Aviso do Inmet é de perigo de chuva forte de 30 mm a 60 mm em 1 hora ou 100 mm em 24h para todo o estadoRicardo Cassiano/ Divulgação
Para dar a dimensão da intensidade, a meteorologista do Inmet no Rio Marlene Leal compara a tragédia de ontem (15) à de 2011, que deixou 918 pessoas mortas. Naquele 11 de janeiro, foram 280 mm distribuídos em 8 horas em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. No Morro do Bumba, em Niterói, em 2010, quando morreram 267 pessoas, foram 281 mm, entre 5h e 6h. Na chuva de ontem, a região afetada foi localizada na cidade de Petrópolis em apenas 3 horas.
No prognóstico para este verão, elaborado no ano passado, o Inmet já havia previsto que o mês de fevereiro apresentaria mais chuvas do que janeiro e março. Para esta quarta-feira, o aviso do Inmet é de bandeira laranja para todo o estado. Esta categoria representa perigo de chuva forte entre 30 mm e 60 mm em um intervalo de 1 hora ou de 100 mm em 24 horas. Não há, no entanto previsão de chuva com tanta intensidade como ontem (15).
A frente fria que passou pelo litoral do Rio de Janeiro e provocou a chuva se afasta em direção ao Norte. Na tarde desta quarta-feira a massa de ar passava pelo norte fluminense e deve chegar ao litoral do Espírito Santo até o fim da tarde.
A meteorologista do Inmet no Rio, Marlene Leal explica que a passagem da frente fria no oceano, causou queda na pressão atmosférica e, associada ao tempo quente e úmido de ontem, provocou a chuva, cuja intensidade não poderia ser prevista. O tipo de nuvem que atuou, a cumulonimbus, pode se formar e precipitar em apenas 40 minutos.
"Esse aviso de chuva forte estava vigente, foi colocado até as 11 horas de amanhã. A gente esperava, mas, a intensidade, a gente não tem como prever com antecedência. Ontem, a gente tinha uma frente fria passando pelo mar, aquecimento e umidade em alta na atmosfera, havia ventos do mar para o continente e o tempo quente e abafado. Isso favorece a (nuvem) cumulonimbus se desenvolver rapidamente, no período entre 40 e 60 minutos", explica.
A nuvem se formou e dissipou sobre a região de Petrópolis. A topografia, explica a meteorologista, favoreceu a concentração da nuvem no local. "Ela não consegue se dissipar, se dissipa desaguando. É uma nuvem baixa, que fica próxima do solo e se desenvolve verticalmente. Cria esse volume enorme de chuva", conta Marlene.
Na avaliação do professor de Meteorologia da Uerj, membro do Centro de Pesquisa de Desastres Naturais, Lucio Silva de Souza, a chuva, que já deixou mais de 50 mortos foi um evento extremo, mas não pode ser considerado atípico para o período. A precipitação, que provocou deslizamento de terra se dá em meio à Zona de Convergência do Atlântico Sul, que também se estabelecia nas tragédias que afetaram o Sul da Bahia e o Norte fluminense neste verão.
A Zona de Convergência do Atlântico Sul é um corredor de nebulosidade que vem da região amazônica ao sudeste do país. A coincidência do fenômeno com a passagem de uma frente fria no litoral do Rio de Janeiro, aliadas ao tempo úmido e quente, provocou a precipitação.
"A Zona de Convergência do Atlântico estava atuando do Rio até Goiás e Mato Grosso. Agora, a passagem de uma frente fria pelo litoral provocou um aumento no grau de instabilidade e essa chuva intensa. A Zona de Convergência confere um caráter instável. A abertura repentina do tempo, ou a passagem de uma frente fria, podem ser perigosos. Em termos meteorológicos, é um fenômeno comum", explica.
"Foi uma chuva muito forte. Já é o terceiro evento deste ano das Zonas de Convergência, depois das chuvas que atingiram o Sul da Bahia e o norte fluminense. Os últimos verões foram mais secos e não houve esses eventos", pontua.
A forte chuva que caiu na cidade de Petrópolis na tarde de terça-feira (15) deixou dezenas de mortos. As buscas por desaparecidos continuam e corpos são encontrados a todo o momento. Entre os mais de 171 pontos de deslizamento, o mais crítico é o do Morro da Oficina: parte da encosta foi abaixo durante a tarde e pelo menos 80 casas foram atingidas. O município decretou Estado de Calamidade Pública e os militares seguem trabalhando. Há previsão de mais chuva, com menos intensidade, para esta quarta-feira.
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