupo importado e, num futuro, os demais animais da espécie já manejados no Brasil.
"Importantes pesquisas serão conduzidas com biotecnologia reprodutiva, bem-estar animal e genética, além de cooperação junto a outras reservas da África do Sul." A nota esclarece ainda que o grupo de girafas veio de um local autorizado para manejo sustentável e desenvolvimento comunitário com essas espécies na África do Sul. A instituição foi devidamente aprovada pelos órgãos competentes brasileiros e sul-africanos. "Toda a logística foi acompanhada por um time técnico especializado no manejo para garantir a segurança e bem-estar dos animai", ressalta o Bioparque.

"Contudo, é com pesar e consternação que informamos que, durante as operações de manejo, um grupo de girafas escapou de uma área de manejo, onde ocorre sua adaptação e, após a contenção e retorno às baias, três vieram a óbito. As girafas, assim como outros animais, são bastante sensíveis e, por isso, determinadas situações podem levar ao desequilíbrio orgânico do animal. Os projetos de manejo de espécies são operações complexas e envolvem riscos que precisam ser enfrentados em prol da possibilidade de garantir sua restauração e conservação", continuou o zoológico, que reforçou seus cuidados com os animais.

"O BioParque do Rio reitera a responsabilidade com o manejo de fauna, com os projetos de longo prazo de restauração da natureza e afirma não haver maus-tratos como tentam sugerir em denúncias infundadas. As girafas estão em adaptação em um ambiente preparado para suas necessidades e aprovados pelos órgãos competentes. Elas estão bem e evoluem a cada dia na relação com os cuidadores, se alimentando e crescendo em excelentes condições. Em breve — conforme a adaptação/habituação dos animais —, seguirão o processo que contempla a utilização de um espaço de 43.695m²." Confira a nota na íntegra.

Nota Portobello Resort & Safári
O Portobello Resort & Safári trabalha com muita responsabilidade e transparência no manejo da fauna que vive em suas dependências. Cerca de 500 animais oriundos do Brasil e dos continentes europeu e africano vivem harmoniosamente em um espaço de 300 mil metros quadrados e divididos em duas áreas entre o Oceano Atlântico e a Mata Atlântica. A presença dos animais no hotel faz parte de um projeto de conservação a longo prazo, que inclui a chegada constante de novas espécies. Entre elas, as girafas.

No final de 2021, 18 chegaram às dependências do Portobello vindas da África do Sul, autorizado para o manejo sustentável e desenvolvimento comunitário com essas espécies. A instituição foi aprovada pelos órgãos competentes brasileiros e sul-africanos. Além disso, toda a logística de transporte dos animais foi acompanhada por uma equipe técnica especializada.

Lamentavelmente, durante as operações de manejo, um grupo de girafas escapou da área reservada para a sua adaptação. Após a captura, três faleceram. Por ser uma espécie sensível, determinadas situações podem levar ao desequilíbrio orgânico do animal. O Portobello Resort & Safári assegura, contudo, que trabalha com todo o rigor e cuidado exigidos, seguindo os protocolos de segurança necessários. Cabe ressaltar que, antes da chegada das girafas, o espaço passou por uma vistoria, feita pelo órgão competente, que constatou que o local estava em boas condições.

O Portobello lamenta o ocorrido e reitera o compromisso com o cuidado e a preservação dos animais. O safári – o único no Brasil dentro de um resort – é classificado pelo Ibama como categoria A, ou seja, os animais vivem em liberdade, seguros e cuidados por uma equipe treinada e orientados por um veterinário e um biólogo. Os animais são provenientes de apreensões ilegais e resgates, e muitos chegam até o hotel depois de sofrerem acidentes, maus-tratos ou serem abandonados.

Na primeira área, o visitante pode conferir de perto aves tipicamente brasileiras como tucanos, araras, papagaios, emas, jabutis, antas, jacarés, gansos, além de macacos pregos, bugios e aranhas, que podem ser fotografados sem a presença de grades. Na segunda, a “Savana Brasileira”, é possível o contato físico com cervos, antílopes, lhamas, zebras, camelo e dromedários.

O safári conta, ainda, com a participação especial de diversos animais da Mata Atlântica como tucanos do bico preto, gaviões, lontras, patos selvagens, micos e corujas.

Todos os animais silvestres possuem cadastro e são reconhecidos pelo Ibama.


Nota do BioParque

O BioParque do Rio trabalha com muita seriedade no tripé da pesquisa, conservação e educação e com muita responsabilidade e cuidado no manejo da fauna. O projeto de manejo é de longo prazo - de mais de 40 anos - para um programa dedicado à conservação integrada de girafas.

Em 2016, a girafa entrou para a lista elaborada pela Internacional Union for the Conservation of Nature de espécies ameaçadas na categoria vulneráveis. Atualmente, existem 16 girafas no país com grau de parentesco genético, o que torna vulnerável a manutenção do grupo a médio prazo. Por isso, optou-se em trazer as girafas da África do Sul, pois a maior parte da população que existe no Brasil é descendente de animais da mesma área. Logo, é importante que eles sejam de origem do continente africano e não de um zoológico americano ou europeu.

A expectativa para o futuro dos animais é a pesquisa para fins de conservação, envolvendo o grupo importado e, num futuro, os demais animais da espécie já manejados no Brasil. Importantes pesquisas serão conduzidas com biotecnologia reprodutiva, bem-estar animal e genética, além de cooperação junto a outras reservas da África do Sul.

O grupo de girafas veio de um local autorizado para manejo sustentável e desenvolvimento comunitário com essas espécies na África do Sul. A instituição foi devidamente aprovada pelos órgãos competentes brasileiros e sul-africanos. Toda a logística foi acompanhada por um time técnico especializado no manejo para garantir a segurança e bem-estar dos animais.

Contudo, é com pesar e consternação que informamos que, durante as operações de manejo, um grupo de girafas escapou de uma área de manejo, onde ocorre sua adaptação e, após a contenção e retorno às baias, três vieram a óbito. As girafas, assim como outros animais, são bastante sensíveis e, por isso, determinadas situações podem levar ao desequilíbrio orgânico do animal. Os projetos de manejo de espécies são operações complexas e envolvem riscos que precisam ser enfrentados em prol da possibilidade de garantir sua restauração e conservação.

O BioParque do Rio reitera a responsabilidade com o manejo de fauna, com os projetos de longo prazo de restauração da natureza e afirma não haver maus-tratos como tentam sugerir em denúncias infundadas. As girafas estão em adaptação em um ambiente preparado para suas necessidades e aprovados pelos órgãos competentes. Elas estão bem e evoluem a cada dia na relação com os cuidadores, se alimentando e crescendo em excelentes condições. Em breve — conforme a adaptação/habituação dos animais —, seguirão o processo que contempla a utilização de um espaço de 43.695m².

É importante ressaltar que, por sermos uma instituição que se dedica à pesquisa científica e à conservação, assumimos o compromisso de sermos os coordenadores no Brasil do Grupo de Trabalho para os esforços de conservação ex-situ da girafa pela Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB). Neste papel, o Bioparque liderará as pesquisas e projetos de conservação da espécie no país, com foco principal no desenvolvimento de técnicas utilizando a genética e a tecnologia da reprodução para o aumento do número de indivíduos da espécie. O manejo ex situ de espécies é uma importante ferramenta complementar de conservação da biodiversidade e a ela foi dedicado o artigo 9º da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), assinado pelo Brasil em 1992.

Transformar esse propósito em realidade é uma longa jornada.