Aviso do Inmet é de perigo de chuva forte de 30 mm a 60 mm em 1 hora ou 100 mm em 24h para todo o estadoRicardo Cassiano/ Divulgação

Rio - A forte chuva que atingiu a cidade de Petrópolis na Região Serrana do Rio na tarde de terça-feira se caracterizou pela intensidade e localidade. Foram 259,8 mm de água em 6 horas, sendo que 256 mm do total se precipitaram em apenas 3 horas, de 15h50 a 18h50 de terça-feira. Nessas três horas choveu mais do que os 236,6 mm previstos para o mês de fevereiro inteiro. As informações são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Rio de Janeiro.

Para dar a dimensão da intensidade, a meteorologista do Inmet no Rio Marlene Leal compara a tragédia de ontem (15) à de 2011, que deixou 918 pessoas mortas. Naquele 11 de janeiro, foram 280 mm distribuídos em 8 horas em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. No Morro do Bumba, em Niterói, em 2010, quando morreram 267 pessoas, foram 281 mm, entre 5h e 6h. Na chuva de ontem, a região afetada foi localizada na cidade de Petrópolis em apenas 3 horas.

No prognóstico para este verão, elaborado no ano passado, o Inmet já havia previsto que o mês de fevereiro apresentaria mais chuvas do que janeiro e março. Para esta quarta-feira, o aviso do Inmet é de bandeira laranja para todo o estado. Esta categoria representa perigo de chuva forte entre 30 mm e 60 mm em um intervalo de 1 hora ou de 100 mm em 24 horas. Não há, no entanto previsão de chuva com tanta intensidade como ontem (15).

A frente fria que passou pelo litoral do Rio de Janeiro e provocou a chuva se afasta em direção ao Norte. Na tarde desta quarta-feira a massa de ar passava pelo norte fluminense e deve chegar ao litoral do Espírito Santo até o fim da tarde.

A meteorologista do Inmet no Rio, Marlene Leal explica que a passagem da frente fria no oceano, causou queda na pressão atmosférica e, associada ao tempo quente e úmido de ontem, provocou a chuva, cuja intensidade não poderia ser prevista. O tipo de nuvem que atuou, a cumulonimbus, pode se formar e precipitar em apenas 40 minutos.

"Esse aviso de chuva forte estava vigente, foi colocado até as 11 horas de amanhã. A gente esperava, mas, a intensidade, a gente não tem como prever com antecedência. Ontem, a gente tinha uma frente fria passando pelo mar, aquecimento e umidade em alta na atmosfera, havia ventos do mar para o continente e o tempo quente e abafado. Isso favorece a (nuvem) cumulonimbus se desenvolver rapidamente, no período entre 40 e 60 minutos", explica.

A nuvem se formou e dissipou sobre a região de Petrópolis. A topografia, explica a meteorologista, favoreceu a concentração da nuvem no local. "Ela não consegue se dissipar, se dissipa desaguando. É uma nuvem baixa, que fica próxima do solo e se desenvolve verticalmente. Cria esse volume enorme de chuva", conta Marlene.

Na avaliação do professor de Meteorologia da Uerj, membro do Centro de Pesquisa de Desastres Naturais, Lucio Silva de Souza, a chuva, que já deixou mais de 50 mortos foi um evento extremo, mas não pode ser considerado atípico para o período. A precipitação, que provocou deslizamento de terra se dá em meio à Zona de Convergência do Atlântico Sul, que também se estabelecia nas tragédias que afetaram o Sul da Bahia e o Norte fluminense neste verão.
"De final de novembro até a primeira metade de abril, a gente sempre espera motivos severos de chuva no nosso estado. É uma estação chuvosa ampliada, em que todo meteorologista sabe que problemas podem acontecer. Foi uma chuva forte, um evento extremo, que ocorreu na época que se espera que ocorra. Não há nada de anormal", afirma o professor.

A Zona de Convergência do Atlântico Sul é um corredor de nebulosidade que vem da região amazônica ao sudeste do país. A coincidência do fenômeno com a passagem de uma frente fria no litoral do Rio de Janeiro, aliadas ao tempo úmido e quente, provocou a precipitação.

"A Zona de Convergência do Atlântico estava atuando do Rio até Goiás e Mato Grosso. Agora, a passagem de uma frente fria pelo litoral provocou um aumento no grau de instabilidade e essa chuva intensa. A Zona de Convergência confere um caráter instável. A abertura repentina do tempo, ou a passagem de uma frente fria, podem ser perigosos. Em termos meteorológicos, é um fenômeno comum", explica.

"Foi uma chuva muito forte. Já é o terceiro evento deste ano das Zonas de Convergência, depois das chuvas que atingiram o Sul da Bahia e o norte fluminense. Os últimos verões foram mais secos e não houve esses eventos", pontua.

A forte chuva que caiu na cidade de Petrópolis na tarde de terça-feira (15) deixou dezenas de mortos. As buscas por desaparecidos continuam e corpos são encontrados a todo o momento. Entre os mais de 171 pontos de deslizamento, o mais crítico é o do Morro da Oficina: parte da encosta foi abaixo durante a tarde e pelo menos 80 casas foram atingidas. O município decretou Estado de Calamidade Pública e os militares seguem trabalhando. Há previsão de mais chuva, com menos intensidade, para esta quarta-feira.