Faixas, cartazes e inscrições de protesto foram deixados no quiosqueReginaldo Pimenta

Rio - O quiosque onde o jovem Moïse Kabagambe, 24 anos, foi espancado até a morte, na praia da Barra da Tijuca, amanheceu neste domingo com faixas e cartazes de revolta e pedidos de justiça para o congolês. Inscrições feitas no quiosque como 'assassinos' e 'covardes' chamam a atenção de quem passa pelo local.
"Foi uma covardia. Me sinto impotente diante de tamanha crueldade. O Estado precisa ser mais firme com quem comete um ato tão covarde como este', disse um homem que parou para fotografar o local.
Estampada com uma foto de Moïse, a frase dita por Yvana Lay, mãe do jovem congolês, foi fixada na faixa que ocupa a fachada do quiosque: "Fugimos do Congo para que não nos matassem. Mas mataram meu filho aqui". A faixa, que estava dependurada no quiosque, foi esticada por frequentadores da praia na manhã deste domingo. Uma mulher, que não quis se identificar, se emocionou ao ler a frase.
"É mais uma mãe que perde seu filho. Mais uma mãe negra que perde seu filho negro. Até quando isso vai acontecer?", indagou.
Frase dividiu opiniões
Palavras como 'vidas negras importam', 'justiça', 'covardes' também estampam o quiosque. Uma das inscrições que mais chamaram a atenção foi a que diz: 'Vende-se carne negra. Tel: 190'. Algumas pessoas acharam que foi uma ofensa, e entenderam como deboche. "Achei isso um absurdo", revoltou-se um rapaz.
Outros entenderam como uma crítica ao sistema, já que a inscrição é uma referência à música carne 'A carne', conhecida na voz de Elza Soares. A expressão faz denúncia ao racismo estrutural, ao expor o preconceito e a forma como o negro ainda é tratado na sociedade brasileira, como mercadoria sem valor. 
 
Quiosque vai virar memorial
Segundo a Secretaria Municipal de Fazenda do Rio, a família do jovem Moïse Kabagambe aceitou administrar um dos quiosques envolvidos nas investigações que apuram o assassinato do jovem refugiado. Em parceria com a Orla Rio, concessionária que opera os estabelecimentos, um projeto da prefeitura vai transformar os quiosques Tropicália e Biruta em um memorial em homenagem à cultura congolesa e africana.
Segundo a secretaria, a iniciativa tem o objetivo de promover a integração social e econômica de refugiados africanos e reafirmar o compromisso da cidade com a promoção de oportunidades para todos. "O que aconteceu foi algo brutal, inaceitável e que não é da natureza do Rio. É nosso dever ser uma cidade antirracista, acolhedora e comprometida com a justiça social", disse o secretário Pedro Paulo.
Em nota, a prefeitura disse que o contrato de concessão com os atuais operadores dos quiosques está suspenso, durante a investigação do crime e que, "caso se comprove que eles não têm qualquer envolvimento no crime, A Orla Rio discutirá a transferência para outro espaço".
Condições de trabalho nos quiosques
A Frente Nacional Antirracista (FNA), representada pela coordenadora e advogada, Tamires Sampaio, entrou com uma representação no Ministério Público do Trabalho (MPT) para a ampliação da investigação das condições de trabalho em todos os quiosques da orla da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. A entidade protocolou a ação neste sábado, motivada pela morte do congolês Moïse Kabagambe, espancado até a morte depois de cobrar diárias atrasadas no quiosque Tropicália.
Cerca de 60 entidades do movimento no Rio de Janeiro, em especial a de imigrantes e da população negra assinam a petição. O objetivo, segundo a FNA, é cobrar explicações, providências e evitar que novos casos como este aconteçam.